Nossas diferenças pareciam gritantes, mas o universo ficava mudo diante de um abraço. Súdito do silêncio que sou, aprendi a admirar, respeitar e almejar a suficiência de abraços assim.
Infelizmente para mim, mas felizmente para os homens que vieram antes e os homens que virão depois, essa suficiência do abraço sempre parece pouco, muito pouco, para a maioria das pessoas.
É engraçado porque a equação sempre me pareceu tão simples. Tem o mundo lá fora com milhões de expectativas sobre tudo. E tem o mundo aqui dentro [desse abraço] com zero expectativa sobre nada.
Com o passar dos anos, essa equação foi ficando ainda mais simples a ponto de deixar de ser uma conta.
Antigamente, eu não entendia como as pessoas se amavam e se afastavam mesmo se amando. Não fazia sentido. Hoje, entendo vários motivos que nos afastam dos outros; e faz menos sentido ainda.
Vejo tantas expectativas que se cria em relação ao outro, expectativas geralmente não correspondidas: porque não se quer ou não se consegue.
Se o outro não quer, a gente ama menos porque apenas a gente quer? E se o outro não consegue, a gente deixa de amar por causa da incapacidade de quem se ama?
Viu como é fácil complicar uma conta tão simples?
Minha lista de incapacidades é tão grande que comecei a achar o seguinte: quando a gente começa a complicar a mudez de um abraço, a gente só alimenta nossa própria miudeza diante dele.
O abraço se vai e chega o comboio de expectativas: na falta da família feliz, dos amigos em comum, dos almoços de domingo, das expressões públicas de afeto, das selfies em dupla no instagram, dos planejamentos futuros e das viagens prometidas.
É tanta rota e tanta regra que fica fácil se perder entre o que a gente quer e o que o mundo quer da gente.
Mas se é o que você quer, então é justo. E se justo for, justo sejamos: a gente ama o que a gente sente ou a gente ama a expectativa do que gostaríamos de sentir?
Quando a gente entende isso, geralmente já não faz mais diferença.
FOTO EM DESTAQUE
Uma planta estranha entre tantos galhos secos.
Sítio Santa Catarina, arredores de Monteiro, Paraíba.
Canon 6D | 1/200s | f/5.0 | ISO 100 | 50 mm
Setembro 2019