Dia das mães solteiras

Paulo Rebêlo
NE10 | 13.maio.2010 | link

A senhora minha mãe que me perdoe, mas no Dia das Mães o meu saudosismo maior não é direcionado a ela.

O que realmente me tira o sono é tentar descobrir o que se passa na cabeça das mães solteiras quando elas são bombardeadas pelos outdoors com famílias de novela, assim, nesse mundo perfeito da propaganda onde todos os homens são fiéis e todas as crianças são felizes.

Talvez seja esse o maior charme das mães solteiras: elas são as únicas mulheres que realmente conseguem separar ficção da realidade.

Mas, com toda a apelação comemorativa do dia, será que elas sentem mais saudades do ex-marido do que nos outros dias? Será que elas se arrependem ou se orgulham de ter tomado a decisão de ir (ou deixar ir) embora e criar os filhos sozinhas?

Em momentos assim, me pergunto se elas realmente compreendem que são muito mais mulheres do que as outras mulheres?

Quando olho para a fila de espera nos restaurantes e nos shoppings no Dia das Mães, quase não vejo homens. Estão as mães, avós, filhas, netas, sobrinhas, todas reunidas naquele almoço ou jantar, mas geralmente só aparece um tio e algum irmão, talvez um único marido no meio daquela mulherada toda. A matemática nunca fecha.

Ou será que no Dia das Mães elas sucumbem e se deixam levar por um outro tipo de lavagem cerebral: a das mães ou avós que sempre perguntam por que ainda não arrumaram um namorado depois de tanto tempo?

É verdade que elas tentam, mas a gente tem esse péssimo hábito de ficar com medo das mães solteiras. E de tantas outras coisas que não entendemos.

O problema não são os filhos. É que, na condição de homens, somos meio programados a reinar absoluto nas preocupações e nos interesses femininos. E disputar a atenção (e a agenda) de uma mãe é sempre uma derrota declarada.

Nunca vamos ter a importância que gostaríamos de ter na vida delas.

Mas ficar em segundo plano também pode ter uma certa beleza; é só uma questão de aprendizado.

Quase como tirar um peso das costas, diminuir um pouco a responsabilidade que a gente sente de precisar ser o mentor, criador e gestor da felicidade das mulheres do mundo. Como se fosse algo que dependesse exclusivamente de iniciativa nossa.

No caso delas, esse mentor, criador e gestor da felicidade já existe e faz um barulho danado quando quer alguma coisa.

Todos aqueles sonhos de grinalda ficaram para trás. A vida real, que é bem diferente da propaganda da Marisa ou da novela das oito, tem uma dúzia de contas para pagar, tem colégio para escolher, livros para comprar, remédios, médicos, feira no supermercado, tarefa de casa dos filhos, enfim, obrigações mil.

E agora ainda tem esse tal de bullying na vida dos capetinhas.

Só de pensar, me sinto dentro de um looping de uma montanha russa no Afeganistão.

Pense bem. Elas vivem reclamando que não conseguem achar um companhia interessante. Falta tempo para sair e para conhecer pessoas novas quando se tem filho para educar e emprego para manter sem ajuda de nenhum zé roela.

Se no meio de todo esse apocalipse materno e individual ela ainda consegue fazer uma mágica e achar um tempo para sair com a gente, tomar um café ou uma cerveja de vez em quando, conceder algumas horas da vida dela em nossa companhia, acho que deveríamos nos considerar seres privilegiados; e não escanteados.

É claro, ela não vai ter tempo de ir para aquela festa que vocês queriam. Nem de fazer aquela viagem. Nem de passar o fim de semana inteiro. E você não vai ter a obrigação de ser o príncipe encantado e nem de substituir um pai que não se substitui.

Tudo fica mais simples e talvez até mais bonito. Resta aprender a lidar com isso ou não.

Porque também se não aprender, provavelmente ela não vai ter tempo nem de ficar com saudade. Não existe romance para pagar juros da dívida e mensalidade escolar.

1 comments On Dia das mães solteiras

  • Nesse dia 8 de março, uma grande parabéns às mulheres, que vem cada vez mais ocupando seu respeitoso lugar na sociedade. Àquelas que lutam por seus direitos e nunca esquecem que antes de tudo são mulheres. Todas as fortes delicadas, todas as guerreiras românticas. Hoje a “loira gelada” deixou de ser só a mulher dos homens e passou a ser também a amiga fiel das mulheres.

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