Paulo Rebêlo // Terra Magazine Meu ícone máximo de romantismo sempre foi o casal que divide livros na cabeceira da cama. De pijamão, luminárias de cada lado, folheando as páginas até o sono chegar. Intermitentes, elas coçam nosso bucho peludo e nós a cutucamos com o pé ao escutar o primeiro ronco delas. Claro que já tentamos imitar a bucólica cena. E claro que nunca funcionou. Bons livros devem ser tratados como bons filmes. Você até pode interromper, desde que seja algo importante. E nada é tão importante a ponto de interromper mais de uma vez. Ou duas, se for o apocalipse. Veja bem, quando estamos lendo, não queremos saber o que você está lendo. Conte depois. Na hora do almoço, no bar, amanhã quando acordar. Em qualquer outro horário. Não pergunte se estamos com fome ou sede. Agradecemos o carinho e a ternura, mas é uma questão cartesiana: se a gente tem sede, a gente bebe. Se temos fome, vamos até a cozinha e voltamos com uma bolacha ou um pedaço de bife entre os dentes. Às vezes, rosnando. Por tabela, é justo presumir que, se estamos deitados tentando ler, não estamos com fome e nem com sede. Temos muito interesse no