Pax Spiritus

Acho que nunca vi um filme da Lindsay Lohan e não escuto a menor graça na Amy Winehouse. Mas tenho simpatia pelas duas, só por causa da mobilização mundial em relação ao que elas bebem da vida. Da sua bisavó à netinha de cinco anos, sempre vão condenar a coitada da Winehouse por não ter limites. Na minha religião, o céu é o limite. E as pessoas deixam as outras pessoas beberem em paz. Se você quer fazer sua Despedida em Las Vegas bebendo até morrer, vá em frente e não prejudique ninguém. Eu até pago as primeiras rodadas, só para manter distante a família de olho na herança, os amigos que nunca estavam lá quando você realmente precisava e as revistas de fofoca que todo mundo diz que não lê, mas decora página a página. É uma paranóia parecida com aquele pessoal que às 10h da manhã olha para a garrafa de uísque e não tem coragem de descer uma dose porque acha feio ou socialmente errado beber pela manhã. Tomo uma cerveja de trigo quando acordo às 11h ou um suco de laranja com cinco dias de atraso? Qual dos dois tem mais vitaminas? E no domingo, esquento

leia mais

Cervejeiros de araque

Não entendo nada de futebol. Nem de matemática. Mas entendo um pouco de cerveja. Daí minha dificuldade de levar a sério o Dunga como profissional de qualquer coisa. E tantos outros aratacas. Há duzentos anos não vejo ninguém pedir uma Brahma na mesa de bar. Agora todo mundo é brameiro. Tire o ‘h’ da marca e consulte pai Aurélio. Não é o Miguel. De futebol não entendo se a escalação do Brasil é boa ou ruim, nunca ouvi falar de metade dos jogadores. Conheço o Grafite, jogou na minha terra pelo Santa Cruz (2001-2002), time hoje confortavelmente situado na disputada Série D do Campeonato Brasileiro. De matemática, não entendo se é humanamente possível uma pessoa faturar uns 500 mil reais por mês e sentir qualquer diferença se ganha ou perde um jogo de futebol. Aqui ou além-mar. Mas, de cerveja, entendo o mínimo para não levar a sério ninguém que se prontifica a me dizer que cerveja ruim é cerveja boa como se eu tivesse nascido ontem do cruzamento de um ministro da TFP com uma missionária Jeová. Num país onde ninguém lembra quem colocou para mandar na vida da gente no Senado, essa história de brameiro e guerreiro é um

leia mais

O monstro do Lago Paranoá

Paulo Rebêlo Terra Magazine 23.março.2011 Voltar a nadar foi uma das decisões mais acertadas que tive nos últimos tempos, se não fosse pelas crianças. Dos outros. Por não ter horário fixo e chegar em qualquer horário, imaginei que poderia dar minhas braçadas em paz, sem distrações e sem concorrer com ninguém. A mocinha da secretaria tentou me alertar sobre elas, mas foi em vão. No primeiro dia da coincidência de horários, fui fazer meu alongamento normalmente, mas agora estava diante de todo aquele barulho infernal típico de quando várias crianças estão na piscina brincando. Fiquei com vontade de jogar ácido muriático na água, mas depois pensei melhor e deu até pena. Não das crianças, mas dos pais. Naquele estabelecimento, aparentemente só tocam dois CDs: um da Ivete Sangalo (Ao Vivo em Salvador) e outro de uma compilação bate-estaca dos “Baladeiros de Goiânia”. Está escrito na capa do CD, tive que ir lá conferir para ter certeza que não estava delirando. Fui cobrar um desconto na mensalidade (por insalubridade e sanidade mental) e as professorinhas de maiô entrando na bunda me acharam um tiozinho muito engraçadinho, como se tivesse contado uma piada. Se eu soltasse uma piadinha de verdade sobre o

leia mais

Miles Davis // 50 anos de Kind of Blue

Relíquia para os amantes do jazz e de Miles Davis chega ao país com oito meses de atraso Paulo Rebêlo Diario de Pernambuco 19.abril.2009 Não é de hoje que artistas se tornam ícones de uma geração ou de um estilo musical. Curioso é quando um simples álbum com somente cinco músicas, gravado em apenas duas sessões, sem produção e sem pretensão de absolutamente nada, transcende o próprio artista e sua carreira. Assim é Kind of blue, o mais conhecido (e vendido) disco de Miles Davis. Com oito meses de atraso, finalmente chega ao Brasil a edição especial de 50 anos de lançamento. Uma relíquia para poucos. Lançado em setembro do ano passado nos Estados Unidos, a caixa comemorativa é um verdadeiro luxo. Além de dois CDs com diferentes versões das cinco músicas originais – So what, Freddie Freeloader, Blue in green, All blues e Flamenco sketches – e gravações até hoje inéditas, a caixa traz um LP de 180 gramas (isso mesmo, disco de vinil), um pôster gigante, um DVD para colecionadores contendo cenas de making-off e a biografia de Miles, um livreto com textos escritos por especialistas e inúmeras fotos da segunda sessão de gravação do álbum histórico. Infelizmente,

leia mais

Do São Francisco ao Capibaribe

CULTURA POPULAR // Grupos Caçuá e Bongar se unem para manter vivas tradições dos griôs Paulo Rebêlo (texto/fotos) Diario de Pernambuco 05.abril.2009 Griô é um caminhante, educador, poeta, contador de histórias. Às vezes, até mediador político. Antes de mais nada, mestres griôs são artistas populares. Carregam na memória as artes seculares, ensinadas por antepassados africanos, cada vez mais esquecidas pelos jovens. Do rio São Francisco, desde a foz no estado de Alagoas, eles cantam, dançam, produzem, contam histórias e querem mostrar um pouco do que sabem aqui no Recife. Hoje, o auditório da Livraria Cultura recebe às 17h a fusão de duas sonoridades distintas, a partir de um curioso projeto do Grupo Bongar, de Olinda, aliado ao Grupo Caçuá, da cidade alagoana de Piaçabuçu, a 140 km de Maceió. O Bongar nasceu de um trabalho musical realizado desde 2001 pelo vocalista Guitinho da Xambá, nascido e criado na comunidade Quilombola Xambá – considerado o único povoado desta linhagem africana no Brasil. O Caçuá, por sua vez, surgiu da necessidade de manter vivas as tradições esquecidas, seja por meioda música, do teatro ou artesanato alagoano. Juntos, os dois grupos resolveram investir na convivência com os mestres griôs. Ouvir as histórias, aprender

leia mais

Site Footer

Sliding Sidebar

Arquivão