Paulo Rebêlo Terra Magazine 03.agosto.2011 A gente nunca admite por vergonha, mas estamos quase sempre procurando – ou esperando – alguém para substituir algo que perdemos. Os amigos são os mesmos. Família, trabalho e problemas, também. Arquivos do acaso, alguém puxa o mesmo livro que o seu na prateleira da livraria e, sem ninguém lembrar direito como isso acontece, estão os dois sentados tomando um café, uma cerveja ou aquele copo de uísque sem gelo. Humanamente impossível não passar pela cabeça dela, sequer por um segundo: será que ele vai me ajudar a esquecer…? Quando o ‘ele’ em questão é você, é melhor suspender as ilusões platônicas e mandar trazer o gelo. Porque em momentos assim, tudo que nós precisamos ser é alguém para ajudar a colocar uma pedra naquela cicatriz meio aberta, meio fechada, mas exposta o suficiente para ela não ter mais se interessado de verdade por ninguém. Até agora. É quando nos tornamos uma espécie de cópia de segurança psicológica. Afinal, ela tem todos os motivos do mundo para não precisar conhecer, e muito menos se interessar, por gente nova. Não faz diferença há quanto tempo acabou o casamento ou o namoro. Importa que ninguém conseguiu preencher,
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Paulo Rebêlo Terra Magazine | 21-dez-2010 O que eu mais gosto do Natal é que eu detesto Natal. Logo, não preciso inventar desculpa ou matar algum parente pela terceira vez no mesmo ano para não ir às confraternizações onde há o maior número de inimigos por cadeira quadrada. Fujo de eventos assim o ano inteiro. Dividir uma cerveja é um ato sagrado de contrição espiritual e minha religião não permite participar desse ritual com lobos que viram cordeiros só porque é Natal. Me dá uma ressaca dos infernos. Veja você. Aqui na ruazinha onde morei por cinco anos alternados, no centro deste Recife limpo e cheiroso, há um grupo de cheira-colas que dormem por lá desde sempre. Às vezes aumenta, às vezes diminui, mas sempreteve. Fazem parte da paisagem e até me chamam pelo nome, pois geralmente o único bêbado sem noção que tem coragem de passar por ali de madrugada sou eu, confiante no meu crachá subjetivo de “mantenha distância, sou cidadão nativo, bêbado local”. Até quando não sei, mas até hoje funciona. Embora desconfie que o pão com mortadela e a garapa de uva que costumo pegar no caminho de volta e deixar pela ruazinha sejam, de fato,
Paulo Rebêlo | janeiro.2009 O mais difícil de janeiro é a balança. É quando você tenta descobrir o peso das pessoas que passaram pela sua vida, das que ficaram e, principalmente, das que voltaram. Feita a pesagem, vem o pêndulo de um relógio de parede. Ele pende para um lado, lembrando as pessoas que você machucou um dia; e depois para outro, revivendo as que magoaram você.
Paulo Rebêlo // junho.2005 Às vésperas do Dia dos Namorados, o apelo comercial da data não é novidade para ninguém. Ao mesmo tempo, a ladainha dos solitários de plantão não surpreende, sobretudo quando se origina daquelas pessoas que não admitem passar mais um dia dos namorados sem companhia. É como um atestado não-escrito de incompetência social. O fato é que, com o advento da Internet e da crescente popularização de acesso, nunca foi tão fácil encontrar companhia. Mesmo que seja uma companhia, digamos, passageira ou quebra-galho.
Paulo Rebêlo // março.2005 É muito tênue, quase inexistente, a linha que separa um homem bonzinho de um homem tolo. Adjetivo este que doravante poderá ser substituído por mané, paspalho, inepto, insosso ou zé ruela. É comum generalizar que o homem bonzinho ‘nasceu ontem’ — uma expressão redundante para aqueles homens que só querem agradar. Porque é preciso ser bem inexperiente para não saber que homens a agradar demais sempre ganham um agrado na testa. Ou melhor, um par de agrados.
Paulo Rebêlo // setembro.2004 Reencontro talvez seja o momento mais delicado e emocionalmente complexo na vida relacional de uma pessoa. É quando você tem o mundo em suas mãos durante poucas horas para em uma fração de segundos sentir tudo esmorecer entre os dedos. É difícil dizer o que apavora mais as pessoas: o medo de reencontrar determinado alguém ou o medo de que isso nunca aconteça.