Paulo Rebêlo 21.set.2010 Terra Magazine link A maior crueldade que uma mulher impõe a um homem é mostrar que não se recupera o que se deixou escapar. Marca o início de uma longa jornada de lembranças enviesadas e memórias chamuscadas sobre uma vida que poderia ter sido e não foi. Antigamente, a gente recebia o convite do casamento pelos Correios. Em geral, endereçado aos pais. Ficava sabendo pelos amigos em comum. Lia em letras miúdas no jornal. Com sorte, saberíamos anos depois. Com azar, o filho dela seria colega de classe da sua filha. Hoje, tem gente mais preocupada com o status no Facebook do que com a benção do padre e o carimbo do cartório. Em vez de saber anos depois, você descobre anos antes. Que ela já se foi. Que ela planeja ir embora. Que ela se vai. Que não pretende voltar. Os amigos em comum talvez nem existam mais. Tornaram-se desnecessários. Você a lê indo embora aos poucos. Até o dia em que ela se casa e você percebe que ela nunca se foi, você que ficou parado enquanto os anos passavam para ela. E sua única esperança recai em aderir às crendices tolas de vidas passadas ou