Paulo Rebêlo Terra Magazine 03.agosto.2011 A gente nunca admite por vergonha, mas estamos quase sempre procurando – ou esperando – alguém para substituir algo que perdemos. Os amigos são os mesmos. Família, trabalho e problemas, também. Arquivos do acaso, alguém puxa o mesmo livro que o seu na prateleira da livraria e, sem ninguém lembrar direito como isso acontece, estão os dois sentados tomando um café, uma cerveja ou aquele copo de uísque sem gelo. Humanamente impossível não passar pela cabeça dela, sequer por um segundo: será que ele vai me ajudar a esquecer…? Quando o ‘ele’ em questão é você, é melhor suspender as ilusões platônicas e mandar trazer o gelo. Porque em momentos assim, tudo que nós precisamos ser é alguém para ajudar a colocar uma pedra naquela cicatriz meio aberta, meio fechada, mas exposta o suficiente para ela não ter mais se interessado de verdade por ninguém. Até agora. É quando nos tornamos uma espécie de cópia de segurança psicológica. Afinal, ela tem todos os motivos do mundo para não precisar conhecer, e muito menos se interessar, por gente nova. Não faz diferença há quanto tempo acabou o casamento ou o namoro. Importa que ninguém conseguiu preencher,
Categoria: comportamento
Paulo Rebêlo Terra Magazine | 04.jan.2011 Nunca entendi a razão de mulheres teoricamente adultas, eventualmente belas e supostamente bem educadas, desfilarem seus corpinhos malhados usando roupa de adolescente, falando feito adolescente, bebendo feito adolescente e, desconfio cá com meus botões, trepando feito adolescente. Quando vejo uma mulher adulta usando uma bolsa da Barbie ou um conjunto de roupa todo cor-de-rosa, não sei se me jogo na frente de um trem ou se tiro porte de arma. Prefiro o trem, por causa da Lei Maria da Penha. Ao esbarrar com uma criatura usando bolsa da Barbie, a primeira coisa que me vem à cabeça é que ela também deve usar calcinha com desenhos estampados. E não tem nada mais brochante do que “calcinha de bichinho”. Imagine a cena. Alguém levanta o seu vestido no maior amasso e, de repente, dá de cara com os ursinhos carinhosos, o Bambi, o Rei Leão ou o Mickey Mouse. Filhota, você não vai emagrecer em 2011, então estabeleça metas alcançáveis: pare de usar calcinha de bichinho. Veja você. Em comunicado oficial, o grupo Vigilantes do Peso do Brasil me diz que ajudou o país a emagrecer 330 mil quilos em 2010. Somente em Brasília foram
Acho que nunca vi um filme da Lindsay Lohan e não escuto a menor graça na Amy Winehouse. Mas tenho simpatia pelas duas, só por causa da mobilização mundial em relação ao que elas bebem da vida. Da sua bisavó à netinha de cinco anos, sempre vão condenar a coitada da Winehouse por não ter limites. Na minha religião, o céu é o limite. E as pessoas deixam as outras pessoas beberem em paz. Se você quer fazer sua Despedida em Las Vegas bebendo até morrer, vá em frente e não prejudique ninguém. Eu até pago as primeiras rodadas, só para manter distante a família de olho na herança, os amigos que nunca estavam lá quando você realmente precisava e as revistas de fofoca que todo mundo diz que não lê, mas decora página a página. É uma paranóia parecida com aquele pessoal que às 10h da manhã olha para a garrafa de uísque e não tem coragem de descer uma dose porque acha feio ou socialmente errado beber pela manhã. Tomo uma cerveja de trigo quando acordo às 11h ou um suco de laranja com cinco dias de atraso? Qual dos dois tem mais vitaminas? E no domingo, esquento
A gente se preocupa demais em conquistar as mulheres. Sempre sob a doce ilusão de que somos nós os responsáveis por cativá-las o interesse. O difícil não é conquistar. Nem manter a continuidade da conquista. É exatamente o oposto: fazer com que elas percam o interesse na gente e tomem a decisão de ir embora por conta própria. Fica o desafio a quem quiser arriscar. Os homens tendem a achar que, quando se perde o interesse por alguém, basta ir ali comprar cigarro ou arrumar outra. Azar nosso e delas, pois a maioria das mulheres pensa diferente. Porque a feiúra é o ícone da paixão irracional. Se beleza não põe mesa, mas abre o apetite, para elas a fome é multifacetada. Quantos homens feios você conhece que estão com mulheres maravilhosas? Uma centena. Já fui um deles. E não sei explicar. Ninguém sabe. O olho de Thundera feminino vai muito além de personalidade ou inteligência. No auge da minha juventude e de uma vã filosofia de botequim, imaginei que se eu procurasse ficar muito feio, talvez tão feio quanto o Cegonha, eu voltaria a ficar solteiro sem o peso na consciência de acabar o relacionamento com uma moça linda, inteligente e que
Paulo Rebêlo 08.março.2010 Terra Magazine link Não sei a quem devo mais: às mulheres que um dia passaram pela minha vida ou ao Banco do Brasil. A diferença é que, um dia, talvez eu consiga quitar minha dívida com o banco. Com as mulheres, vamos morrer em débito. Com elas aprendemos a amar e a trair. E que às vezes amar é trair. E trair nem sempre é exatamente falta de amar. Mas, na vida de um bruto, o maior legado das mulheres é ensinar que amar também é deixar ir embora. Porque mais difícil do que ir embora do presente, é ir embora do seu futuro. E ninguém sabe fazer isso tão bem quanto elas. Somem como fumaça e montam uma nova vida como um passe de mágica. Enquanto o seu único abracadabra são noites insones a esperar que ela bata na porta de madrugada. Demora muito, às vezes uma vida inteira, até você aprender que não se trata somente de deixar ir embora. Trata-se, principalmente, de deixá-la ir embora e torcer para que ela tenha toda a felicidade que você sempre quis dar e não conseguiu. Não importa se por incompetência, inércia, conformismo ou pouca fé. Ela iria embora independente das causas. Até
Enquanto muita gente passa o mês de dezembro fazendo listas de tarefas para o próximo ano, eu só consigo pensar nas malditas caixinhas de Natal. Quem inventou essa desgraça? Na maioria dos lugares onde penduram a caixinha, o pessoal recebe 13º salário. Eu não recebo 13º há muito tempo e ainda preciso colaborar para o chester alheio? Todo ano penso em fazer uma caixinha só para mim. E pendurá-la no pescoço. Na barriga eu penduro uma placa com letras verde-limão “eu não recebo 13º, por favor colabore”. Nas costas poderia pendurar uma cópia da minha carteira de trabalho. Desisti da idéia porque vi que não dá para lutar contra a concorrência. Nos últimos seis meses, quase todo dia tomo café da manhã na mesma padaria ao lado de casa e levo moedinhas contadas para os R$ 2,50 do pão com queijo na chapa. Nos últimos seis dias, além de ouvir um sonoro bom dia (detesto), os dois rapazes da chapa ainda fazem questão de dizer que capricharam no queijo. Claro, de frente para mim tem uma caixinha de Natal. Vou com minhas moedinhas contadas até o caixa. Lá tem outra caixinha. Como se a gente fosse um porquinho de madeira