Eremita Insone S.A.

Paulo Rebêlo // nov.2007 Quando você aprende a conviver em harmonia com a insônia, ela pode até se tornar uma aliada. Enquanto os outros dormem, abre-se um universo paralelo que inclui pessoas, lugares, cheiros, comidas e até animais que, a priori, não existem para a sociedade do horário comercial. Depois de anos por amaldiçoar frustrações passadas pela insônia, com o tempo de aprendizado noturno as pessoas começam a reclamar é quando o sono chega antes de o sol nascer. Pois é justamente nesse horário, no qual até os meliantes adormecem, que você consegue apreciar o azul de uma bebida, o sabor de uma conversa e a compaixão de um vira-lata. Com o tempo, você identifica aqueles lugares cujas portas não fecham antes do primeiro raio de sol. Ali, você vai encontrar sempre os mesmos garçons puxando uma soneca enquanto não aparece um cliente. Ao entrar, eles se recompõem, ajeitam a gravata na gola e se aproximam rapidamente. Não para trazer o cardápio, não para perguntar qual é a bebida. Porque tudo isso eles já sabem decorado. Aproximam-se para reclamar. Afinal, já faz tempo desde sua última visita. Eventualmente, pedem para você olhar um caderno com exercícios do supletivo que o

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Mulher para casar é ambulância

Paulo Rebêlo // outubro.2007 Aquela ali é para casar. Eis uma expressão enigmática para a maioria das pessoas. O que faz um homem apontar o dedo e achar que aquela mulher é para casar? Já me responderam de diversas maneiras, sempre honestamente, em vias alternadas e não necessariamente excludentes: tem que ser rica. Tem que ser bonita. Tem que ser magra. Tem que ser inteligente. Tem que saber conversar. Há de ter senso de humor. Deve ser maleável. Paciente. Carinhosa. É comum – para homens e mulheres – estabelecer critérios. As variações são inúmeras. E é claro que, às vezes, somos tudo isso e mais um pouco, mas nem assim dá certo.

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Pílula do Esquecimento

Paulo Rebêlo // maio.2005 Muita gente gostaria de voltar no tempo. Para consertar quebradeiras, acertar o que deu errado, tentar de outro jeito, não deixar aquela pessoa ir embora. Como a viagem no tempo só existe nas fórmulas matemáticas dos físicos, o jeito é esperar que a ciência consiga inventar uma pílula do esquecimento. Afinal, se não podemos voltar no tempo para remediar as burrices da vida, ao menos poderíamos tomar um remédio diário para esquecer as piores frustrações. O efeito seria paulatino. Um comprimido por dia e, aos poucos, você vai esquecendo.

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O homem bonzinho e seus colóquios

Paulo Rebêlo // março.2005 É muito tênue, quase inexistente, a linha que separa um homem bonzinho de um homem tolo. Adjetivo este que doravante poderá ser substituído por mané, paspalho, inepto, insosso ou zé ruela. É comum generalizar que o homem bonzinho ‘nasceu ontem’ — uma expressão redundante para aqueles homens que só querem agradar. Porque é preciso ser bem inexperiente para não saber que homens a agradar demais sempre ganham um agrado na testa. Ou melhor, um par de agrados.

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O galo belzebu e o duelo de titãs

Paulo Rebêlo // junho.2003 A rotina é conhecida, resultado de freqüentes noites insones em que o olho simplesmente não quer fechar, nem com esparadrapo. Cinco horas da manhã. Com todas as cortinas do cafofo fechadas e todas as luzes apagadas, em uma pueril tentativa de enganar o próprio inconsciente, ainda tento acreditar que é noite, que conseguirei dormir algumas poucas horas antes de o mundo começar a girar.

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Pijamas e namoros

Paulo Rebêlo // junho.2000 O nhém-nhém-nhém começa em maio. Algumas agências de publicidade se arriscam a anunciar o dia dos namorados um mês antes, com os clichês que ninguém conhece: “você não vai deixar de comprar o presente da sua namorada na última hora, vai?”. Ainda em maio, os motéis começam a anunciar as promoções para o mês de junho: “em junho, mês dos namorados, suítes luxo pelo preço das simples” e por aí vai. Tudo muito belo, tudo muito bonito. Chega o mês de junho, e logo nos primeiros dias o bombardeio de publicidade começa. No trânsito, parece que todos os outdoors falam o mesmo idioma: promoções para o dia dos namorados, belos casais se abraçando — com a logomarca de determinadas empresas ao lado — e mensagens românticas estampadas no letreiro. É interessante notar como, nas propagandas, todos os namorados são iguais. Belos, brancos, felizes e com dinheiro para gastar.

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