Quanto mais a gente estuda, parece que menos a gente sabe sobre o mundo de verdade. Ou o mundo que interessa.
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Paulo Rebêlo NE10 | 03.junho.2012 | link Nosso maior medo é que ela se case com outro. Não importa quantos namorados ela arrume, quantas viagens ela faça e com quantos homens ela resolva ter um caso. Desde que não coloque uma aliança. Porque enquanto ela não casar, sempre há esperança de que ela vai voltar. Até que ela resolve casar. E de repente, tudo perde o sentido. Só que os anos passam e a gente começa a refletir sobre a quantidade de mulheres casadas que conhecemos depois daquele fatídico convite de casamento. Então, pensamos: se o casamento pode perder o sentido para tantas mulheres, talvez um dia também perca o sentido para ela. Nosso maior medo pode ter se transformado em apenas mais um dentre tantos outros casamentos falidos pelo mundo. Voltamos a ter uma certa esperança de reencontrá-la. Até que ela resolve ter um filho. E tudo perde o sentido mais uma vez. Porque filho é para vida toda e ela sempre compartilhou esse sentimento conosco. Mesmo que ela não goste do marido, mesmo que o casamento esteja falido, se ela resolveu ter um filho com o mesmo cidadão é porque para ela nada mais pode dar errado. Não há
Paulo Rebêlo NE10 | 13.maio.2010 | link A senhora minha mãe que me perdoe, mas no Dia das Mães o meu saudosismo maior não é direcionado a ela. O que realmente me tira o sono é tentar descobrir o que se passa na cabeça das mães solteiras quando elas são bombardeadas pelos outdoors com famílias de novela, assim, nesse mundo perfeito da propaganda onde todos os homens são fiéis e todas as crianças são felizes. Talvez seja esse o maior charme das mães solteiras: elas são as únicas mulheres que realmente conseguem separar ficção da realidade. Mas, com toda a apelação comemorativa do dia, será que elas sentem mais saudades do ex-marido do que nos outros dias? Será que elas se arrependem ou se orgulham de ter tomado a decisão de ir (ou deixar ir) embora e criar os filhos sozinhas? Em momentos assim, me pergunto se elas realmente compreendem que são muito mais mulheres do que as outras mulheres? Quando olho para a fila de espera nos restaurantes e nos shoppings no Dia das Mães, quase não vejo homens. Estão as mães, avós, filhas, netas, sobrinhas, todas reunidas naquele almoço ou jantar, mas geralmente só aparece um tio e
Paulo Rebêlo | 14.dez.2011 Terra Magazine *** Sou contra casamento na igreja, noivado, aliança, anel de compromisso e, hoje em dia, até mesmo a morar junto todos os dias da semana. Mas sou a favor de um contrato nos relacionamentos. Com registro em cartório e reconhecimento de firma de pelo menos duas testemunhas. Teria apenas uma cláusula: terminada a relação, as partes concordam em se encontrar a cada quatro anos para tomar um café, uma cerveja ou um tacacá. A fim de evitar ciúmes dos respectivos e atuais cônjuges, se necessário o encontro pode ser filmado pelas câmeras de segurança do estabelecimento ou intermediado por uma testemunha idônea, de mútua amizade e ilibada conduta. Porque é sempre uma aflição quando os anos passam e a gente não tem mais notícia de quem passou por nós. Nem por Facebook. Não se trata de saber se a pessoa casou ou encalhou. Até porque elas sempre casam e procriam, é impressionante. Não necessariamente nesta ordem. Queremos apenas saber se, mesmo casada, ela está bem de verdade. Se está feliz, se gosta do trabalho atual, se não apanha do marido, se já teve os quatro filhos que queria ou se já entrou no Bolsa Família. Enfim,
Paulo Rebêlo Terra Magazine 05.outubro.2011 Segunda-feira, a jovem manceba chega ao escritório com o sorriso na testa. Antecipa-se a todos para dizer que “beijou muito” no fim de semana. Foi para todas as baladas, dançou, esfregou, pegou geral. As colegas aplaudem, comentam, pulam, incentivam. E se aquelas donzelas preferissem trocar toda a pegação da balada por um final de semana em casa, assistindo Zorra Total na televisão, com um pote de häagen-dazs no colo e um namorado coxinha que segure a mão delas enquanto ri com as piadas super engraçadas do Chico Anysio ao telefone com a Dilma? E elas acordariam cedo no domingo para brincar de casinha: ir ao mercado fazer a feira da semana, comprar iogurte light, frutas frescas e verduras orgânicas. Para depois ir almoçar com os pais TFP do coxinha, em verdadeira comunhão familiar. Não é ficção. Ainda não consegui entender como tanta gente, cada vez mais jovem, sonha com uma vida assim já tão cedo. Mesmo depois de todas as revoluções culturais, sociais e sexuais que tivemos nas últimas décadas. Justamente para que nossos filhos e netos pudessem ter a liberdade que a gente não teve. Essas moças e rapazes podem fazer tudo que nossas
O mundo gira, os anos passam, o buraco de ozônio aumenta e as pessoas continuam a acreditar em discursos seculares sem propósito algum. Vamos nos separar, mas vamos continuar amigos, diz a fulana para as colegas na academia de ginástica. Por mais que você acredite neste discurso, no fundo sabe ser humanamente impossível gostar muito de alguém e vê-la nos braços de outra pessoa e ainda ser aquele amigo para as horas de angústia ou alegria. É balela do tipo premium. Convívio civilizado não é amizade. E às vezes é pura necessidade quando há filhos na equação. Ex-namorados podem ser amantes, nunca amigos. Se forem, na prática é porque nunca sentiram nada realmente comovente ou foi só um passatempo ou namorico de adolescência. Em geral, um dos dois sempre vai gostar mais do que o outro. E não vai engolir essa de amizade depois que a gente vai embora. Até tentam, mas não leva muito tempo para um dos lados pedir penico e sumir do mapa. A gente conhece outras pessoas, se apaixona novamente, casa e tem filhos, se separa, casa de novo, mas ninguém fica amigo de ninguém. Se nem Albert Einsten conseguiu decifrar os mistérios matemáticos do tempo,