Paulo Rebêlo | julho.2008 | email
Se é para moralizar o Brasil com a lei seca, então façamos bem feito. Está mais do que na hora de proibir, por decreto-lei ou medida provisória, aparelho de telefone celular na mão de bêbado.
Tão ou mais letal quanto um veículo desgovernado, celular na mão de bêbado desfaz casamento, causa confusão no bar e movimenta todo um ciclo de ex-amizades coloridas as quais, por causa de uma simples mensagem no meio da madrugada, podem se transformar em inimigas mortais: daquelas que espalham seus pequenos deslizes para todas as amigas dela, começando pelas mais bonitas.
Uma revisão da lei seca deve prever bafômetros acoplados e não-removíveis na antena do aparelho. Ao se aproximar do dito cujo com o nível etílico acentuado, ele trava as funções de texto ou esconde a opção “enviar”.
As pessoas iam reclamar, como contestam a lei seca atualmente, mas com o tempo – e as ressacas morais evitadas – o índice de crimes passionais e divórcios seria reduzido. Além do mais, sempre tem um otário sóbrio que poderá digitar por você.
Torpedos do capeta
Veja bem, ela já insinuou – ou até mesmo disse, com todas as palavras separadas por sílaba – que não quer mais saber de você, nem pintado a ouro. Tá certo, a ouro ela aceita conversar, mas “só conversar”.
Tanto faz, bêbado não tem memória. Depois (a partir) de meia garrafa de uísque, toda costa que se preze precisa de unhas razoavelmente afiadas. E todo homem é um Casanova, por mais foras que tenha levado, diretos ou indiretos.
Mensagens no meio da madrugada são a perdição dos ex-casais, dos amantes ocasionais, das paixões platônicas, dos chamegos planejados e dos investimentos futuros na bolsa de apostas.
O melhor é que a ressaca não precisa de remédio, basta apertar outro botão ao acordar: o de ‘apagar tudo’, para não correr o risco de ler, enquanto sóbrio, o que escreveu enquanto bêbado.
Ressaca moral de celular, no dia seguinte, seria fácil de contornar se não houvesse um receptor do outro lado. A sua, você dá conta. Os outros, contudo, nem sempre zelam pelo salutar hábito de apagar as mensagens.
Justamente pela falta do salutar método é que citamos, outrossim, as dificuldades matrimoniais com a sana enlouquecida das mulheres que insistem em surrupiar nossos aparelhos, na calada da noite, para conferir as mensagens enviadas e recebidas.
Era tão bom quando tudo que elas faziam escondido era assaltar a geladeira de madrugada e esconder a embalagem do chocolate.
Via de mão dupla
Depois de meia grade ou meia garrafa, nenhum telefone toca alto o suficiente. A gente não percebe, nem quando ele está vibrando feito uma britadeira e cai da mesa. E assim, ingenuamente, voltamos para casa, felizes da vida, sonhando com aquelas unhas afiadas antes de dormir.
E basta o PÍU ou o PRIM, vindos não sei d’aonde dos quintos dos infernos, avisando a chegada de uma mensagem e transformando a rapidinha em uma longa, extensa e infinita discussão relacional que começa sutilmente com “quem é essa rapariga que lhe manda mensagem às 2h da manhã” e geralmente termina com você dormindo na sala por uma semana. Sem travesseiro.
Antigamente, a gente precisava se preocupar com nossas carteiras e os bilhetinhos que as mocréias esqueciam de propósito. Era mais fácil. Se você ainda conseguisse lembrar que 2+2 são 4, antes de entrar em casa bastava jogar fora a tulha de papéis que homem tem mania de guardar na carteira.
Tá certo, eventualmente você jogava fora o cartão de crédito e até o RG por descuido ou apressado, mas é besteira. Afinal, 2ª via de casamento é mais cara e demorada.
Hoje, os pobre-coitados precisam ir tomar banho com o telefone por perto, dormir com ele debaixo do travesseiro ou trancado na gaveta fechada à chave. Responda rápido: quem não envia mensagem rápida pelo celular atualmente? Se você envia, oxalá apenas uma vez por semana, é sinal de que também recebe.
Logo, se o seu aparelho não possui sequer uma mísera mensagem guardada, é o mesmo que dar combustível para a sana enlouquecida da outra: por que apagou as mensagens? Tá querendo esconder o quê, seu safado? E o diálogo segue.
Ao fim, a derradeira revelação: por que toda vez que pego o seu celular, ele nunca tem mensagem? Como assim, toda vez?
As pessoas, homens e mulheres, agora precisam ter três aparelhos: um para você usar; um para o meliante na rua de revólver em punho; e outro como prova jurídica de que celular na mão de bêbado não tem dono.