Paulo Rebêlo Terra Magazine 21.setembro.2011 link Não gosto de usar paletó. Falando assim, parece o velho clichê de querer ser informal ou tentar reafirmar a condição de homem primitivo. Mas é apenas uma aflição ideológica. Não sei o motivo, mas as pessoas costumam me tratar muito bem quando estou de paletó. E isso faz o nó da gravata apertar demais a minha garganta. Sempre me questiono por que não recebo o mesmo tratamento de estranhos quando estou com minhas calças de pano e meu kichute genérico? É a mesma pessoa. Não é uma aflição recente. Comecei a reparar na diferença quando, ainda bem jovem, ouvi de uma moça que nenhuma mulher resiste a homem de paletó. Não quis nem saber o motivo. Quase corri na loja mais próxima para comprar vinte paletós e quarenta gravatas. Com o passar dos anos e por força eventual do ofício, percebi que não eram apenas as mulheres que me olhavam diferente. Se as mulheres parecem olhar com mais interesse, os homens parecem falar com mais respeito, reverência ou medo. Às vezes é difícil diferenciar uma coisa da outra. Dependendo do lugar e do momento, o paletó transforma-se na Matrix. Uma realidade paralela onde um simples terno
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Paulo Rebêlo // novembro.2003 Toda separação dói. Só muda a intensidade. Separações planejadas, programadas, surpresas, temporárias, inesperadas. Talvez nenhuma machuque tanto quanto as separações abruptas. É como chegar em casa após um longo dia de trabalho, trocando qualquer coisa por um colo e cafuné, para só então perceber que a outra pessoa arrumou as malas e foi embora sem avisar. É de chorar, é de dar tiro na cabeça. Não dei tiro na cabeça porque não ia ter dinheiro para pagar o enterro, mas chorei. Chorei quando, após um longo dia de trabalho, encontrei meu bar predileto fechado. Abruptamente, sem o menor aviso. O bar que tinha cadeira cativa neste coração de pingüim. Sem um bilhete, sem uma carta de despedidas, sem dizer adeus! Sequer uma mísera placa foi colocada na porta, uma desculpa amarela qualquer. Simplesmente, trancaram tudo e foram embora… que nem as pessoas às vezes fazem: sem argumentos plausíveis, apenas com o sentimento de que “não dá mais” ou a desculpa de “vai doer mais no futuro”. Justamente naquele dia em que acordei, de novo, pensando nela. Aquela minha mesa predileta lá no canto, com uma parte encostada na parede e outra na grade. Na distância exata