Paulo Rebêlo
NE10 – 26.outubro.2012
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Já procurei bastante, mas nunca encontrei um ser vivo espetando uma rodela de tomate com a mesma satisfação de quem espeta um bolinho de bacalhau.
Nunca vi e duvido de quem viu.
E assim bebo meu café sem açúcar enquanto observo as refeições atrasadas e apressadas na praça de alimentação embaixo do escritório ou nos shoppings.
Dos mais variados estilos e beleza, lá estão todas aquelas mulheres com um prato de salada como representação única do almoço. Tão diferentes, mas também tão iguais: afinal, nenhuma delas sorri.
As magrinhas comem sem olhar para o prato, talvez porque olhem para o resto da humanidade com a aura superior de quem come salada por opção e gosto.
Ainda fazem questão de raspar o prato como demonstração ao mundo que salada é uma delícia e que não trocariam aquele prato de capim por nada.
Ao redor, as outras mulheres com seus pratos minúsculos olham com desdém e suspiram em uníssono. Talvez com peso na consciência por não terem pedido a salada do Giraffa’s.
As gordinhas e as não-gordinhas que se acham gordas também curtem a tal “saladinha”, mas comem de cabeça baixa, fazendo de conta que está uma delícia. Também não abrem sequer um pequeno sorriso durante todo o almoço.
Nunca vou entender essa matemática da infelicidade.
Até acho que salada pode ser um negócio bom. Já experimentei algumas com molho de quatro queijos, singelas fatias de bacon por cima e delicados cubinhos de torresmo escondidos entre os alfaces, tomates e cebolas. Confesso que não era nada mal e repeti a dose.
Já sugeri em vários bares a criação de uma salada biro-biro ou salada carreteiro, de modo a atrair mais o público feminino. Sempre sou voto vencido porque, graças ao bom pai, os bares que frequento não vendem salada.
Mas é óbvio e ululante que, se você perguntar no meio da rua ou da praça de alimentação, todas as mulheres vão dizer que a-d-o-r-a-m salada. Também vão falar dos mil benefícios do prato de capim. Observe: elas vão falar isso com toda a seriedade do mundo.
É quase uma evangelização.
A gente diz que acredita, é claro, e ainda solta um sorriso. Quando elas perguntam o motivo do riso, o jeito é dizer que elas ficam lindas comendo salada.
Mas, na verdade, a gente ri pensando no seguinte: se Kléber Mendonça Filho teve a genial sacada de inventar um Recife Frio, talvez seja a hora de alguém roteirizar uma revolução nos filmes de zumbi.
Em vez de cérebros e tripas, os zumbis vegetarianos comeriam apenas salada, mas seriam todos gordos. Veja você, nas hordas de zumbi dos filmes, ninguém consegue encontrar um zumbi gordo. Por quê?
Os zumbis gordos também adoram uma “saladinha”, mas não são bonzinhos. Eles iriam acabar com as hortas do mundo e, na falta de alface e tomate, iam partir para as folhas e o capim, acabando com as florestas. Uma ameaça ao meio ambiente e à sobrevivência de todas as espécies. Então fogo no rabo deles.
O extermínio dos zumbis x-salada contaria com apoio logístico do Greenpeace e de um exército de vacas mimosas, que teriam total interesse na questão. No final do filme, as vaquinhas iriam às ruas para gritar e mugir: o capim é nosso.