Quando acaba, ninguém pensa em nada

(c) paulo rebêlo

Rebêlo | 23.mar.2017 Dizem que os homens são mais pragmáticos. A verdade é que, quando acaba, viramos todos umas grandes piabas morrendo afogadas. Já sabemos que, para muitas mulheres, o melhor remédio para emagrecer continua sendo a separação. Já sabemos, também, que o maior medo do homem é que ela case com outro. A gente faz uma equação matemática termodinâmica nuclear da repimboca da parafuseta do Bóson de Higgs para tentar descobrir se é hora de acabar um relacionamento. E quando acaba, enfim e de alguma maneira, elas ainda conseguem manter viva a poesia. Dão de ombros, erguem a cabeça e avante. É verdade, demora um pouco. Ou demora muito. Ou não demora nada. Jamais vamos saber o quanto elas sofreram chorando no pé da escada ou nas noites de sábado vendo Netflix. Mas elas conseguem encontrar esperança em novos tempos. A gente, com o passar do tempo, não encontra mais alento. Vamos perdendo a poesia, tento por tento, até não sobrar mais nada aqui por dentro. Nada que dê vontade de cuidar, dividir, abraçar, quiçá até telefonar. Já tive raiva, já tive ciúme. Restou apenas um pouco de curiosidade: qual é o maior medo que as pessoas têm em

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Antes do casamento

Paulo Rebêlo 21.set.2010 Terra Magazine link A maior crueldade que uma mulher impõe a um homem é mostrar que não se recupera o que se deixou escapar. Marca o início de uma longa jornada de lembranças enviesadas e memórias chamuscadas sobre uma vida que poderia ter sido e não foi. Antigamente, a gente recebia o convite do casamento pelos Correios. Em geral, endereçado aos pais. Ficava sabendo pelos amigos em comum. Lia em letras miúdas no jornal. Com sorte, saberíamos anos depois. Com azar, o filho dela seria colega de classe da sua filha. Hoje, tem gente mais preocupada com o status no Facebook do que com a benção do padre e o carimbo do cartório. Em vez de saber anos depois, você descobre anos antes. Que ela já se foi. Que ela planeja ir embora. Que ela se vai. Que não pretende voltar. Os amigos em comum talvez nem existam mais. Tornaram-se desnecessários. Você a lê indo embora aos poucos. Até o dia em que ela se casa e você percebe que ela nunca se foi, você que ficou parado enquanto os anos passavam para ela. E sua única esperança recai em aderir às crendices tolas de vidas passadas ou

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Rapsódia da Separação

Paulo Rebêlo // novembro.2003 Toda separação dói. Só muda a intensidade. Separações planejadas, programadas, surpresas, temporárias, inesperadas. Talvez nenhuma machuque tanto quanto as separações abruptas. É como chegar em casa após um longo dia de trabalho, trocando qualquer coisa por um colo e cafuné, para só então perceber que a outra pessoa arrumou as malas e foi embora sem avisar. É de chorar, é de dar tiro na cabeça. Não dei tiro na cabeça porque não ia ter dinheiro para pagar o enterro, mas chorei. Chorei quando, após um longo dia de trabalho, encontrei meu bar predileto fechado. Abruptamente, sem o menor aviso. O bar que tinha cadeira cativa neste coração de pingüim. Sem um bilhete, sem uma carta de despedidas, sem dizer adeus! Sequer uma mísera placa foi colocada na porta, uma desculpa amarela qualquer. Simplesmente, trancaram tudo e foram embora… que nem as pessoas às vezes fazem: sem argumentos plausíveis, apenas com o sentimento de que “não dá mais” ou a desculpa de “vai doer mais no futuro”. Justamente naquele dia em que acordei, de novo, pensando nela. Aquela minha mesa predileta lá no canto, com uma parte encostada na parede e outra na grade. Na distância exata

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