Jumento-biblioteca é sensação em Amaraji

Projeto cultural Livros Andantes começa a funcionar hoje com a proposta de aproximar os moradores da Zona da Mata Sul do mundo literário

Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco
15.março.2009

Enquanto os livros não criam asas, eles podem chegar de jumento para satisfazer a curiosidade de vários povoados rurais onde, de outro modo, ninguém teria acesso aos clássicos da literatura nacional e estrangeira que mudaram a vida de tanta gente na cidade grande. Por enquanto, o único município contemplado com esses jumentos-bibliotecas é Amaraji, a 90 km do Recife, na Zona da Mata Sul do estado.

A partir de hoje, quem estiver de passagem pela região – vindo das redondezas de Chã Grande, Primavera, Ribeirão, Cortês ou Gravatá – deve redobrar a atenção no trânsito. Espalhados na zona urbana e rural de Amaraji, os jumentos estarão equipados com o que há de mais refinado e produtivo culturalmente: livros. De todos os gostos, pesos e tamanhos. Se depender dos donos destes jumentos do saber, os 20 mil habitantes de Amaraji podem ficar certos de que ainda há muito caminho pela frente. Vão dividir espaço com a cana-de-açúcar, abacaxi, mandioca, borracha, banana, batata-doce e laranja – produtos típicos da agricultura do local.

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Ao utilizar os animais mais característicos da zona rural como forma de aproximar as pessoas do mundo literário, o projeto Livros Andantes promete mudar o cenário de isolamento destes municípios. Na visão de Clara Angélica, idealizadora do projeto que se inicia esta semana, pode-se esperar até mesmo um maior desenvolvimento social, separando um pouco as pessoas de universos ruins como o álcool e as drogas.

A proposta é que os livros fiquem disponíveis para empréstimo ou para leitura nos locais de passagem dos jumentos. Hoje, por exemplo, rodas de educadores vão promover a idéia das bibliotecas ambulantes com leituras abertas no centro da cidade. São pelo menos 100 livros amarrados no caçuá e com paradas programadas em povoados. A cada pausa, é hora de sentar, ouvir histórias e eventualmente uma dramatização dos textos. Ao final de três meses, os caçuás serão doados às escolas de cada povoado em Amaraji, dando início a uma biblioteca comunitária.

Livros Andantes é apoiado pelo Funcultura e pela Prefeitura de Amaraji, mobilizando 300 professores da rede municipal e estadual de ensino. Em um momento posterior, a proposta de Clara Angélica é universalizar o projeto usando os meios de transporte disponíveis no interior. “Pode ser barco, bicicleta, qualquer coisa. Aqui em Amaraji estamos iniciando este projeto-piloto com a esperança de que se amplie”, aposta.

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