Mal havia saído da adolescência quando conheci um cara chamado Cegonha. Esportista, ele treinava bem próximo de onde eu morava na época. Às vezes, eu passava naquela casa velha caindo aos pedaços a qual chamavam de academia. Quase sempre, ao entrar, me deparava com um homem sozinho no telhado. Ele mirava o horizonte e por horas a fio fazia exercícios de respiração como se estivesse num universo paralelo, alheio a tudo que acontecia lá embaixo. Uma visão curiosa, quase psicodélica. Todas as pessoas “normais” embaixo e um único ser humano no telhado. Eu chegava, ia embora, ele continuava no telhado. Talvez uma espécie de templo, não sei ao certo. Nunca tive coragem de subir, apesar da recorrente curiosidade em saber como era a vista ali de cima.