Paulo Rebêlo Terra Magazine 05.outubro.2011 Segunda-feira, a jovem manceba chega ao escritório com o sorriso na testa. Antecipa-se a todos para dizer que “beijou muito” no fim de semana. Foi para todas as baladas, dançou, esfregou, pegou geral. As colegas aplaudem, comentam, pulam, incentivam. E se aquelas donzelas preferissem trocar toda a pegação da balada por um final de semana em casa, assistindo Zorra Total na televisão, com um pote de häagen-dazs no colo e um namorado coxinha que segure a mão delas enquanto ri com as piadas super engraçadas do Chico Anysio ao telefone com a Dilma? E elas acordariam cedo no domingo para brincar de casinha: ir ao mercado fazer a feira da semana, comprar iogurte light, frutas frescas e verduras orgânicas. Para depois ir almoçar com os pais TFP do coxinha, em verdadeira comunhão familiar. Não é ficção. Ainda não consegui entender como tanta gente, cada vez mais jovem, sonha com uma vida assim já tão cedo. Mesmo depois de todas as revoluções culturais, sociais e sexuais que tivemos nas últimas décadas. Justamente para que nossos filhos e netos pudessem ter a liberdade que a gente não teve. Essas moças e rapazes podem fazer tudo que nossas
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Se o homem nasce só e morre só – como pregava Aristóteles – então por que as pessoas vivem com medo de viver só? Todo santo dia a gente escuta os homens reclamando que não aguentam mais as esposas e as mulheres que não encontram mais maridos. Enquanto uns têm de medo de largar o osso, outros esquecem de viver porque passam a vida inteira esperando o osso sagrado cair do céu. Em ocasiões assim, sempre imagino Aristóteles, Nietzsche e Milan Kundera numa mesa de pôquer do além. Queria ser apenas o dealer. Distribuo as cartas e recolho os argumentos em forma de apostas. Ou apostas em forma de argumentos. A aposta é simples: de Aristóteles (384 a.C – 322 a.C) a Kundera (1929 – ), quem é capaz de encontrar alguém que viva a vida sem querer encontrar outro alguém para não ficar sozinho no mundo? Porque quando sete bilhões de pessoas no planeta nascem programadas para viver em função desta única busca durante toda sua existência, talvez seja a hora de pedir parada, pagar a conta e se enforcar com o fio dental. Dobremos a aposta. De Aristóteles para cá, se durante todo esse tempo a vida inteira das pessoas se resume