A esposa de Satã não queria tomar café, queria tomar cerveja. Eu sabia disso, estava escrito na testa dela, mas acima daquela testa maravilhosa de pele de veludo também tinha uma placa imaginária em neon violeta luminoso me dizendo: é cilada, bino.
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Paulo Rebêlo Terra Magazine 18.maio.2011 Você olha para os lados e pergunta: como pode uma mulher linda, inteligente e interessante ficar tanto tempo solteira? Não é mistério, apenas a lógica bruta do séquito urbanóide das grandes cidades: quanto mais gente disponível, menos gente possível. Para muitos homens, as principais qualidades daquela mulher se transformam em defeitos. Porque ela é muito melhor do que você. E do que todas as outras mulheres que você conhece. E muitos homens, que até então se achavam inteligentes (por conta própria), começam a entender como são burrinhos quando tentam despertar o interesse de uma mulher assim. Quando mais jovem, eu costumava achar que essas mulheres lindas e sozinhas tivessem algum problema. Dos sérios. Talvez fossem muito chatas. Talvez muito loucas. Talvez muito convencidas. Porque nenhum homem, em sã consciência, deixaria de entrar na fila para conseguir um horário na agenda delas, nem que fosse para tomar umas cervejas no fim de semana. O problema é que essas poucas mulheres interessantes sempre têm mais a oferecer. E você, não. Elas sempre vão ter algo a mais para responder. E você, sequer sabe o quê perguntar. Elas continuam ali, do outro lado da rua. Lindas, batalhadoras, pagando
Paulo Rebêlo Terra Magazine | 04.jan.2011 Nunca entendi a razão de mulheres teoricamente adultas, eventualmente belas e supostamente bem educadas, desfilarem seus corpinhos malhados usando roupa de adolescente, falando feito adolescente, bebendo feito adolescente e, desconfio cá com meus botões, trepando feito adolescente. Quando vejo uma mulher adulta usando uma bolsa da Barbie ou um conjunto de roupa todo cor-de-rosa, não sei se me jogo na frente de um trem ou se tiro porte de arma. Prefiro o trem, por causa da Lei Maria da Penha. Ao esbarrar com uma criatura usando bolsa da Barbie, a primeira coisa que me vem à cabeça é que ela também deve usar calcinha com desenhos estampados. E não tem nada mais brochante do que “calcinha de bichinho”. Imagine a cena. Alguém levanta o seu vestido no maior amasso e, de repente, dá de cara com os ursinhos carinhosos, o Bambi, o Rei Leão ou o Mickey Mouse. Filhota, você não vai emagrecer em 2011, então estabeleça metas alcançáveis: pare de usar calcinha de bichinho. Veja você. Em comunicado oficial, o grupo Vigilantes do Peso do Brasil me diz que ajudou o país a emagrecer 330 mil quilos em 2010. Somente em Brasília foram
Paulo Rebêlo Terra Magazine – 07-dez-2010 Pelo tamanho e diâmetro da canela, a gente sabe com precisão quase científica se as pernas de uma mulher são bonitas. Pela dobrinha do braço, é possível identificar a consistência das costas e do tronco inteiro. Pelos dedos da mão, a gente sempre acerta a margem da idade, mesmo com cirurgia plástica. E acredite: apenas ao observar os ombros de uma mulher, é possível saber se ela tem o bumbum bonito. Independente da roupa. É uma arte. Cada vez mais esquecida, pois parece que temos cada vez menos tempo para admirar de verdade as pessoas. Dos dedos do pé à raíz dos cabelos. Analisar cada centímetro, sentir cada cheiro e identificar cada ângulo de olhar que sempre vai expressar um sentimento diferente. Talvez porque hoje ninguém precise observar mais nada diante das microssaias, dos decotes até o umbigo e dos biquinis invisíveis. A sutileza das curvas escafedeu-se. Mas ainda resta outra frente nada sutil. Esqueça a batata da perna e observe a batata que ela come durante as refeições. Uma mulher fresca, por exemplo, nunca vai sentar com você no mercado público para comer rabada, mão de vaca, patinho com feijão. As inseguras nunca experimentaram,
Paulo Rebêlo 23.novembro.2010 Terra Magazine Invejo as pessoas de memória fraca. E desconfio que elas sejam mais felizes. Antigamente, minha memória avantajada era motivo de orgulho. Hoje é um pouco maldição. Pode ter sido alguma pancada na cabeça. Antes dos três anos de idade, não lembro de absolutamente nada. Parece-me normal. O que me parece pouco normal é lembrar, dos três anos em diante, até da posição onde ficavam os brinquedos do primeiro colégio onde estudei, o Abelhinha, em Santarém, no Pará. E de todos os outros. E de todos os amigos. E dos sonhos deles, das frustrações e das alegrias também. E de tantos detalhes de diálogos, atividades, argumentos e até paisagens de um monte de gente que, às vezes, só vi uma vez na vida. Os anos passam e a gente não esquece de (quase) ninguém, querendo saber por onde estão e por que deixamos eles sumirem do mapa sem deixar um telefone, um endereço, um pombo correio. A gente se muda pela décima quinta vez na vida e, em vez de malas com roupas, objetos e compras, trazemos apenas o peso da lembrança de pessoas interessantes e bons amigos que ficam para trás. Amaldiçoados sejam eles. Porque nós já somos. E
Paulo Rebêlo 08.março.2010 Terra Magazine link Não sei a quem devo mais: às mulheres que um dia passaram pela minha vida ou ao Banco do Brasil. A diferença é que, um dia, talvez eu consiga quitar minha dívida com o banco. Com as mulheres, vamos morrer em débito. Com elas aprendemos a amar e a trair. E que às vezes amar é trair. E trair nem sempre é exatamente falta de amar. Mas, na vida de um bruto, o maior legado das mulheres é ensinar que amar também é deixar ir embora. Porque mais difícil do que ir embora do presente, é ir embora do seu futuro. E ninguém sabe fazer isso tão bem quanto elas. Somem como fumaça e montam uma nova vida como um passe de mágica. Enquanto o seu único abracadabra são noites insones a esperar que ela bata na porta de madrugada. Demora muito, às vezes uma vida inteira, até você aprender que não se trata somente de deixar ir embora. Trata-se, principalmente, de deixá-la ir embora e torcer para que ela tenha toda a felicidade que você sempre quis dar e não conseguiu. Não importa se por incompetência, inércia, conformismo ou pouca fé. Ela iria embora independente das causas. Até