Invenções do novo milênio – III

Paulo Rebêlo // dezembro.2000

Em continuidade às crônicas anteriores, onde abordamos invenções na área de relacionamentos, vejamos agora o que poderia ser inventado no setor de gastronomia, meu predileto.


BEBIDAS – A longínqua década de 90 (lááááá no milênio anterior) foi a década mais light da sociedade. O pipoco de produtos dietéticos chega a ser ridículo, inventaram até concentrado de caldo de cana dietético. Todo o charme e lirismo daquele caldo de cana seboso do centro da cidade já não existe mais…

Os refrigerantes com baixo teor calórico conquistaram o paladar das pessoas, os cofres do comércio e as comandas das lanchonetes. Se a ciência foi tão generosa conosco, os rechonchudos, por que não há de ser com os pinguços? Invenções ridículas por ridículas, o AA² (Alcóolicos Assumidos) reivindica a criação da cerveja light. Inclusive, nas versões Preta e Cristal.

Ser chamado de gordinho, estriado, redondo, oval, bujão de gás, jamantinha, orca, melancia, obeso, adiposo, grassento, seu barriga, untuoso, volumoso e outros tantos adjetivos até dá para entender. O que não dá para entender é o tal bucho de chopp. Bucho de chopp é dose. E a dose, como vocês sabem, é mais cara do que a cerveja e em excesso dá um chicotinho triste no outro dia. Fumo geral.

Ninguém pode tomar aquele choppinho básico e diário depois da aula ou do trabalho – ou de ambos – sem se preocupar com a saliência abdominal. Para os magros, é desesperador. Se bucho de chopp é feio em gordinhos, multiplique por sessenta e nove e obtenha o resultado de um magrela com bucho de chopp – horrívile.

A cerveja light seria um bilhete premiado para todos. Os pinguços, por não precisarem mais se culpar por não terem se matriculado naquela academia de ginástica; a indústria, por aumentar exponencialmente seus lucros; os bares, por terem um crescimento na receita; os governos, por arrecadarem mais impostos graças a abertura de novos botequins; e principalmente os cientistas, por criarem a invenção do século. Seria a felicidade eterna. Diga SIM à cerveja light.

COMIDAS – Continuando com a tendência saudável, podemos reivindicar que a cerveja light seja acompanhada de petiscos light. Como todos sabem, o que engorda não é a birita, mas sim os petiscos que a acompanha. Existem petiscos light, mas os melhores (na opinião deste que vos fala) continuam sendo um oceano atlântico de calorias: a azeitoninha e o amendoim.

É aquela velha história. Você vai para uma festa, come de tudo (sem duplo sentido) e não tem problema digestivo algum. De repente, você decide comer aquela empada maravilhosa e… bum. Privada na cabeça. A culpa é sempre da azeitona que estava na empada, claro. Como sempre, a azeitoninha.

Até dia desses, nunca haviam me feito o favor de dizer que azeitonas eram altamente calóricas. Depois de muito filosofar, cheguei à conclusão de que os onze quilos que ganhei de recompensa nos últimos oito meses foram por culpa do saboroso hábito de comer azeitonas. Depois que descobri que existe azeitona sem caroço no supermercado, a perdição foi total. Quer dizer, só pra variar, a culpa foi daquela azeitoninha.

Uma colega, para provar que azeitonas engordavam – e muito – mostrou a recomendação de uma nutricionistao: “duas azeitonas (!!!) por mês”. Duas por mês? Qual é, se fosse pelo menos duas dúzias por semana ainda ia. Sendo assim, o AA² reivindica a criação da azeitona light, em versões com e sem caroço, para acompanhar a cerveja light.

Observação: as azeitonas podem ser geneticamente modificadas, o escambau. Desde que sejam light e não engordem.
O comércio haveria de faturar alto com promoções casadinhas do tipo: leve uma vida saudável – compre um vidro de azeitonas light e leve, inteiramente grátis, uma latinha da mais pura cerveja light. Seria tiro e queda.