Observatório, 02.setembro.2003
ARQUIVO DE NOTÍCIAS
Reportagem auxiliada por computador – 1 (*)
Paulo Rebêlo (**)
São poucos os profissionais conscientes da importância de manter um arquivo pessoal de notícias, seja em banco de dados, planilha eletrônica ou, simplesmente, arquivos e pastas dentro de outras subpastas aleatórias no computador. É recompensador encontrar, em fração de segundos, uma estatística, reportagem, pesquisa ou entrevista importante na hora de fechar uma matéria ou de preparar uma suíte para uso posterior.
Com o sistema de busca do próprio Windows (ou Linux, ou MacOS) é possível fazer maravilhas apenas procurando pelo nome dos arquivos ou por palavras-chave. E o melhor de tudo: sem depender da internet. O principal motivo de “perder” um pouco de tempo montando um arquivo pessoal é justamente não aumentar ainda mais nossa aguda dependência da internet para pesquisas ou da base de dados interna da redação.
Hoje, com a maioria das redações e agências plugadas à rede por conexões em banda larga, pode parecer perda de tempo manter um arquivo pessoal para consulta offline. Não é. No caso de jornalistas free-lancers é duplamente importante, pois não há nenhuma base de dados interna disponível para consulta.
Paraíso das ilusões
Conexão em banda larga é um paraíso para jornalistas. No entanto, é também uma ilusão perigosa. Saia da redação, ou do seu escritório, e o paraíso fica para trás. Voltamos a ser reles mortais dependentes de linhas telefônicas e conexões lentas. Pesquisar a partir de uma conexão discada (telefone) é um oneroso martírio.
Martírio porque o volume de informações inúteis disponíveis na web cresce vertiginosamente. Filtrar tudo isso requer paciência, trabalho e dedicação. Sem uma conexão decente, a paciência cai pela metade, o trabalho dobra e a dedicação evapora.
Ao fazer matérias fora de sua cidade, é bem provável que você dependa de uma conexão por linha discada no quarto do hotel ou, em uma hipótese nem tão melhor assim, do horário de funcionamento de um cibercafé – partindo da premissa de que você esteja fazendo sua reportagem em uma cidade que disponha desse serviço.
Não obstante a polêmica sobre o assunto, jornalistas são também treinados para filtrar notícias e separar o que merece ser publicado do que não merece. É mais que válido usar esse treinamento para arquivar, digitalmente, conteúdo de qualidade que possa ser útil um dia. E se daqui a cinco anos não for para você, tenha certeza de que será para algum colega.
É como entrar em uma biblioteca e procurar por jornais e revistas de 30 anos atrás. Pelo computador, fica muito mais fácil e rápido. Por que não ter uma mini-biblioteca pessoal, que possa ser acessada a partir de um simples CD-ROM?
O CD pode não guardar todas as bases de dados interessantes e necessárias, mas grande parte ficará à distância de um clique e, um dia, quando você estiver lá onde Judas perdeu as botas, vai agradecer por terem inventado o tal de gravador de CD.
Leve em consideração, ainda, que as notícias são baseadas todas em texto, eventualmente com fotos ou gráficos pequenos. Em um único CD, você pode ter uma superbase de dados para consulta em qualquer lugar, sem depender da internet, do cibercafé, do telefone do hotel. Com o CD em mãos, qualquer notebook ou computador de mesa vira seu melhor amigo.
Quem quiser um pouco mais de sofisticação sem precisar fazer cursos técnicos ou se debruçar em livros sobre informática pode ainda recorrer a um amigo (ou amigo do amigo…) que entenda de programação. O nobre voluntário pode criar uma pequena interface para ajudar na organização por datas, tópicos, veículos, fontes etc.
(*) Material da base de dados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji (www.abraji.org.br)
(**) Jornalista no Recife (www.rebelo.org)