A maioria das pessoas da minha geração queria morar sozinha para ter liberdade. Eu queria morar sozinho para comer pizza e hambúrguer todo dia. E coca-cola. Litros de coca-cola. Talvez a conta metabólica chegue aos 50, talvez amanhã ou talvez quando sair o resultado da próxima endoscopia, que pelos meus cálculos será a décima-quinta. A conta pode chegar parcelada, mas também pode chegar de uma vez só, me atropelando feito uma Scania desgovernada, passando por cima de tudo igual a uma jamanta sem freio.
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Paulo Rebêlo Terra Magazine 03.agosto.2011 A gente nunca admite por vergonha, mas estamos quase sempre procurando – ou esperando – alguém para substituir algo que perdemos. Os amigos são os mesmos. Família, trabalho e problemas, também. Arquivos do acaso, alguém puxa o mesmo livro que o seu na prateleira da livraria e, sem ninguém lembrar direito como isso acontece, estão os dois sentados tomando um café, uma cerveja ou aquele copo de uísque sem gelo. Humanamente impossível não passar pela cabeça dela, sequer por um segundo: será que ele vai me ajudar a esquecer…? Quando o ‘ele’ em questão é você, é melhor suspender as ilusões platônicas e mandar trazer o gelo. Porque em momentos assim, tudo que nós precisamos ser é alguém para ajudar a colocar uma pedra naquela cicatriz meio aberta, meio fechada, mas exposta o suficiente para ela não ter mais se interessado de verdade por ninguém. Até agora. É quando nos tornamos uma espécie de cópia de segurança psicológica. Afinal, ela tem todos os motivos do mundo para não precisar conhecer, e muito menos se interessar, por gente nova. Não faz diferença há quanto tempo acabou o casamento ou o namoro. Importa que ninguém conseguiu preencher,
Paulo Rebêlo Terra Magazine – 07-dez-2010 Pelo tamanho e diâmetro da canela, a gente sabe com precisão quase científica se as pernas de uma mulher são bonitas. Pela dobrinha do braço, é possível identificar a consistência das costas e do tronco inteiro. Pelos dedos da mão, a gente sempre acerta a margem da idade, mesmo com cirurgia plástica. E acredite: apenas ao observar os ombros de uma mulher, é possível saber se ela tem o bumbum bonito. Independente da roupa. É uma arte. Cada vez mais esquecida, pois parece que temos cada vez menos tempo para admirar de verdade as pessoas. Dos dedos do pé à raíz dos cabelos. Analisar cada centímetro, sentir cada cheiro e identificar cada ângulo de olhar que sempre vai expressar um sentimento diferente. Talvez porque hoje ninguém precise observar mais nada diante das microssaias, dos decotes até o umbigo e dos biquinis invisíveis. A sutileza das curvas escafedeu-se. Mas ainda resta outra frente nada sutil. Esqueça a batata da perna e observe a batata que ela come durante as refeições. Uma mulher fresca, por exemplo, nunca vai sentar com você no mercado público para comer rabada, mão de vaca, patinho com feijão. As inseguras nunca experimentaram,
Se eu gosto de salmão e gosto de feijão, por que não posso misturar os dois no self-service e adicionar farofa e azeite, sem que todos da fila fiquem olhando para o meu prato? Ou para mim, como se fosse um selvagem recém-chegado da Guerra Soviético-Finlandesa. Não é porque não sabemos cozinhar que não sabemos comer direito. Você se sente um peixe fora d’água já na fila, quando todas as pessoas colocam folhas e outros matos florestais no prato e, no seu, tem apenas um enorme espaço em branco à espera do feijão e do macarrão. Misturados. Quando eu era criança, alguém falou que feijão misturava com arroz, nunca com macarrão. Quando descobri que feijão e macarrão nasceram um para o outro no meu mundo gastronômico perfeito, adicionei vinagrete e alcancei o nirvana. Se vou a um restaurante bacana, termino pagando caro para não comer aquilo que quero comer. Porque cozinheiro não é mais cozinheiro, agora é artista, celebridade, brodagem, personagem de revista grã-finagem. E ele não deixa a gente mexer na arte dele e misturar salmão com feijão. Tem que ser no vapor com legumes coloridinhos ou arroz com mato sem cachorro. Não, eu quero meu salmão com feijão,
Acho que nunca vi um filme da Lindsay Lohan e não escuto a menor graça na Amy Winehouse. Mas tenho simpatia pelas duas, só por causa da mobilização mundial em relação ao que elas bebem da vida. Da sua bisavó à netinha de cinco anos, sempre vão condenar a coitada da Winehouse por não ter limites. Na minha religião, o céu é o limite. E as pessoas deixam as outras pessoas beberem em paz. Se você quer fazer sua Despedida em Las Vegas bebendo até morrer, vá em frente e não prejudique ninguém. Eu até pago as primeiras rodadas, só para manter distante a família de olho na herança, os amigos que nunca estavam lá quando você realmente precisava e as revistas de fofoca que todo mundo diz que não lê, mas decora página a página. É uma paranóia parecida com aquele pessoal que às 10h da manhã olha para a garrafa de uísque e não tem coragem de descer uma dose porque acha feio ou socialmente errado beber pela manhã. Tomo uma cerveja de trigo quando acordo às 11h ou um suco de laranja com cinco dias de atraso? Qual dos dois tem mais vitaminas? E no domingo, esquento