O senhor está no céu, mas eu continuo aqui

Paulo Rebêlo | maio.2020


Tenho ouvido falar muito em novo normal, supostamente uma realidade diferente e mais sustentável que há de surgir após a pandemia de Covid-19.

Não faço ideia qual será a diferença, mas no meu novo normal eu só queria que as mulheres bonitas parassem de me chamar de senhor.

Quando pudermos sair normalmente, quero ir até o bar aqui perto de casa e no caminho essas mulheres poderiam parar de me cumprimentar como se estivessem falando com o pai delas.

Também queria saber qual é o senhor que chega na padaria e compra quarenta mini-coxinhas, meio quilo de salgadinho de queijo e ainda pergunta se tem alguma coisa com bacon para levar. Será que a atendente da padaria pensa que estou levando para meus filhos ou netos?

Moça, fique sabendo você, os tiozinhos também gostam de coxinhas. Principalmente das suas.

Senhor Balzac morreu aos 51 –

Não faz muito tempo, as jovens mancebas ficavam encantadas com a gente justamente porque éramos mais velhos do que elas. Não sei em que momento essa chave se inverteu. Porque elas continuam jovens, mas parece que a gente deixou de ser mais velho para ficar apenas velho.

Se a matemática fosse justa, isso ocorreria de forma proporcional, mas não é assim que acontece. As mulheres da mesma idade, ou até mais velhas, também passam a nos chamar de senhor em deferência.

Vinte anos atrás, eu achava que as mulheres de 30 deveriam dominar o mundo porque estavam na idade mais sensual e mais interessante da vida delas.

Pela tinta francesa de Honoré de Balzac, depois dos 30 elas tendem a chegar ao amadurecimento emocional e podem viver o amor em sua plenitude.

Hoje, vinte anos depois, continuo achando exatamente a mesma coisa. E elas passaram a achar que devem me chamar de senhor.

Espero que o tal do novo normal tenha um prazo de validade um pouco mais extenso.


Sobre a foto em destaque
Julho de 2011.
Uma tarde no Mercado Ver-o-Peso em Belém, Pará.
Nikon D90 | 24mm | 1/100 | f/5.0 | ISO 1000

2 Comments O senhor está no céu, mas eu continuo aqui

  1. Tânia Teresinha Lopes

    Pô. Paulo
    Isso nem é problema, rapaz!
    Imagina eu que estou querendo “rebobinar a fita”!
    E tu não sabe nem o que é isso de “rebobinar”?!
    ahahaha
    Abrs.
    Tânia

    Reply

Leave A Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *