Paulo Rebêlo Terra Magazine 23.março.2011 Voltar a nadar foi uma das decisões mais acertadas que tive nos últimos tempos, se não fosse pelas crianças. Dos outros. Por não ter horário fixo e chegar em qualquer horário, imaginei que poderia dar minhas braçadas em paz, sem distrações e sem concorrer com ninguém. A mocinha da secretaria tentou me alertar sobre elas, mas foi em vão. No primeiro dia da coincidência de horários, fui fazer meu alongamento normalmente, mas agora estava diante de todo aquele barulho infernal típico de quando várias crianças estão na piscina brincando. Fiquei com vontade de jogar ácido muriático na água, mas depois pensei melhor e deu até pena. Não das crianças, mas dos pais. Naquele estabelecimento, aparentemente só tocam dois CDs: um da Ivete Sangalo (Ao Vivo em Salvador) e outro de uma compilação bate-estaca dos “Baladeiros de Goiânia”. Está escrito na capa do CD, tive que ir lá conferir para ter certeza que não estava delirando. Fui cobrar um desconto na mensalidade (por insalubridade e sanidade mental) e as professorinhas de maiô entrando na bunda me acharam um tiozinho muito engraçadinho, como se tivesse contado uma piada. Se eu soltasse uma piadinha de verdade sobre o
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Paulo Rebêlo // abril.2007 Ser brasileiro em terra estrangeira significa que você pode ser qualquer um e ninguém ao mesmo tempo. Não é à toa que passaporte brasileiro vale tanto no mercado negro, mas ninguém parece lembrar desse detalhe na vida real. O estereótipo é universal: somos morenos, atléticos, conquistadores e barulhentos. O problema de ser um brasileiro nem um pouco brasileiro – baixinho, branquelo, redondo, quieto e nada galanteador – é que ninguém acredita que você é brasileiro. Nem que mostre o passaporte.
Paulo Rebêlo // janeiro.2004 Todo fim/início de ano é a mesma coisa. Justamente por ser a mesma coisa – um dia após o outro – sempre considerei um saco todo aquele excesso de festividades. Como festa é um bom argumento (precisa?) para beber, então tudo está perdoado aos alentos de Baco. O difícil de engolir são aquelas listinhas de promessas -ou “projetos”- que a gente faz todo bendito início de ano. A gente sabe que não vai cumprir nem metade, quiçá um terço; mas continua fazendo, mesmo subconscientemente. Sempre tudo igual. Emagrecer, comer menos chocolate, dar mais atenção aos amigos, se preocupar menos com o trabalho, não entrar em [novas] enrascadas amorosas, blá blá blá.
Paulo Rebêlo // setembro.2001 E não é que a Globo inventou de reprisar a bendita Presença que Irrita? Agora que Anita voltou, é hora de tentar explicar o porquê de Nabokov e Balzac estarem se remexendo em suas respectivas tumbas sagradas. A púbere conseguiu o que centenas de pseudo-intelectuais tentaram, sem sucesso até hoje: escamotear duas primorosas obras sobre mulheres em lados distintos da escala evolutiva.