Velhas piadas de velho

Paulo Rebêlo
01.março.2013
Portal NE10 / JC Online
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Quando a jovem manceba entrou na sala de reunião com aquele vestido solto e florido, logo perguntou para a amiga ao lado se estava bonita. O passo seguinte era óbvio: faltava a tal opinião masculina.

Ao olhar para aqueles belos sebitos torneados, estranhamente meu primeiro pensamento não foi de luxúria. Foi de piada: Mas que beleza de Coscarque.

A moça dos sebitos continuou ali, imóvel e atônita, olhando em minha direção naquele suspense emocional a esperar uma resposta sobre a suposta projeção de sua beleza.

A colega ao lado deu de ombros como se eu estivesse falando grego. Foi quando compreendi: eu realmente estava falando grego. Nenhuma das duas lembrava mais de Coscarque. E não era a primeira vez que isso acontecia nos últimos meses.

Acho que a vida de um homem começa a declinar de verdade quando as mulheres, principalmente as bonitas, não conseguem mais entender aquelas nossas piadinhas de improvável embasamento histórico e cronológico.

Não se trata de insanidade temporária, demência alcóolica ou nossa velha conhecida senilidade.

É apenas como se o cérebro das moças de hoje funcionasse em outra frequência, uma espécie de UHF invertido na repimboca da parafuseta. Uma frequência que não consegue mais construir pontes menos óbvias de linguagem e de diálogos mútuos entre assuntos aparentemente aleatórios para, enfim, entender uma ironia fina ou uma sutileza grossa.

É verdade, não conseguimos entender boa parte das conversas das ninfetas de hoje. Elas começam a falar dos 38 seriados que estão assistindo ao mesmo tempo e não param mais. Deixam qualquer tiozinho Lost. Eu sei, não tem graça nenhuma esse trocadilho infame, mas, pelo menos, estamos tentando nos manter atualizados…

Mas elas não precisam rir. Poderiam, pelo menos, entender nossas piadinhas. Nem que seja para dizer que não teve graça. Ou para lhe chamar de velho safado. Ou para sugerir que a gente vá participar do programa de calouros do Raul Gil, nosso chapa. Só isso já seria o pipoco.

Mas é tudo uma grande injustiça. Já temos que lidar com uma careca lustrosa, uma barriga imponente, um milheiro de fios brancos e uma televisão que não tem aparelhinho para assistir 38 seriados simultâneos.

Tudo o que nos resta, para o sucesso das relações interpessoais e intrauterinas, são os neurônios que ainda não morreram afogados no mar de uísque. E o sorriso de uma mulher bonita é como um bote salva-vidas.

Se chegar o dia em que até nossos neurônios afogados não sirvam mais para arrancar uma risadinha sapeca, o que irá sobrar em termos de autoafirmação masculina no expediente?

Sério, não sobra mais nada.

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