Mulheres que nos amam

Paulo Rebêlo // março.2003

O ideal é depois de algumas cervejas, mas pode perguntar aos homens que você conhece, pois a maioria terá uma opinião semelhante: os caras que se dão bem com as mulheres mais maravilhosas são, em 90% dos casos, umas mulas. Ou, para entrar na moda do momento, umas éguas pocotós. Alguns, oito vezes mais gordos e feios do que você. E umas vinte vezes mais ignorantes. Em uma visão estritamente ranzinza, é claro.


Então significa que o controle de qualidade das mulheres perdeu o controle? Não necessariamente. O que acontece é que os pocotós que se dão bem com as mulheres maravilhosas fazem algo que nós não fazemos ou só fazemos em pouquíssimas ocasiões ou nunca: eles pegam na mão.

Fazem pose de namoro sério para suas amigas e colegas de trabalho, ligam para vocês todos os dias, prestam contas. Se afastam dos amigos, diminuem a freqüência de jornadas nos bares mais sujos da cidade. E se dão bem, mesmo quando todos os amigos – dele – sabem que são os maiores manés.

Tentar refletir sobre o que leva mulheres maravilhosas a escolher cidadãos pocotós que adoram fazer pose é o mesmo que adivinhar a cor do cavalo branco de Napoleão: depois que você descobre o trocadilho, nunca mais cai na piada. E vice-versa.

Até na mesa de bar, que é um lugar sagrado, os pocotós passam a noite toda segurando na mão, com a coluna ereta e o peitoral estufado. Sem nunca esquecer de guardar o celular e a carteira na bolsa dela. Elas acham o máximo. Como se aquele território fosse dele e tivesse sido conquistado a duras penas – quando, na verdade, é exatamente o oposto: eles é que são os escolhidos.

Afinal, quem hoje ainda tem dúvidas de que é a mulher que “escolhe”? É muito simples: mulher ainda tem um certo controle de qualidade, mas homem… umas coxinhas grossinhas já são o suficiente. Existem dúzias de teorias sobre o assunto. Algumas, inclusive, defendidas pelas próprias mulheres maravilhosas quando indagadas sobre a escolha tão desprezível de seres mais desprezíveis ainda.

Uma das teorias, e que não adianta dizer o contrário, é que a mulher zela mais pela segurança do que qualquer outra coisa – ou seja, não adianta você ser joiado e bacana; tem que firmar compromisso, garantir aquela segurança sentimental, o telefonema quase que diário, a prestação de contas para onde você foi ontem à noite e o almoço com a família de vez em quando.

Em outras palavras, você precisa deixar seu lado urso (com trocadilhos) de lado para se transformar numa égua, espécime pocotó. Há teorias de que a mulher nem se importa de estar com um cara tipo pocotó porque ele sabe dar valor a ela, vai querer bajular; enquanto que um cara bacana e descolado não vai saber, pois supostamente já tem muita mulher bonita correndo atrás dele. Ledo engano, porém, visto que geralmente acontece o oposto.

Há teorias de que o pocotó, sabendo que é bronco e que mulher nenhuma vai dar bola, trata logo de passar o dia elogiando e fazendo todos os gostos da eventual mulher maravilhosa que levantou asas para ele. E sempre vai ter uma maravilhosa disposta a isso. Sempre.

Evidentemente, também há aquela teoria da idade. Por mais maravilhosa e inteligente que uma mulher possa ser, o inconsciente
coletivo de casar e se adequar aos padrões da sociedade e satisfazer a família, se intensifica. O medo generalizado (porém com certa razão) de chegar a uma idade que não mais permite a reprodução, invade o consciente, inconsciente e subconsciente feminino.

Quando chega na faixa dos 30 anos, a situação se torna crítica e periclitante. Muitas simplesmente surtam de vez. Resolvem não dar tempo ao tempo. E sempre haverá um pocotó à espreita. Sempre. Uma das complexas teorias filosóficas elaboradas pelo Frei Ranzinza sobre o muy periculoso assunto, uma conseqüência direta de toda sua bagagem religiosa e sacrossanta, é sobre a idade do Cristo.

Se a situação já se torna crítica quando a mulher beira os 30 anos, a tensão piora exponencialmente quando ela atinge a idade de Cristo, 33. Aí, meu amigo, quem estiver por perto – e disposto a ser crucificado – é pego para ser Jesus. E quem não encarar esse evangelho, vira Pilatos. Claro que há exceções, mas as exceções eu deixo para a gramática.