Paulo Rebêlo | Julho.2020
Pouco mais de uma década atrás, nos encontramos pela segunda vez para tomar café e ela perguntou se eu sabia que levava apenas oito segundos para uma pessoa concluir se vai gostar da outra.
Por mais que eu tenha gostado da objetividade, fiquei meio inerte e passei o resto da tarde pensando na fragilidade das nossas convicções se bastam apenas oito segundos para nosso subconsciente se apoderar de todas as nossas faculdades mentais e enviar o sinal: gostei, hein!
Acontece. É frustrante.
Porque parece que de nada adianta a gente passar anos tentando entender a cabeça e o comportamento das pessoas, conhecendo a si mesmo, procurando o autodesenvolvimento e querendo ser uma pessoa melhor.
Do nada, uma criatura dos céus ou dos infernos tropeça na sua frente e, oito segundos depois, você já acha que vai gostar ou confiar naquela pessoa?
Essa pesquisa foi publicada no Archives of Sexual Behavior e, anos depois, a Microsoft divulgou um estudo próprio sugerindo que a atenção das pessoas é de apenas oito segundos também.
Essa frustração cronometrada sempre me lembrou uma lenda urbana, bem popular nos anos 80, sobre como se deve cozinhar o verdadeiro spaghetti italiano: para saber se o ponto do espaguete está bom durante o preparo, jogue-o na parede. Se grudar, é porque está no ponto certo.
É claro que não há nenhum fundamento no grude do macarrão, inclusive eu acho que na Itália é capaz de você ser assassinado se fizer isso na casa de alguém. E aqui em casa não vai grudar nem se passar cola, pois minhas paredes devem estar cheias de fritura e fumaça.
Mas talvez esses oito segundos sejam a única tentativa (bem mequetrefe) de querer explicar quando alguém diz para você que sua energia é boa, que sua voz acalma ou que seu abraço tem gosto de casa. E que você meio que já sabia antes mesmo de acontecer.
Ou seja, às vezes o espaguete gruda mesmo na parede.
Apesar da fritura, da fumaça, das diferenças ideológicas e adversidades psicológicas.
A ciência nunca foi muito boa em explicar essas conexões e o único espaguete que eu sei fazer é miojo. E leva três minutos.
Foto em destaque:
Um prato gourmet que eu não sei o nome, mas gostei.
Petrolina (PE), junho de 2019. Lançamento de produto e evento.
Canon EOS 6D | 24mm | 1/160 | f/2.8 | ISO 3200
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2 comments On Quando o espaguete gruda na parede
Essa foi uma das melhores (e mais cativante) crônica ranzinza que li até hoje!
Que bom, eu sempre acho tudo meio marromenos por aqui :)