Não tendo como medir, a saudade termina sendo o norte risível do quanto queremos alguém por perto. Mas também é o pior tipo de traição que existe.
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— Eu gostava de irritar o André José Adler dizendo que era fã dele e que me sentia um privilegiado por dividir várias garrafas de Tokaj e pratos de Goulash na companhia do diretor de ‘Nem as enfermeiras escapam’, um clássico da chanchada brasileira produzido em 1977. Ele respondia: “escrevi o roteiro de tanto filme bom, participei de programas e seriados históricos na TV Tupi, ganhei prêmios, fui o primeiro Pedrinho da televisão brasileira (do Sítio do Pica Pau Amarelo), tive uma longa carreira na ESPN, mas você só lembra justamente da única coisa que me arrependo de ter feito!” E assim muitos meses se passaram conversando sobre cinema e jornalismo esportivo. Ele bem que tentou, mas nunca consegui entender o tal de futebol americano. Até hoje não faço ideia. Quando ele se empolgava demais tentando explicar os jargões e o funcionamento do jogo, eu começava a perguntar sobre os bastidores das enfermeiras que não escaparam. Ele ria, respondendo: “só não fico com raiva porque não consigo levar a sério alguém que gosta de Calypso“. Nascido Endre József Adler em Budapeste, capital da Hungria, André Adler veio para o Brasil ainda criança, com a família. Depois da carreira meio acidental
Paulo Rebêlo Terra Magazine | 06.abr.2012 | link Quando visitei Buenos Aires pela primeira vez, só não morri de fome por causa da Penélope Cruz. Tempos depois, seja quando tentei morar naquela cidade ou quando pisei em outro país de língua espanhola, entendi de vez que devia minha sobrevivência a ela. Se não fosse a dramaturgia da Penélope Cruz, eu não saberia falar minha segunda frase em espanhol: jamón, jamón. A primeira frase sempre fora ‘La Garantía Soy Yo’, depois de muitas aulas práticas com os camelôs de Ciudad del Leste, no Paraguai. Quando a fome aperta e você ainda acha que pollo é um tipo de camisa, a salvação é o tal de jamón que você encontra com pão em qualquer bodega de esquina. O tal do espanhol é um idioma que meu cérebro nunca conseguiu processar direito. Talvez seja preconceito. Talvez uma resistência pós-traumática. Embora seja mais provável ser burrice pura e simples. Mas talvez seja o medo inconsciente de aprender novas frases e não precisar mais falar jamón jamón me achando um verdadeiro garanhão latino americano. Sensação reconhecidamente frugal, não tanto por ser baixinho e careca, mas porque esta geração atual de garçonetes e moças bonitas não deve nem
Paulo Rebêlo Terra Magazine 03.agosto.2011 A gente nunca admite por vergonha, mas estamos quase sempre procurando – ou esperando – alguém para substituir algo que perdemos. Os amigos são os mesmos. Família, trabalho e problemas, também. Arquivos do acaso, alguém puxa o mesmo livro que o seu na prateleira da livraria e, sem ninguém lembrar direito como isso acontece, estão os dois sentados tomando um café, uma cerveja ou aquele copo de uísque sem gelo. Humanamente impossível não passar pela cabeça dela, sequer por um segundo: será que ele vai me ajudar a esquecer…? Quando o ‘ele’ em questão é você, é melhor suspender as ilusões platônicas e mandar trazer o gelo. Porque em momentos assim, tudo que nós precisamos ser é alguém para ajudar a colocar uma pedra naquela cicatriz meio aberta, meio fechada, mas exposta o suficiente para ela não ter mais se interessado de verdade por ninguém. Até agora. É quando nos tornamos uma espécie de cópia de segurança psicológica. Afinal, ela tem todos os motivos do mundo para não precisar conhecer, e muito menos se interessar, por gente nova. Não faz diferença há quanto tempo acabou o casamento ou o namoro. Importa que ninguém conseguiu preencher,