Agora que a poeira da Copa finalmente baixou, muita gente que comprou TV de plasma embalada pelo ufanismo tupiniquim deve começar a ficar atenta às recentes decisões judiciais contra as fabricantes dessas TVs. O ruim é que, nem sempre, essas decisões chegam ao conhecimento do público, nem mesmo à imprensa. E em tantas outras vezes, o consumidor aceita os acordos propostos nas audiências pelas fabricantes e o assunto cai no esquecimento.
Paulo Rebêlo
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A propaganda enganosa veiculada em todo o Brasil sobre a TV de plasma tirou bastante gente do sério. Foi uma das reportagens que mais rendeu e-mails e telefonemas de leitores, enfurecidos com fabricantes, lojas e vendedores, após um investimento de 6 mil reais em diante. Ao chegar em casa e ligar a TV, o primeiro sentimento da maioria dos compradores é de frustração: a qualidade da imagem é ruim e distorcida.
Conforme vimos nas reportagens publicadas aqui (originalmente na Folha de Pernambuco, veja links ao lado, na coluna da direita), a baixa qualidade da imagem nos canais abertos é apenas uma das preocupações que o usuário deve ter, mas nenhuma delas é informada durante as vendas. As fabricantes, por sua vez, informam apenas parcialmente sobre as fragilidades do produto e, quando muito, no manual de instrução… que o brasileiro médio reconhecidamente não lê.
Em outros casos, há fabricantes que simplesmente não informam, nem no manual, sobre o defeito de burn-in, quando a tela pode ficar marcada por imagens estáticas. Certos representantes das empresas são mais objetivos e honestos, avisam que os modelos de hoje trazem novas tecnologias que ajudam a amenizar o problema, mas que mesmo assim o usuário precisa ter bastante cautela. Entretanto, a maioria das fabricantes e lojas dizem que “não existe mais esse problema nos nossos modelos”. Quando, na verdade, as fragilidades do plasma não condizem a modelo X ou Y, mas são inerentes à tecnologia em si.
Trocas e devoluções –
Em seis anos de Webinsider, nunca uma reportagem rendeu tantos e-mails com pedidos de mais informações e, principalmente, relatos de frustrações. Tanta audiência é resultado, aparentemente, do fator situacional: a proximidade da Copa do Mundo e o excesso das propagandas falando sobre as maravilhas da TV de plasma. Até os principais jornais brasileiros entraram na onda, com notas visivelmente plantadas em colunas ou matérias sobre a corrida dos consumidores às lojas por causa do plasma.
Um dos casos mais notórios foi o de Adolpho Tuchman, que acaba de ganhar uma ação indenizatória contra a LG e a Ponto Frio. O caso é público e quem quiser conferir pode ir ao site do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e consultar o processo 2006.800.078373-3. Tuchman manteve contato conosco durante todo o processo e não foi o único. O que mais lamenta é que, mesmo em audiência judicial, quem representa as fabricantes mantém o discurso nada esclarecedor sobre o produto. A decisão da juíza Lúcia Glioche, do 1º Juizado Especial Civil do Rio, também foi registrada pelos jornais Extra (sexta) e O Globo (domingo).
Em outra vertente, o professor Paulo Roberto Elias conseguiu uma solução mais pacífica e ele mesmo nos relata: “a Philips enviou duas propostas distintas, a primeira das quais, acredite se quiser, com uma oferta da troca do meu aparelho, pelo modelo 50PF9630/78, que custa cerca de 20 mil reais. Eu não entendi nada! A segunda proposta, que eu resolvi aceitar, oferecia o ressarcimento da compra, em depósito bancário. Agora, resta retirar o aparelho e esperar o depósito deles. Para mim, plasma nunca mais.”
No total, foram cerca de 70 a 80 e-mails (e alguns telefonemas) de leitores sobre o tema, dos quais metade davam conta que o comprador voltaria na loja para trocar o produto ou receber o dinheiro de volta, amigavelmente e, em último caso, acionar a Justiça, fora um grande número de e-mails e fóruns técnicos da web.
Entre o céu e o inferno –
TV de plasma é de todo ruim? Certamente que não. É um produto que pode ser maravilhoso, desde que o uso seja adequado às limitações da tecnologia, conforme pode ser visto com detalhe nas reportagens originais (Compra de um monitor LCD exige cuidado redobrado, Vai comprar TV de plasma? Cuidado com o burn-in. e LCD ou plasma, o que é melhor para a sua próxima TV?).
O problema é que, se não é o inferno, a TV de plasma está muito longe de ser o paraíso que as propagandas dizem. Com as novas tecnologias adotadas nos aparelhos mais recentes vendidos nas poucas lojas que não querem desovar o estoque de modelos antigos, há realmente um avanço. Inúmeros compradores possuem uma TV de plasma e nunca tiveram problema, estão bem felizes, inclusive.
A questão mais crucial de toda a celeuma é uma só: por que precisamos ter inúmeros cuidados e restrições com um produto que custa, no mínimo, 5 mil reais? Os modelos novos e bons de 42’’ estão na faixa de 7 mil reais, porém, mesmo assim, é preciso tratá-los como um filho prematuro para não danificar ou manchar a tela com as tarjas pretas. Além do mais, tem o consumo de energia, que é altíssimo (quando comparado a outras TVs) e a resolução que é baixa, quando comparada ao LCD ou a próprio monitor CRT de computador.
Um olho não-treinado, principalmente nas bancadas das lojas, vai achar que a resolução das telas de plasma é ótima. Um “truque” visual gerado pela alta taxa de brilho, cores e contraste. Na vida real, a resolução da maioria dessas TVs é baixa (bem menos de 1024×768 pixels) e quase nenhuma delas é preparada para receber, de forma nativa, o sinal de TV Digital que – um dia – será implantado no Brasil.
Entenda um pouco mais –
As fabricantes juram de pés juntos que os modelos delas não vão dar defeito. Na prática, é uma loteria. Quando são pressionadas pelo consumidor – judicialmente ou não – elas abrem o jogo e rapidamente propõem um acordo ou trocam o aparelho. Essa foi a situação relatada por 80% dos e-mails que recebemos. Para quem está feliz com o plasma e só usa para videogames e DVDs no formato widescreen, nossas sinceras congratulações.
Conversando com representantes das fabricantes ou vendedores, há diálogos engraçados. Por exemplo, uma determinada empresa fala sobre a implantação dos chamados “wobblers”, que são deslocadores de pixels acesos por um tempo determinado (imagens estáticas) que evitam o efeito de burn-in, ou seja, as manchas na tela. No entanto, a mesma fabricante informa na primeira página do manual do usuário que não se pode usar por muito tempo a televisão no formato 4:3, justamente o padrão da TV aberta e da maioria dos DVDs nacionais. Ou seja, deu na mesma e você vai precisar continuar tratando sua TV como um bebê prematuro. Mesmo nos DVDs, a situação é relativa. A maioria dos discos nas locadoras brasileiras são no formato 4:3, já que poucas pessoas possuem televisão ou monitor widescreen.
Nos Estados Unidos, houve casos de usuários processando não apenas as fabricantes mas, também, canais de TVs. Por exemplo, imagine um canal de notícias que mantém a logomarca estática no canto da tela durante toda a programação. Depois de horas, essa logomarca irá, impreterivelmente, manchar sua tela com uma facilidade incrível. Quem tem TV por assinatura pode conferir: canais como CNN, Fox, entre outros, mudaram a logomarca a incluíram movimentos esporádicos. Eventualmente, também informam no letreiro horizontal (aquele que fica se movimentando) sobre os cuidados para quem tem TV de plasma.
O cenário é tão complicado, uma loteria tão grande sobre quem sai frustrado e quem fica satisfeito com a TV de plasma depois de alguns meses, que algumas empresas estão repensando estratégias. A começar pela gigante Sony, que deve abandonar (em 2007) a fabricação de TV de plasma no mundo todo e passará a investir mais em LCDs.
Parte dos analistas do mercado japonês (sede da Sony) apostam que o plasma tem um curto período de vida mercadológica pela frente. Parte dos analistas americanos aposta que a tecnologia entrará em um limbo e, para provar, falam da superioridade dos atuais modelos de LCD frente aos de plasma. O problema, como sempre, é que os LCDs vendidos lá fora ainda vão demorar um bom bocado para chegar aqui no Brasil. E quando chegarem, é a mesma história de sempre: preço nas alturas por um bom tempo. Enquanto isso, vale a pena pesquisar na internet em lojas americanas.