Paulo Rebêlo
Terra Magazine *
08.fevereiro.2011
Eu aceito – e entendo – quando ninguém do hemisfério norte acredita que sou brasileiro. Com a benção do futebol e das globelezas, os estereótipos de 500 anos seguem firmes e fortes por mais 500.
Só nunca vou aceitar – e nem entender – como o Brasil tem metade da população de cor branca e, a esta altura do campeonato, já com meus primeiros fios brancos da barba à paisana, eu ainda precise explicar que não sou gringo.
Jogue-me no pelourinho ou na praia. Em qualquer ponto turístico. Até no Piscinão de Ramos. Se eu não fosse tão baixinho e buchudinho, sairia no tapa com o primeiro cidadão que tenta me vender uma rede fuleira por duzentos reais ou um acarajé seboso por cinco euros.
Quase nunca vou à praia. Pelo mesmo motivo que não como caranguejo. Não é alergia, é apenas preguiça. De me explicar pela milionésima vez e de bater o martelinho mil vezes.
Quando vou a qualquer praia, basta puxar meu Sundown fator 50 ou tirar minha camisa de botão. Parece uma sirene do Samu, o vendedor vem correndo em minha direção. Para oferecer uma caipirinha.
Aparentemente, vendedor de praia não percebe que por trás daquela montanha de gordura multi-localizada e daquele peitoral cabeludo também com os primeiros fios brancos, está um cidadão brasileiro, mocorongo e bicho do mato.
Branquelo e de chapéu, sim, mas gringo, não.
Sou obrigado a sacar da minha cartola-panamá a mesma ladainha: caipirinha é para moça e caipirosca é para donzelo. Agora chispa daqui e passa amanhã porque hoje acordei de ovo virado.
É, parece engraçado, mas nem é. Porque às vezes acontece de o mané cair na risada e achar que é brincadeira minha e insistir na caipirinha. Um gringo metido a piadista e que estuda português.
Apelo para medidas drásticas: pedir uma garrafa de Natu Nobilis. Só assim para matar (além do fígado) a ideia insana da caipirinha. Porque ele deve saber que o único gringo que tomou Natu Nobilis na praia, provavelmente, não deve ter sobrevivido à segunda golada para contar história.
E pior do que ser confundido com gringo é ser confundido com gringo rico. Seja nos bairros chineses, nas feiras públicas ou nos mercados municipais, qualquer bagulho terá um ágio de 500% no preço.
O tempo que eu perco pechinchando e falando “oxe” e “qualé, véi” para só entãoa criatura entender que está lidando com um de seus pares, me faz ter preguiça de perguntar o preço até da dose do nobilíssimo Sir Natu Nobilis.
Sempre pensei que meu problema fosse um problema de hemisfério – não da barriga, mas da geografia. Mas aqui ao Sul da América a coisa não muda muito de figura.
Claro, ninguém duvida que sou brasileiro quando abro a boca para falar portunhol, mas agora que nós brasileiros viramos os “imperialistas” da América do Sul e nossa moeda já vale mais do que todas as outras juntas, o garçom sempre fica esperando uma gorjeta maior.
Não sabe ele, coitado, que no Brasil nosotros não damos gorjeta.
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