Tenho ouvido falar muito em novo normal, supostamente uma realidade diferente que há de surgir após a pandemia de Covid-19. Não faço ideia qual será a diferença, mas no meu novo normal eu só queria que as mulheres bonitas parassem de me chamar de senhor.
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Rebêlo | mai.2017 ### Capiroto, me perdoa. Eu comi uma coxinha vegana e gostei. Sei que foi uma heresia. Mas a safada estava melhor do que a maioria das coxinhas de galinha que o Deus Mercado me oferece. Não criemos pânico. Ainda não há risco ao nosso altar, ali na BR-232, porque a coxinha com catupiry do Rei das Coxinhas continua sendo o nosso norte, nosso alimento sagrado, nosso rumo e nossa vida ao óleo e óleo. Não obstante cá estou, orando a ti, pedindo força e disciplina, para não mais cair em tentação e não mais aceitar outros experimentos hereges quando me fizerem oferendas gastronômicas. Diga-me, o que seria do nosso universo em descontrole se houvesse uma empada vegana? Tenho pesadelos ao imaginar um terrorista vegano descobrindo a fórmula de uma empada vegana de queijo do reino. Seria o apocalipse zumbi, o fim dos tempos, o dia em que o sertão vai virar mar, o Armagedom sem o Bruce Willis para nos salvar e as vacas criando asas para voar. Nesse dia, até o nosso cão do segundo livro vai virar um gatinho fofo de Facebook. O que essa gente vegana tem feito com nossos princípios? Gente perigosa. Desconfio
Paulo Rebêlo NE10 | 11.setembro.2012 link Quando abri o envelope do laboratório e vi aquele número estampado em negrito, voltei décadas no tempo. Até outro dia, pensava que seria o fim do mundo. Mas, quando finalmente aconteceu, de certo modo foi um alívio para quem passou a vida inteira em luta silenciosa contra a glicose no sangue. Havia, enfim, chegado ao limite aceitável de 99 mg/dL na glicemia. Durante metade da vida, minha principal preocupação sempre fora sair vitorioso na guerra contra o histórico familiar de diabetes. Abri mão de todos os doces e guloseimas – forçado, é verdade –, mas venci a desgraçada e sempre me orgulhei de tomar aquele suco de limão ou acerola sem açúcar. Na tora, igual a tirador de coco. A gente envelhece, adota a coca-zero como companheira infinita e, aos poucos, começa a perder a fé nessa vitória mundana porque os médicos mudam o discurso a cada visita. Um belo dia, me dizem que “apenas” manter distância de açúcar como se ele fosse o anhangá-tinhoso não adianta de nada. Quer dizer, além de ficar sem meu doce de buriti com farinha, precisava também fugir das frituras, gorduras e me tiraram até o direito universal de engordar
Paulo Rebêlo Terra Magazine 08.fevereiro.2012 link Às vezes, tudo que a gente precisa na vida é um torresmo e um quartinho de pinga. Durante uma das épocas em que eu chegava do trabalho de madrugada, todos os dias, o único lugar para encontrar um prato de feijão com macarrão era um boteco bem derrubado na esquina de casa. Havia vários outros lugares interessantes por perto, mas aquele era o mais barato e o único com televisão onde a gente conseguia ver a imagem e ouvir o som. Um lugar onde engraxates, flanelinhas, vigilantes e outros trabalhadores da madrugada se encontravam para juntar as moedas e dividir uma garrafa de pinga antes de ir para casa. Não somente pelo preço, mas sobretudo porque ali os clientes, garçons e donos eram todos iguais. Sem frescuras e sem olhares enviesados. Eventualmente, quando era jogo do Corinthians, o dono (fanático) liberava de graça duas cervejas ruins para cada um dos frequentadores assíduos. Geralmente Antarctica Subzero, Brahma Fresh ou Nova Schin. A festa estava montada. A dor de cabeça também. De madrugada, sem Jornal da Globo ou jogos de futebol, um senhor sempre descia a rua com a mesma roupa, a mesma mala preta quase rasgada e