Paulo Rebêlo | 26.junho.1998
Com o lançamento oficial do Windows 98, o comércio e os usuários estão cada vez mais afoitos e ansiosos. Para quê? Para comprar, talvez. Um novo sistema operacional está prestes a vir a tona. Mais potência, mais interação, mais tecnologia, mais velocidade. Essas são as promessas da Microsoft. Menos dinheiro no bolso também.
Usuários de todo o globo já compraram o produto através de revendedoras autorizadas e até mesmo através de reservas no site da empresa. Muitos desses nem mesmo conhecem a “cara” do novo Windows, e menos ainda sabem o que ele traz de novidade e se realmente são úteis. Pior ainda, muitos não sabem nem ao menos definir o
que se difere em relação ao Windows 95 e quais os benefícios desta “salgada” atualização.
Poucos são os que pararam para pensar o que estão fazendo ou o que pretendem fazer. Assim como em tantas outras ocasiões – ou seja, não apenas na informática – diversos usuários se vêem pressionados pela mídia e pela propaganda à compra imediata do Windows 98 assim que esteja disponível em sua cidade, mesmo omitindo quais os benefícios, sendo empurrados apenas pelo “slogan”.
Como já foi visto em matérias anteriores, o novo sistema operacional da Microsoft é obrigatoriamente mais pesado do que seu antecessor. Logo, a primeira coisa a se pensar é se você realmente possui uma máquina apta a obter um resultado satisfatório. Processadores inferiores a Pentium MMX perceberão rapidamente a perda de performance quando comparadas com seu antecessor. Enquanto 32MB de RAM fazem o Windows 95 “voar”, para o Windows 98 é o mínimo para não perder muito em velocidade, assim como é para o Windows NT 4.0 (Workstation).
Os aplicativos são abertos mais rapidamente, independente de sua máquina? Não se iluda. Aplicativos esses chamados Internet Explorer e Ms-Office, que já possuem diversos módulos automaticamente carregados apenas em ligar o computador. O fato é que o Windows 98 foi otimizado para ser usado em máquinas novas, preferencialmente com seu pacote de aplicativos como sendo o carro-chefe de determinado usuário ou empresa. Isso é perceptível apenas no uso diário, sem a necessidade de testes complicados ou programas de benchmark.
O Windows 98 é dotado de alguns novos utilitários de disco, uma interface mais agradável e delicada, um melhor suporte a hardware e a opção de ser atualizado (leia-se: corrigir futuros bugs) através da Internet. Mas, e daí? Seu atual sistema operacional está funcionando bem, com os drivers específicos, seu trabalho está sendo feito de uma forma produtiva e rápida (de acordo com sua intimidade com os programas), a uma velocidade equivalente ao que computador pode oferecer e seu acesso à Internet está dentro das capacidades de seu modem em conjunto com seu provedor. Tudo isso, em um 486 ou Pentium (75, 100, 133, 166… Mhz). Valerá a pena desembolsar aquele dinheiro para simplesmente “atualizar” seu sistema e, a depender, podendo até mesmo perder performance?
Afinal de contas, para os que usam atualmente o Windows 95 junto com o Internet Explorer 4.0 – e modificou o ambiente de trabalho – perceberão que as diferenças são mínimas, podendo chegar até mesmo a irrelevância em alguns casos. Praticamente, uma atualização qualquer. Atualização mais cara, mais pesada, e que ocupará algo em torno de 250MB de espaço em disco.
O novo Windows possui um Dial Up mais sofisticado. Traduzindo, melhora seu acesso à Internet, genericamente falando. Teoricamente também. Usuários “normais” utilizam-se de uma linha telefônica e um modem, seguido de um provedor que nem sempre atende com serviços a altura do que recebe para prover o acesso. Além disso, nossas atuais linhas ditas como “digitais”, nem mesmo possuem a tecnologia necessária para a sua obrigação mínima e óbvia: atender a velocidade de que o modem é capaz. Basta comprar um modem de 56k e perceber que um pouco do dinheiro foi jogado fora. Ou melhor, cedido gentilmente para a empresa telefônica, que nos fornece um serviço suficientemente bom para nos desconectar habitualmente, entre outras dores de cabeça.
Ainda assim, a maioria de nossas linhas são analógicas, bem piores. Mesmo as “digitais” não se farão perceber de alguma mudança no Dial Up do Windows 98.
O Windows 95 segue atualmente em sua versão 4.00.950C, vulgo OSR 2.5 – ou 3, para alguns. Versão esta que possui todos (?) os bugs corrigidos, as atualizações necessárias, suporte a USB, assim como novos hardwares em geral e, a gosto do usuário, o IE 4.0 para complementar a festa. Agora o detalhe: a performance continua a mesma, ou seja excelente. Em um “simples” Pentium 133 com 32MB de RAM, os problemas com velocidade acabam. Mesmo em um 486, mas também com 32MB de RAM, o resultado não é muito diferente. Para os que ainda possuem apenas 16MB, é hora de atualizar e ficar satisfeito com o grande ganho de performance em seu “quatrão- bom-de-briga”. São resultados que tornam-se impossíveis no Windows 98, com as mesmas máquinas.
É hora de pesquisa. Não, não é pesquisa de preço ou melhores formas de pagamento para comprar o Windows 98. A hora é de pesquisa sobre informações, com pessoas do ramo – de preferência que não trabalhem para a Microsoft – ou que já usem o sistema, para saber se realmente vale a pena esvaziar um pouco mais o bolso.
Comprar (ou simplesmente instalar) o produto sem antes saber o que lhe trará de bom, de melhoras para seu trabalho e/ou lazer ou até mesmo de “compatibilidade” entre usuário/máquina, é suicídio. Se não houver um retorno satisfatório de sua parte como usuário (ou vítima), a aquisição passará a ser uma doação. É como comprar aquele carrão com câmbio automático sem nunca antes ter dirigido sem a necessidade de usar a embreagem.
Se não tivermos cuidado, poderemos continuar nesse processo por tempo indeterminado, pagando por humildes atualizações em nossos sistemas. Pode até ser razoável… desde que tenhamos sempre máquinas poderosas e uma maior dose de paciência.
Se a moda pega, não será de se espantar quando, mesmo comprando o produto na loja autorizada, tivermos de ceder o número de nosso cartão de crédito na hora de ligar para o suporte técnico ou simplesmente enviar um email para a empresa sobre alguma possível dúvida ou sugestão.