Paulo Rebêlo
Terra Magazine | 06.abr.2012 | link
Quando visitei Buenos Aires pela primeira vez, só não morri de fome por causa da Penélope Cruz.
Tempos depois, seja quando tentei morar naquela cidade ou quando pisei em outro país de língua espanhola, entendi de vez que devia minha sobrevivência a ela.
Se não fosse a dramaturgia da Penélope Cruz, eu não saberia falar minha segunda frase em espanhol: jamón, jamón.
A primeira frase sempre fora ‘La Garantía Soy Yo’, depois de muitas aulas práticas com os camelôs de Ciudad del Leste, no Paraguai.
Quando a fome aperta e você ainda acha que pollo é um tipo de camisa, a salvação é o tal de jamón que você encontra com pão em qualquer bodega de esquina.
O tal do espanhol é um idioma que meu cérebro nunca conseguiu processar direito. Talvez seja preconceito. Talvez uma resistência pós-traumática. Embora seja mais provável ser burrice pura e simples.
Mas talvez seja o medo inconsciente de aprender novas frases e não precisar mais falar jamón jamón me achando um verdadeiro garanhão latino americano.
Sensação reconhecidamente frugal, não tanto por ser baixinho e careca, mas porque esta geração atual de garçonetes e moças bonitas não deve nem ter ouvido falar de Jamón, Jamón, o filme de 1992 que levou os perfeitos seios dramaturgos da Penélope Cruz ao estrelato mundial.
Não faz mal. Enquanto houver jamón nas prateleiras, até a gente pode se achar o Javier Bardem de vez em quando. Elas vão fazer joça, mas não vamos entender nada mesmo.