CULTURA POPULAR // Grupos Caçuá e Bongar se unem para manter vivas tradições dos griôs
Paulo Rebêlo (texto/fotos)
Diario de Pernambuco
05.abril.2009
Griô é um caminhante, educador, poeta, contador de histórias. Às vezes, até mediador político. Antes de mais nada, mestres griôs são artistas populares. Carregam na memória as artes seculares, ensinadas por antepassados africanos, cada vez mais esquecidas pelos jovens. Do rio São Francisco, desde a foz no estado de Alagoas, eles cantam, dançam, produzem, contam histórias e querem mostrar um pouco do que sabem aqui no Recife.
Hoje, o auditório da Livraria Cultura recebe às 17h a fusão de duas sonoridades distintas, a partir de um curioso projeto do Grupo Bongar, de Olinda, aliado ao Grupo Caçuá, da cidade alagoana de Piaçabuçu, a 140 km de Maceió.
O Bongar nasceu de um trabalho musical realizado desde 2001 pelo vocalista Guitinho da Xambá, nascido e criado na comunidade Quilombola Xambá – considerado o único povoado desta linhagem africana no Brasil. O Caçuá, por sua vez, surgiu da necessidade de manter vivas as tradições esquecidas, seja por meioda música, do teatro ou artesanato alagoano.
Juntos, os dois grupos resolveram investir na convivência com os mestres griôs. Ouvir as histórias, aprender suas músicas, trocar experiências. O coco, a ciranda, o maracatu, o caboclinho, o frevo e o candomblé integram essa troca, e o resultado é uma fusão de universos culturais, entre Pernambuco e Alagoas, com batidas características do São Francisco.
Estudante de Ciências Sociais na UFPE, Guitinho do Xambá admite que nunca imaginou a riqueza de conhecimento que teria pela frente e em tão pouco tempo. Foram dois encontros em 2009, em que cada integrante contou um pouco de sua história e mostrou sua musicalidade. Foram ensaiando, treinando, o espetáculo começou a tomar forma e a apresentação conjunta ocorreu inicialmente em Piaçabuçu e em Penedo, no fim de semana passado.
E atinge o auge agora, no Recife, quando Linete Matias, Jasiel Martins, Jéssica dos Santos, Mira Dantas e Jailton Cazuza, todos de Piaçabuçu, chegam ao Recife para tocar junto com o Bongar e ajudar nas oficinas e divulgação das atividades no terreiro da Xambá. “É engraçado, os acadêmicos se apressam em taxar as pessoas quando elas são analfabetas, simples, como é o caso de muitos dos mestres griôs que a gente conheceu pelo caminho. Mas basta você conviver um pouco com eles, e aos poucos a gente conclui que os analfabetos somos nós”, desabafa Guituinho, entre um ensaio e outro.
Para acompanhar o Caçuá, eles estão trazendo Mestre Pagode, famoso por fazer círculos e passar horas contando histórias da vida na roça e das trapalhadas em que se meteu durante a vida. Depois da apresentação na Livraria Cultura, a aposta dos grupos é investir ainda mais na convivência e no intercâmbio cultural, em shows ou oficinas, com apoio de ONGs e editais.
Em março, o grupo conseguiu aprovar o Tem preto na tela pela Fundarpe, um projeto que prevê oficinas de formação profissional em vídeo, nas áreas de roteiro, edição e finalização para os jovens da comunidade Xambá. Saiba mais sobre as atividades dos grupos em www.myspace.com/grupobongar