Apenas dois anos dividem as campanhas eleitorais de 2020 e 2022. E apesar do pouco tempo, o impacto foi significativo. Quando a gente entra nos bairros distantes do centro, eu sempre observo, procuro, mas não consigo encontrar mais nada que me cause impacto, surpresa ou alivie minha frustração. Chegamos ao fim de mais um período eleitoral e constato que meu pirulito já não rende mais como antigamente.
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Naquele milissegundo em que o diafragma da lente se abre e o obturador da câmera se fecha, quem você é não faz a menor diferença. Ninguém quer saber em quem o fotógrafo vai votar nas próximas eleições, no que ele pensa da pauta ou da estratégia, do que fez na vida ou do conhecimento acumulado que tem. Com a imagem feita, vamos embora e ninguém percebe, porque naquele raio de visão a gente não estava ali mesmo. E eu acho isso lindo.
A maioria das pessoas da minha geração queria morar sozinha para ter liberdade. Eu queria morar sozinho para comer pizza e hambúrguer todo dia. E coca-cola. Litros de coca-cola. Talvez a conta metabólica chegue aos 50, talvez amanhã ou talvez quando sair o resultado da próxima endoscopia, que pelos meus cálculos será a décima-quinta. A conta pode chegar parcelada, mas também pode chegar de uma vez só, me atropelando feito uma Scania desgovernada, passando por cima de tudo igual a uma jamanta sem freio.
A estrada ficou mais longa, as pessoas ficaram mais distantes. As reuniões continuam inúteis, os doguinhos continuam abandonados, o espetinho continua borrachudo, a pizza continua ruim e até os jagunços são os mesmos; pois agora são os filhos daqueles que há 25-30 anos sentavam ao meu lado com a faca na cintura.
Aquela pizza em 1997 me mostrou o verdadeiro valor do trabalho. Ou melhor, mostrou que eu precisaria trabalhar três vezes mais do que todo mundo. Naquele ano, o preço médio de uma pizza no Recife era de 10 reais. Algumas mais caras custavam entre 12 e 15 reais. Só que a melhor pizza de quatro queijos da cidade custava 33 reais.
Paulo Rebêlo Terra Magazine 03.agosto.2011 A gente nunca admite por vergonha, mas estamos quase sempre procurando – ou esperando – alguém para substituir algo que perdemos. Os amigos são os mesmos. Família, trabalho e problemas, também. Arquivos do acaso, alguém puxa o mesmo livro que o seu na prateleira da livraria e, sem ninguém lembrar direito como isso acontece, estão os dois sentados tomando um café, uma cerveja ou aquele copo de uísque sem gelo. Humanamente impossível não passar pela cabeça dela, sequer por um segundo: será que ele vai me ajudar a esquecer…? Quando o ‘ele’ em questão é você, é melhor suspender as ilusões platônicas e mandar trazer o gelo. Porque em momentos assim, tudo que nós precisamos ser é alguém para ajudar a colocar uma pedra naquela cicatriz meio aberta, meio fechada, mas exposta o suficiente para ela não ter mais se interessado de verdade por ninguém. Até agora. É quando nos tornamos uma espécie de cópia de segurança psicológica. Afinal, ela tem todos os motivos do mundo para não precisar conhecer, e muito menos se interessar, por gente nova. Não faz diferença há quanto tempo acabou o casamento ou o namoro. Importa que ninguém conseguiu preencher,
Paulo Rebêlo Terra Magazine * 19.abril.2011 Talvez uma meia dúzia dessas mulheres fantasmas eu nunca mais encontre na vida, sequer sei se ainda estão vivas diante de sumiços repentinos. Uma outra meia dúzia de fantasmas desapareceu conscientemente, por um motivo ou outro, cada uma com suas razões nem sempre racionais ou explicáveis. Ou simplesmente porque casaram e acham melhor evitar certos encontros. Em comum, a todas elas, é claro que gostaria de encontrá-las uma vez mais. Não para prosseguir com histórias de um passado tão distante, mas apenas para agradecer o quanto elas nos ensinaram, independentemente do tempo de convívio. Uma das fantasmas mais doces que conheci, decerto, desapareceu do mesmo jeito que surgiu – do nada, feito aparição – e assim instalou-se na minha memória até hoje. Ela era piloto em São Paulo, fato que achei exótico e curioso por si só. Tão linda a ponto de me deixar encabulado todas as vezes em que nos encontramos, fosse para tomar um café depois do expediente ou matar a fome nas padarias 24h da paulicéia desvairada. Por tantas vezes me peguei pensando por que ela perderia tempo, noites assim, com um barrigudinho que mal conhecera, que estava sempre de passagem e, ainda