Biden e Palin se enfrentam

Eleições americanas // Debate de hoje entre os candidatos à vice-presidência pode mudar o rumo da campanha e ajudar os indecisos

Paulo Rebêlo
Diario de Pernambuco – 02.outubro.2008

Após o fiasco do primeiro debate entre os presidenciáveis Barack Obama (Democratas) e John McCain (Republicanos) na televisão, são os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos que carregam as principais apostas para o eleitorado indeciso. Hoje à noite, a CNN transmite às 22h o único debate da campanha entre os polêmicos Joe Biden, 65, vice de Obama; e Sarah Palin, 44, de McCain.

Diferentemente das eleições brasileiras, a importância e a independência dos vices são fundamentais para consolidar o humor dos eleitores na reta final de campanha. Não à toa, para Sarah Palin, o debate representa bem mais do que uma atividade eleitoral. Seu futuro como vice de McCain está em jogo.

Considerada o maior trunfo republicano ao ser anunciada como vice, hoje a governadora do Alasca coleciona inimigos e opiniões antipáticas por todos os lados, inclusive, dentro da própria equipe de McCain. Em grande parte, por conta do seu temperamento “barraqueiro” e por vezes impulsivo, seja nos discursos públicos ou pelas entrevistas à televisão.

Aposta dos republicanos para conquistar o eleitorado feminino e parte do público conservador, Palin tem se mostrado “pouco culta” em matérias consideradas importantes para o debate de hoje, como economia e política externa – justamente, as principais cartadas do experiente Joe Biden.

Por outro lado, Biden não fica tão atrás em matéria de suspense para o debate da CNN. Considerado um “agressivo fora do tom” e por vezes machista, o vice tenta se isolar com sua equipe até os minutos finais, no que os americanos têm chamado de processo de “domesticação” para que ele não suba o tom das críticas e pareça agressivo além da conta contra uma mulher de aparência frágil – bem diferente da senadora Hillary Clinton, certamente a pessoa que aguarda pelo debate de hoje com mais ansiedade do que qualquer outra.

Palin e Biden devem tentar reverter o embate morno entre Obama e McCain da semana passada, durante o primeiro de quatro debates até aseleições de novembro. Na ocasião, os dois apresentaram argumentos frágeis durante o auge da atual crise econômica americana. Enquanto Obama chegou a gaguejar várias vezes em frente às câmeras, ao vivo, McCain baixava os olhos e mostrava-se visivelmente encabulado quando questionado sobre os desmandos da atual gestão do presidente também republicano George W. Bush.

Futuro – A crise interna no Partido Republicano contra a atuação de Sarah Palin tem um fator adiconal quase mórbido. Aos 72 anos, se eleito, McCain será o presidente mais velho da história dos Estados Unidos. Nos bastidores da política americana, há o temor não-declarado de que ele pode não aguentar a pressão por todo o mandato e, caso ocorra uma fatalidade, seria Sarah Palin competente o suficiente para liderar o país?

Por essas e tantas outras suposições, o debate de hoje tende a ser a atividade mais quente nesta reta final de campanha. Inclusive, com mais audiência do que os próximos debates entre McCain e Obama. Oficialmente, McCain não baixa aguarda a favor de sua protegida. Em entrevista recente à rede CBS de televisão, acusou a imprensa de aplicar “pegadinhas” na candidata, forçando-a a cometer deslizes. Sobre as aparições e discursos públicos de Palin, contudo, nada falou. Até mesmo um ex-conselheiro de McCain, Mike Murphy, já admitiu aos jornais ter sido uma escolha errada o nome de Palin.

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