Dia das mães solteiras

Paulo Rebêlo NE10 | 13.maio.2010 | link A senhora minha mãe que me perdoe, mas no Dia das Mães o meu saudosismo maior não é direcionado a ela. O que realmente me tira o sono é tentar descobrir o que se passa na cabeça das mães solteiras quando elas são bombardeadas pelos outdoors com famílias de novela, assim, nesse mundo perfeito da propaganda onde todos os homens são fiéis e todas as crianças são felizes. Talvez seja esse o maior charme das mães solteiras: elas são as únicas mulheres que realmente conseguem separar ficção da realidade. Mas, com toda a apelação comemorativa do dia, será que elas sentem mais saudades do ex-marido do que nos outros dias? Será que elas se arrependem ou se orgulham de ter tomado a decisão de ir (ou deixar ir) embora e criar os filhos sozinhas? Em momentos assim, me pergunto se elas realmente compreendem que são muito mais mulheres do que as outras mulheres? Quando olho para a fila de espera nos restaurantes e nos shoppings no Dia das Mães, quase não vejo homens. Estão as mães, avós, filhas, netas, sobrinhas, todas reunidas naquele almoço ou jantar, mas geralmente só aparece um tio e

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As crianças de Brasília

Paulo Rebêlo Revista MeiaUm – ed. 4 – junho.2011 * ilustração por Claudia Dias Quando coloquei os pés em Brasília pela primeira vez – lá se vão quase 25 anos – pensei comigo mesmo: as crianças daqui devem ser muito felizes. Senti uma inveja retardatária. Os anos passam e, durante todas minhas viagens a trabalho para cá, sempre carreguei o mesmo pensamento. Crescer em Brasília deveria ser o paraíso. Contudo, por estar sempre a trabalho, não tinha tempo para nada. Muito menos para observar se as crianças daqui eram mesmo felizes. Hoje, morando no Plano Piloto pela segunda vez, não sei dizer se elas são mais felizes do que as outras crianças. Agora, com tempo para observar mais de perto, sempre me pergunto: onde estão as crianças de Brasília? Não as vejo em lugar algum. Olho para tanto espaço livre e não as encontro.

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O monstro do Lago Paranoá

Paulo Rebêlo Terra Magazine 23.março.2011 Voltar a nadar foi uma das decisões mais acertadas que tive nos últimos tempos, se não fosse pelas crianças. Dos outros. Por não ter horário fixo e chegar em qualquer horário, imaginei que poderia dar minhas braçadas em paz, sem distrações e sem concorrer com ninguém. A mocinha da secretaria tentou me alertar sobre elas, mas foi em vão. No primeiro dia da coincidência de horários, fui fazer meu alongamento normalmente, mas agora estava diante de todo aquele barulho infernal típico de quando várias crianças estão na piscina brincando. Fiquei com vontade de jogar ácido muriático na água, mas depois pensei melhor e deu até pena. Não das crianças, mas dos pais. Naquele estabelecimento, aparentemente só tocam dois CDs: um da Ivete Sangalo (Ao Vivo em Salvador) e outro de uma compilação bate-estaca dos “Baladeiros de Goiânia”. Está escrito na capa do CD, tive que ir lá conferir para ter certeza que não estava delirando. Fui cobrar um desconto na mensalidade (por insalubridade e sanidade mental) e as professorinhas de maiô entrando na bunda me acharam um tiozinho muito engraçadinho, como se tivesse contado uma piada. Se eu soltasse uma piadinha de verdade sobre o

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Futebol, o ex-sonho de toda criança

Paulo Rebêlo // junho.2006 A Copa do Mundo sequer chegou à metade e muita gente não agüenta mais ouvir falar no assunto, categoria a qual me incluo. Tudo é Copa, inclusive na copa – das empresas e das autarquias. De fanático que fui em anos pregressos, a ponto de viajar o Nordeste inteiro apenas para assistir a uma partida cujo resultado nem importava na competição, tornei-me um torcedor sazonal interessado apenas nos resultados da segunda-feira de manhã, pelos jornais. O futebol não perdeu a graça, apenas perdeu o romantismo inerente à arte boleira.

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Dezembro nos anos dos outros é refresco

Paulo Rebêlo // dezembro.2004 Dezembro é o mais chato dos meses. Talvez por ser o último do ano, funciona como uma viagem de férias ou uma trilha na mata: a volta parece sempre levar mais tempo do que a ida. Ficamos ansiosos para chegar não apenas ao fim, mas sobretudo ao enfim. Mas, dezembro também é um mês de verdades e questionamentos. É quando indagamos, por exemplo, para que diachos serve o 13º salário? Tudo fica mais caro, mais difícil, as filas são maiores, os bares mais lotados e todos cobram presentes. A quantidade de caixinhas-de-natal espalhadas pela cidade é absurda. Para onde batemos o olho, tem caixinha-de-natal olhando para a gente.

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Síndrome da escova de dentes

Paulo Rebêlo // maio.2002 Quando dizem que adultos são tão ou mais crianças do que os próprios filhos, você pode até ousar admitir ser uma frase batida e piegas. Eu admito. No entanto, admita também que não é uma verdade apenas contextual, mas uma verdade tão factual que chega a ser embaraçoso. O fim de um relacionamento, mesmo aquele que não tenha tido tanto significado assim para você, é o momento no qual podemos parar em frente ao espelho e admitir que somos muito mais crianças do que nossos filhos ou sobrinhos. Quem não é filho único, deve lembrar bastante. Na infância, passamos o dia inteiro procurando um motivo para arrumar confusão com o(a) irmã(o). Vale qualquer coisa. O mínimo detalhe é suficiente para causar gritaria, puxão de cabelo, unhada, empurrão, fofoca e choro-ro-rô. E assim os anos vão passando e os irmãos sempre brigando, brigando, brigando. O que os pais da gente diziam? Os meus, quando esgotavam todos os argumentos racionais, filosóficos e humanitários que nenhuma criança de sete anos entende, falavam: só briga dois, quando um quer. No dia que você não quiser brigar (apontando para mim), sua irmã vai lhe deixar em paz. Mas é claro que

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