Windows Vista: o que você precisa saber antes de atualizar

Paulo Rebêlo
UOL Tecnologia – 11.nov.2006 (link original)

Cinco anos depois de lançar o Windows XP, o sucessor Windows Vista está pronto e a Microsoft garante que todo mundo vai querer usar. Será? Antes de procurar saber quais são as novidades e quão bonito é o visual, o usuário deve primeiro entender as mudanças conceituais oferecidas pelo Vista —fatores que realmente vão influenciar seu dia-a-dia na frente do computador, como ferramenta de trabalho ou diversão.

O Vista começa a ser vendido apenas no final de janeiro de 2007, porém, a partir deste mês muita gente já vai usar em máquinas corporativas. Em dezembro, algumas fabricantes poderão vender computadores novos com o Vista pré-instalado.

Para o usuário final, o Windows Vista é um paradoxo. Em termos de recursos e novidades, não chega a ser metade do que a Microsoft prometeu durante os cinco anos de desenvolvimento; e continua a falar hoje. Por outro lado, em termos de usabilidade e experiência de uso, o impacto que o Vista causa – naqueles usuários habituados a versões anteriores – pode assustar um pouco e, quem sabe, não agradar em nada.

O Windows Vista apresenta quatro pilares que fazem a diferença em relação às versões anteriores. Cada pilar tem dois extremos. Quando um pilar maximiza uma determinada experiência de usuário, ao mesmo tempo ele tende a minimizar outro tipo de experiência. É como um jogo de perdas e ganhos. Quando você estica de um lado, a outra ponta diminui. E foi exatamente o que a Microsoft fez. Os quatro pilares são:

Beleza <> Usabilidade
integração
<> Compatibilidade
Resultados
<> Personalização
Performance
<>
Hardware

beleza vs. usabilidade

O primeiro impacto do Vista é o visual, realmente atraente e com recursos nunca antes conhecidos na plataforma Windows. Além de poder trabalhar em um ambiente de trabalho tridimensional (3D), você tem janelas translúcidas de verdade, papéis de parede de tirar o fôlego e toda uma série de cores e animações que empolgam.

Essa maximização da experiência visual, contudo, trouxe uma minimização de usabilidade para usuários mais experientes ou todas aquelas pessoas que se acostumaram a trabalhar com a interface clássica do Windows, cujo alicerce é basicamente o mesmo desde o Windows 95. A transparência das janelas às vezes atrapalha sua produtividade, principalmente se você estiver usando várias delas abertas. Na hora de mudar de uma janela para outra, é comum você clicar no lugar errado e não chegar onde deseja —quando a janela está próxima da barra de tarefas, por exemplo.

Quem navega muito na Internet, já se habituou a usar o botão de “Voltar” do browser. No Vista, o botão de “Voltar” é constante em todas as janelas, ali em cima do lado esquerdo e, às vezes, substitui o clássico botão de “voltar” que ficava antes do “próximo” em janelas simples de instalação de softwares ou configurações do sistema. Vai levar um tempo até se acostumar. Fora isso, são vários pequenos detalhes que, apenas depois de um mês ou mais de uso diário, você começa a prestar atenção. Afinal, o Vista não é tão simples de usar quanto a Microsoft diz.

O usuário sempre tem a opção de esquecer o visual arrojado do Vista e configurar para a interface clássica. Nossa sugestão, para quem realmente passa horas na frente do PC, trocando de janelas várias vezes, é optar pelo tema “básico” do Aero, quando você ainda terá um ambiente mais bonito, mas sem transparências exageradas, sem ambiente tridimensional e sem janelas translúcidas. Mesmo assim, boa parte dos pequenos detalhes (negativos) de usabilidade continuarão.

integração vs. compatibilidade

É fato. A cada nova versão do Windows, a Microsoft integra ao sistema operacional várias soluções da empresa e entrega ao usuário logo na instalação. Apesar disso ter causado processos judiciais no mundo inteiro, a Microsoft parece não ter ligado muito.

Com o Vista, a integração do sistema operacional às ferramentas Microsoft foi maximizada ao extremo, de um jeito que pode assustar o usuário experiente, ao mesmo tempo que tende a agradar a maioria dos usuários novatos. Afinal, se você tem o Windows com quase todas as ferramentas que precisa no seu dia-a-dia, não há necessidade prática de procurar na Internet e fazer o download de ferramentas desenvolvidas por outras empresas. É assim que “pensa” o Windows Vista.

Além dos óbvios Internet Explorer 7 e Windows Media Player 11, quase todos os programinhas lançados pela Microsoft são instalados em versões melhoradas. O Windows Defender (antispyware) está lá, até pode ser desativado, depois de o Windows lhe perguntar duas vezes se você realmente quer “deixar seu computador desprotegido de ameaças e spywares”.

Para quem trabalha com grande volume de arquivos e habitou-se a usar programas de localização rápida, como o Google Desktop Search ou o Yahoo Desktop Search, o Vista traz embutido o Microsoft Desktop Search. É basicamente a mesma ferramenta disponível para download gratuito para o XP. Ou seja, em tese, você não vai precisar se “preocupar” com isso. Tem ainda o cliente de e-mail (Windows Mail) que substitui o Outlook Express, o DVD Maker (edição de vídeos), um software de conferência, um programa de calendário e agenda… a lista é longa.

A integração entre as ferramentas Microsoft e o Vista, obviamente, é perfeita do ponto de vista técnico. Graças à integração, esses programas (Defender, Media Player, IE, Messenger etc.) ficam mais rápidos e acessíveis. O mesmo vale para gravações de CDs e DVDs, agora perceptivelmente melhor do que no Windows XP. Para a imensa maioria dos usuários, não será nem preciso instalar um aplicativo de gravação, como o Nero ou Easy CD Creator.

Por outro lado, o quesito compatibilidade tende a ser minimizado para quem gosta de usar programas de outras empresas. O próprio vice-presidente da Microsoft, Jim Allchin, disse em entrevista recente que, hoje, o Vista “não precisa de antivírus” graças ao controle de contas de usuários melhorado.

Em resumo, o Vista é um prato cheio para quem gosta das ferramentas Microsoft e as usa hoje no Windows XP. Você terá uma experiência melhor e mais rápida. Para quem prefere optar por softwares diferentes, pode ser um problema. Os outros softwares podem ser instalados normalmente, a maioria funciona. No entanto algumas pessoas ficarão com aquela “leve” impressão de que eles estão mais “pesados” e sobrecarregando o sistema operacional.

resultado vs. personalização

Política de resultados. É um termo bem corporativo, mas é o que o Windows Vista lhe oferece, em troco de lhe tirar várias pequenas opções de modificar o sistema para seu gosto pessoal.

Ao instalar o Vista, supostamente o produto está pronto para uso. Não é preciso se preocupar com segurança (firewall e antipsyware estão ativados automaticamente), com performance (configurada na instalação de acordo com os requisitos do seu computador) e com visual, que é aquela belezura que falamos anteriormente.

Ocorre que a política de resultados da Microsoft vai tirar muita gente do sério. Quem gosta de personalizar o Windows e deixá-lo com a própria cara, vai ficar perdido no mar de opções disponíveis no Painel de Controle. Operações simples como, por exemplo, mudar o papel de parede, mudar o padrão de cores, configuração do teclado, opções de performance, entre outras, ficaram mais distantes do usuário.

O Painel de Controle é gigantesco, são dezenas de ícones novos e boa parte não tem utilidade para 90% das pessoas. Se antes você só precisava de dois cliques para chegar a um lugar, agora você pode precisar de quatro.

A Microsoft garante que o Vista é um sistema “extremamente mais fácil” de usar. Talvez. Para personalizar, porém, a história é outra. Usuários mais experientes vão levar, pelo menos, uma a duas horas para deixar o sistema do jeito que gostam —apenas alterando as configurações originais do produto, sem instalar nenhum software.

A imensa quantidade de utilitários e ferramentas integradas da Microsoft, em contrapartida, vão lhe tomar um precioso espaço em disco —quase 10 GB, o sistema operacional inteiro. E você não tem como se livrar deles.

A quantidade de opções de personalização são bem maiores do que no Windows XP, mas boa parte é inútil ou até difícil de encontrar. Pelo que acompanhamos no desenvolvimento do Vista, os programadores tentaram maximizar a experiência de uso para o usuário leigo, não é preciso mexer em configuração alguma. E, com isso, minimizaram a experiência de quem está habituado a usar um Windows personalizado. O novo sistema de controle de usuários (User Account Control) e a subdivisão de cada item na configuração do visual são simples exemplos desse contraste.

performance vs. hardware

Aqui chegamos ao nó-cego do Vista. Em termos concretos: sim, o Vista é mais rápido e tem uma performance-geral superior ao XP —desde que você tenha uma super máquina para tal. Parece uma afirmação óbvia, mas não é. O que acontece com o Windows Vista é que o código do sistema é otimizado para aumentar a performance do Windows de modo progressivo. No entanto, para tirar proveito das benesses, só quem possui uma máquina suficientemente boa é quem vai lucrar.

Entender a diferença é simples. Se você tem 1 GB de memória RAM, o Vista vai conseguir gerenciar esse espaço de um jeito melhor do que no XP. Se você tiver menos, é melhor esquecer o Vista por enquanto. É mais ou menos o que ocorreu entre Windows 98 —que tinha um péssimo geranciamento de memória— e o Windows 2000. Os requisitos mínimos que a Microsoft estipula são uma falácia, não leve em consideração. Instalar o Vista com menos de 1 GB de RAM só vale a pena se você realmente quer experimentar a novidade pela aventura. Para o uso diário, com produtividade similar ao XP, o mínimo é 1 GB de RAM.

Para jogar e ter boa performance, reflita sobre 2 GB de RAM —e lembre-se que a memória precisa ser rápida, no mínimo 400 MHz. Hoje, você encontra fácil no mercado pentes de memória de 533 Mhz e, se tiver sorte, de 667 Mhz. O problema é encontrar um vendedor que saiba a diferença.

O Vista consegue maximizar os novos recursos de multi-processamento (chips com mais de um núcleo), enquanto o XP ainda tenta aprender. Os discos rígidos mais recentes, também, são exigidos ao máximo pelo sistema operacional, oferecendo uma velocidade superior de operações simples como copiar e mover grandes volumes de documentos. Por outro lado, hardwares antigos (ou até recentes) serão minimizados em relação ao XP —apesar de a Microsoft jurar que o código do Vista atende às duas situações.

Sistema “aprende” hábitos
O recurso Superfetch do Vista é uma das grandes sacadas no quesito performance. Ele “aprende” os hábitos do usuário, os horários que você carrega seus softwares prediletos e que tipo de uso você faz do computador. Com isso, os arquivos são alocados na memória para um acesso mais rápido. Acontece que o Superfetch exige um bom disco rígido e memória RAM para se tornar imprescindível.

Outra novidade é o ReadyBoost. É um tipo de memória cache que você pode usar no seu pen drive, desde que o deixe ligado enquanto usa o Vista. De acordo com a base de dados da Microsoft, o Readyboost agiliza operações simples de disco, sendo uma espécie de suporte para a memória RAM e o para o arquivo de troca (swapfile). O problema? Primeiro, nem todos os pen drives suportam o recurso, apenas aqueles modelos mais rápidos/novos. Segundo, é que até agora ninguém conseguiu provar, de fato, o quanto o Readyboost ajuda em performance. A Microsoft garante que até 15% em alguns tipos de operações de disco. Para o usuário final, a diferença é simplesmente imperceptível em qualquer situação. Quem gostou da novidade foram as fabricantes de pen drives.

Na interface, o hardware novo também é essencial. Quem tiver placa de vídeo lenta, não vai poder experimentar o visual translúcido do Vista. Até pode, em algumas ocasiões, a troco de uma performance sofrível de tão lenta.

E por fim, os jogos. Quem adora um joguinho, mais cedo ou mais tarde precisará migrar para o Vista. O DirectX 10, biblioteca gráfica do Windows, não vai ter versão para o Windows XP. Novas placas de vídeo DX10 começam a ser lançadas no mercado e, com elas, virão os jogos. Os primeiros devem aparecer ainda em dezembro. Halo 2, por exemplo, será exclusivo do Vista. Outros também serão lançados na plataforma única do DirectX10, como a continuação do FarCry para PC.

Os jogos de hoje, quando rodados no Vista, também seguem a diretriz de perdas e ganhos. Com um bom hardware, a performance tende a melhorar. Com o seu hardware médio de hoje, esqueça. É melhor continuar jogando no XP.

Durante o ano de 2007, conforme o Vista se tornar o padrão de sistema operacional no lugar de XP, talvez não haja saída além de atualizar. A gama de hardwares novos já começa a chegar otimizada para o Vista, deixando o XP para trás. E o velho ciclo entre hardware e software recomeça.

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