Paulo Rebêlo // julho.2003
A palavra azeitador não está classificada no dicionário. Não tem nada a ver com azeite. Ou até tem, depende do ponto de vista. Azeitador é simplesmente o bondoso cidadão responsável por fazer a troca de óleo nas mulheres, a partir das necessidades exclusivas delas. Bem-azeiturados são aqueles que já assimilaram a verdade: os engates do maquinário feminino requerem troca de óleo tanto quanto os engates masculinos. A natureza assim definiu.
As mulheres, paulatinamente, acordam à realidade e param de ficar esperando príncipes encantados ou aquele cara que “vai me assumir”. É quando entra em cena o azeitador, que efetua uma nobre e necessária manutenção no maquinário, sem responsabilidades posteriores típicas do bom moço mauricinho.
Como diz o sábio filósofo baiano Renato Fecchine: ele diz que é valentão, que quer tudo arrumadinho; só que quando deita longo ronca, e quando acorda está bem murchinho.
Quando o condutor oficial do maquinário feminino não sabe (ou não quer) mais fazer a fogueira pegar fogo, entra em cena o capeta dos engomadinhos, o Freddy Krueger dos engravatados, o anti-cocotagem, o verdadeiro profissional: o azeitador de maquinário.
Oficina de plantão e borracharia 24h
Todo homem adora ser convocado, às vezes em caráter de urgência e no meio da madrugada, para azeitar um maquinário. É uma questão de assistência social, de boa ação com a humanidade. Às vezes, até de convicção religiosa: quem não lembra da parábola do Bom Samaritano?
Pois é. Um telefonema padrão, naquela sexta-feira à noite solitária:
— Alô, Fulano?
— Olá, Beltrana. Que surpresa, ligando a esta hora. [ depois de um breve blá-blá-blá tradicional… ]
— Fulano, você está muito ocupado? Não queria atrapalhar.
— Estou sem fazer nada. De repente podemos combinar alguma coisa?
— Olha, peguei um filme ótimo na locadora, mas não gosto muito de assistir filme sozinha. Você me conhece, né? [claro que o azeitador conhece, até demais]
– Eu poderia comprar uns sanduíches e passar aí, que tal?
– Que bom. Mas não pense outra coisa, é só para assistir filme, viu?
Ao dizer “é só para assistir filme” ou “quero apenas conversar, nada mais” e outras variações do gênero, a paciente deixa claro de que você não dará viagem perdida.
Iludidos são os enamorados que ignoram a existência do azeitador de maquinário. O azeitador geralmente é um ex-namorado; mas também pode ser um amigo mais próximo, um esquema plus ou esquema premium, uma paixão jurássica e reprimida, uma paixão platônica, enfim, todos essas espécimes que vivem de plantão.
A mulher não quer acabar o relacionamento seguro e estável que ela tem, resultado do inconsciente coletivo feminino de “estabilidade acima de tudo, estou ficando velha”. Fazer o quê, então? Mais serviço para o azeitador, versão personnalité.
Com o azeitador, as mulheres se liberam para fazer o que não fazem com o oficial, nos sentidos vertical e horizontal da palavra. Caso a digníssima esteja se sentindo escanteada, sem atenção, sem carinho ou simplesmente insatisfeita na horizontal mesmo, pode ter certeza que sempre haverá um azeitador de plantão para dar assistência física e psicológica. Sempre. E sempre significa sempre, mesmo. Com ênfase no “sempre”.
Freud não explica; O Azeitador, sim
A depender da disponibilidade na agenda do azeitador para bater um papo após a troca de óleo, ele pode até servir como confidente. Quando o azeitador é meio ranzinza, ou até muito ranzinza, às vezes Super Ranzinza, pode atuar como psicólogo emergencial. E funciona, acreditem.
Azeitador de maquinário é uma profissão milenar, não entra em extinção. Então, caro colega, se você não está dando no couro como deveria, mais dia ou menos dia ela irá precisar dos dedicados serviços beneficentes de um azeitador.
No início, toda cidadã desolada com o relacionamento reluta em admitir que precisa de ajuda profissional. Fica se perguntando se o problema não é com ela, fica dizendo para si mesma que é normal, que vai passar. Acontece que o tempo é o senhor da razão e, sem sombra de dúvida, chegará o dia em que o azeitador de maquinário entrará em ação. Até porque o tempo passa mesmo e a gente só vive uma vez.
Jamais podemos culpar o azeitador por namoros falidos. A culpa da incompetência alheia não é do azeitador, ele apenas efetua um serviço profissional de forma prestativa, sempre disposto a ajudar quem precisa. E não cobra nada.
Inclusive, é notório o fato de, muitas vezes, o azeitador ser o responsável por manter estável o relacionamento dos outros. Pois é. Depois de algumas paradas estratégicas com um bom azeitador de maquinário, a mulher até esquece a incompetência do oficial e o relacionamento dos dois (três) segue anos a fio.
O segredo de todo bom azeitador de maquinário é nunca esquecer do lema: elas querem estabilidade e segurança; então, se elas não tiverem isso com outro, vão querer ter com você.
O azeitador de maquinário só tem um bug: não pode se apaixonar. Porque, se isso acontecer, é bom estar preparado para, daqui a alguns meses, ter muita raiva daquilo que você já foi um dia.
1 comments On O azeitador de maquinário
Olha que interessante
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