A arrogância é só uma paixão

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Sem palavras, talvez um pouco bêbado, quando uma mulher é interessante demais a ponto de a gente não saber o que falar. Ou a ponto de ficarmos a procura de qualquer coisa banal para perguntar, com medo que ela perceba que não somos tão interessantes o quanto elas são – ou o quanto elas pensam que somos.

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Budapeste, oito anos

O vovô boxeador que jogava pôquer bateu as botas. Eu já devia ter desconfiado, talvez por causa da demora em responder aos e-mails sobre minha provável visita para mais um churrasco de salsicha. Éramos apenas quatro, às vezes cinco. E ele sempre contava como aprendeu a jogar durante a Guerra da Coréia nos anos 50.

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Os filmes que ela não viu

Deixei de assistir excelentes filmes, sobretudo os clássicos, porque guardava para assistir com ela. Antes, não sobrava tempo. Depois, não sobrou ela.

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O homem backup

Paulo Rebêlo Terra Magazine 03.agosto.2011 A gente nunca admite por vergonha, mas estamos quase sempre procurando – ou esperando – alguém para substituir algo que perdemos. Os amigos são os mesmos. Família, trabalho e problemas, também. Arquivos do acaso, alguém puxa o mesmo livro que o seu na prateleira da livraria e, sem ninguém lembrar direito como isso acontece, estão os dois sentados tomando um café, uma cerveja ou aquele copo de uísque sem gelo. Humanamente impossível não passar pela cabeça dela, sequer por um segundo: será que ele vai me ajudar a esquecer…? Quando o ‘ele’ em questão é você, é melhor suspender as ilusões platônicas e mandar trazer o gelo. Porque em momentos assim, tudo que nós precisamos ser é alguém para ajudar a colocar uma pedra naquela cicatriz meio aberta, meio fechada, mas exposta o suficiente para ela não ter mais se interessado de verdade por ninguém. Até agora. É quando nos tornamos uma espécie de cópia de segurança psicológica. Afinal, ela tem todos os motivos do mundo para não precisar conhecer, e muito menos se interessar, por gente nova. Não faz diferença há quanto tempo acabou o casamento ou o namoro. Importa que ninguém conseguiu preencher,

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O homem elefante

Paulo Rebêlo 23.novembro.2010 Terra Magazine Invejo as pessoas de memória fraca. E desconfio que elas sejam mais felizes. Antigamente, minha memória avantajada era motivo de orgulho. Hoje é um pouco maldição. Pode ter sido alguma pancada na cabeça. Antes dos três anos de idade, não lembro de absolutamente nada. Parece-me normal. O que me parece pouco normal é lembrar, dos três anos em diante, até da posição onde ficavam os brinquedos do primeiro colégio onde estudei, o Abelhinha, em Santarém, no Pará. E de todos os outros. E de todos os amigos. E dos sonhos deles, das frustrações e das alegrias também. E de tantos detalhes de diálogos, atividades, argumentos e até paisagens de um monte de gente que, às vezes, só vi uma vez na vida. Os anos passam e a gente não esquece de (quase) ninguém, querendo saber por onde estão e por que deixamos eles sumirem do mapa sem deixar um telefone, um endereço, um pombo correio. A gente se muda pela décima quinta vez na vida e, em vez de malas com roupas, objetos e compras, trazemos apenas o peso da lembrança de pessoas interessantes e bons amigos que ficam para trás. Amaldiçoados sejam eles. Porque nós já somos. E

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Despedidas de um homem casado

Terra Magazine – abril.2010 Não parece, mas toda mudança me parte o coração. Seja de bairro, cidade ou país. Seja em lugares onde morei cinco anos, cinco meses ou até mesmo cinco semanas, como já aconteceu certa vez. Do dia em que cortaram meu umbigo gordo até hoje, são 14 mudanças de CEP. Com exceção de uma, na qual ainda era muito guri, lembro de todas as outras 13 como se fosse hoje. Por mais desregrados que tentemos ser, sempre sobra saudade por abandonar as poucas raízes que a gente deixa pelo caminho. E me pergunto se vamos voltar a nos encontrar um dia, nem que seja para um café com bolo de bacia na padaria. É o garçom no bar da esquina que já se considera um amigo e fala dos problemas domésticos, pede conselhos e sempre lhe consegue um pedaço extra de bife sem cobrar nada. É o porteiro que está sempre dormindo quando você chega bêbado e fica no meio da rua, esperando ele acordar e abrir o portão, como se nada tivesse acontecido. É o zelador evangélico que lhe acha um devasso. A secretária que abre um sorriso largo quando lhe vê, por causa do bombom de cupuaçu.

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