Paulo Rebêlo Terra Magazine * 08.fevereiro.2011 Eu aceito – e entendo – quando ninguém do hemisfério norte acredita que sou brasileiro. Com a benção do futebol e das globelezas, os estereótipos de 500 anos seguem firmes e fortes por mais 500. Só nunca vou aceitar – e nem entender – como o Brasil tem metade da população de cor branca e, a esta altura do campeonato, já com meus primeiros fios brancos da barba à paisana, eu ainda precise explicar que não sou gringo. Jogue-me no pelourinho ou na praia. Em qualquer ponto turístico. Até no Piscinão de Ramos. Se eu não fosse tão baixinho e buchudinho, sairia no tapa com o primeiro cidadão que tenta me vender uma rede fuleira por duzentos reais ou um acarajé seboso por cinco euros. Quase nunca vou à praia. Pelo mesmo motivo que não como caranguejo. Não é alergia, é apenas preguiça. De me explicar pela milionésima vez e de bater o martelinho mil vezes. Quando vou a qualquer praia, basta puxar meu Sundown fator 50 ou tirar minha camisa de botão. Parece uma sirene do Samu, o vendedor vem correndo em minha direção. Para oferecer uma caipirinha. Aparentemente, vendedor de praia não percebe
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Em uma ruazinha escura na parte alta de Budapeste, encontrei uma taberna belga onde, quase sempre, eu parecia ser o único cliente disposto a voltar. De todos os colegas que levei, só dois ou três admitiram ter gostado, mas ninguém pedia para voltar. Gostava não apenas pela cerveja e pelo tempero diferente, mas porque o dono, um senhor belga de poucas palavras, sempre colocava um jazz bem tradicional para ouvir. E foi ali que mentalmente precisei pedir desculpas a Thomas Friedman e seu excelente livro-argumento de 2005 de que o mundo é plano. Não é. Friedman diz (no livro) que precisou ir à Bangalore para entender como a globalização tem mudado os conceitos socioeconômicos e que hoje o mundo tornou-se plano. Sorte a dele. Porque eu precisei de bem mais do que algumas, talvez muitas viagens ao desconhecido para achar que o mundo é só uma bola. E de uma música ridícula para ter certeza. Depois de cinco litros de Leffe Blond, uma iguaria dos mestres cervejeiros belgas, sai da caixa de som a voz sintetizada de Dido, uma insossa e magrela cantora britânica. Devo ter perdido o horizonte por uns minutos e o máximo que pude responder a meu curioso interlocutor
Paulo Rebêlo The Budapest Sun – 14.mar.2007 Is Budapest a big city? It depends on whom you ask. One of the demographic oddities of Latin American countries is the general absence of medium-sized cities. We have huge metropoli – usually capital of a State – where most people live nowadays. And then we have thousands of small cities, especially in the rural areas. In Brazil, this is particularly odd, because the landmass has such continental measures that, in theory, we should have more medium-sized cities and less populated mega- cities.
Paulo Rebêlo The Budapest Sun – 14.fev.2007 – link original You have just finished a delicious duck breast with croquette potatoes. You are feeling good after the nice wine, directly from the Hungarian countryside. The palacsinta pancake for dessert was marvelous. You are full, your belly feels happy (and bigger) and all you want on Earth right now is to pay the bill, go home and have a good night’s sleep. There’s only one problem: you can’t leave the bloody place. No matter how hard you try to look for the waiter, or raise your hand once in a while, no one will see you. No one will notice that you are done and want to actually pay; they will make you wait until a good soul finally comes to see if you need anything. When they realize you just want to pay and leave, they will make you wait again. And then a bit more.
Paulo Rebêlo The Budapest Sun – 21.dezembro.2006 link original The holiday season is a time when people get along more, cherish each other and even find themselves to be a little more romantic. In other words, it means that nine months from now we’ll be seeing hundreds and hundreds of shiny-lovely-little-Hungarians being born in Budapest. It is the joy of nature, the magic of procreation. There is only one minor problem: they will all be called Gábor. In the beginning of my stay around the city, I thought it was just my personal impression, perhaps the wrong stereotype that we, as foreigners, commonly carry about a place we don’t know. Perhaps it was by chance that I was meeting dozens of Hungarians with the same name, five out of 10 called Gábor. But after few months and a few wines shared with a lot of Gábors later, I have realized there is an ancient and unsolved mystery in Hungary about people’s names. And it should remain unsolved, because it seems no one can clearly explain why on Earth this happens in Hungary. Some say it’s due to the role of having the family name before the first name. Hard to
Paulo RebêloFolha de S. Paulo – 18.nov.2006 (link original) BUDAPESTE – A morte de Ferenc Puskas, chamado de Öcsi (irmãozinho) pelos húngaros, causou grande mobilização ontem em Budapeste, com autoridades correndo para fazer anúncios públicos no rádio e na TV. O primeiro-ministro da Hungria, Ferenc Gyurcsány, classificou o ex-jogador como o húngaro mais conhecido do século 20. “Com ele dizemos adeus à era mais gloriosa do futebol húngaro. Sabíamos que Puskas Öcsi estava muito doente, mas não poderíamos nunca estar preparados para o seu falecimento”, disse o premiê. O húngaro-brasileiro André Adler, que visitou Puskas pouco depois da internação na UTI, faz parte de uma geração que sentiu o orgulho pátrio no máximo com Puskas. “Cresci no Brasil, orgulhoso de tê-lo como a melhor explicação do meu país.” Um dos companheiros de Puskas na seleção húngara, Jeno Buzanszky considera a morte uma tragédia. “O maior esportista deste país se foi.” Na semana retrasada, quando Puskas ainda mostrava sinais de que poderia ter seu quadro de saúde estabilizado, a revista “Matala” publicou uma lista dos 50 húngaros mais ilustres de todos os tempos. No topo do ranking, o astro foi definido assim: “Só os húngaros discutem se Puskas é o maior