O que eu aprendi com o twitter

Paulo Rebêlo
Webinsider | 01.set.2009

Todo dia, tento resistir à tentação de abrir minha página inicial do Twitter. É que, assim como a febre dos blogs entre 2001 e 2005, ler a tuitada alheia passou a despertar um sentimento aparentemente muito feio e mesquinho em mim: a inveja.

Se na época dos blogs eu achava que todo mundo tinha parado de trabalhar para viver blogando o que faz da vida, hoje em dia, com o twitter, eu quero é o emprego de todo mundo.

Eu vi um pombo cor-de-rosa na janela. Tuíte. Meu chefe chegou, hora de trabalhar. Tuíte. Cinco minutos depois, o chefe foi embora. Tuíte. Bom dia a todos. Tuíte. Vou ali almoçar. Tuíte. Tô cansado, hoje trabalhei demais. Tuíte. Até amanhã, twitters. Tuíte. Tuíte. Tuíte. Tuíte.

Se a ferramenta diz que cada pio deve ter 140 caracteres, não entendo por que metade das pessoas não se contenta e escreve três, quatro, cinco tuítes de uma vez só como se fosse um post de blog? Daqui a meia hora, vão escrever mais três ou quatro seguidos.

Não sou inteligente o suficiente para dizer que são burras e que é para tuitar uma vez só. Não sou médico para dizer que é um problema de TOC. Nem sou psicólogo para afirmar que deve ser uma grande carência dizer ao mundo que o sobrinho meteu o dedo no nariz e tirou uma catota linda. Sem esquecer de colocar uma foto do celular nesse tal de Twitpic.

Vejo coisas bacanas no Twitter. Quem vive de escrever ou escreve por prazer, consegue atrair um contingente de leitores que antes não conseguia. No meu humilde site de crônicas, quando jogo um link no Twitter a audiência sobe coisa de 50%, mas apenas por 24h, raramente por dois dias. Os especialistas em novas mídias têm toda uma tese para explicar esse ronaldo, digo, fenômeno.

(Sim, porque todo mundo que usa internet para trabalhar agora é um especialista em novas mídias, novas tecnologias, noves fora a casa de chapéu.)

O problema é encontrar os links e comentários interessantes perdidos no meio de 489 tuítadas de uma dúzia de pessoas. E aqui vem o problema maior: os brios alheios.

Por mais que eu goste daquele meu amiguinho virtual, não dá para abrir minha página do Twitter e ver que ele tomou conta de metade da minha tela num intervalo de quatro horas. Esse tipo de comportamento você não consegue reverter nem usando um leitor de RSS.

Se juntar com mais outra meia dúzia de pessoas que tuítam como quem bebe água, eu vou precisar apertar 87 vezes na tecla Page Down até começar a ler outras pessoas. Isto é, se você olhar o seu Twitter todos os dias. Se passar um dia sem olhar, multiplique a conta por oito.

E foi aqui que o Twitter me ensinou o que, hoje, tem sido o maior aprendizado internético libertador de toda minha extensa vida online: abrir mão de saber das catotas alheias.

Falar é fácil, mas quando você depende de internet para pagar aluguel, a conta da padaria e o fiado do bar, é muito difícil abrir mão de clicar em links que os outros dizem ser interessantes. Ou simplesmente ficar sabendo o que fulano e beltrano acham das (me perdoem) “novas mídias”.

Não é fácil, mas também não é impossível. Difícil mesmo é explicar aos amiguinhos virtuais (aquele povo que você nunca viu na vida, talvez nunca veja e até desconfia se existem de verdade) o motivo de você ter clicado em REMOVE (em caps lock mesmo, com força) no nome deles.

Como o Twitter também é cultura e aprendizado, levei toda essa ampla bagagem de conhecimento avançado em novas mídias para outras ferramentas digitais e redes sociais que uso, mesmo sem saber exatamente se uso ou não. Porque, de acordo com os gurus diplomados dos cursinhos cheio de grifes, só usa rede social quem interage. Quem apenas olha, não está fazendo nada.

Quando estou online, geralmente entro no MSN Messenger e/ou no Gtalk. Não por necessidade, apenas por hábito. Acontece que há muitos anos eu não abro a janela para saber quem está online, de modo que ontem eu não fazia a menor idéia quem eram as pessoas que contavam por 80% da minha lista de contatos.

Exportei a lista e tinha 472 criaturas, onze ou doze anos depois de eu fazer uma conta no Hotmail. Devo realmente trocar umas idéias com meia dúzia. Tem gente que lembro, é verdade, de quem trabalhou comigo há dez anos, de quem trabalhou no mesmo lugar por apenas três meses, de quem apareceu do nada e nunca mais reapareceu. Enfim, tem de todo tipo, mas em comum, 99% dos contatos não troca uma palavra comigo (olha a carência da catota do sobrinho) há meses, quiçá anos.

No Twitter, mesmo que ninguém conheça ninguém, você pode dormir feliz da vida se achando um verdadeiro sucesso social por ter 300 mil seguidores. Mas e no MSN, que apenas você tem acesso? DELETE (em caps lock de novo) neles, de com força e com os dois pés, que nem tirador de coco na praia.

Devo ter apagado 90% da minha lista no MSN e 50% no Gtalk, que por natureza (e por ser mais novo) já tinha. Isso também evita, ou vai evitar, aquele inútil hábito de digitar bêbado na janela de alguém achando que é outra pessoa. Hoje eu voltei a abrir a janela do MSN para ver quem está online. E é um alívio indescritível ver que tem apenas meia dúzia de pessoas online e, diante do júri, poder dizer exatamente quem são elas e como elas chegaram ali.

Minha próxima hercúlea missão é organizar minhas três contas de e-mail. Com quase seis meses sem conseguir olhar direito a caixa postal onde recebo releases, propagandas e boletins, hoje meu Outlook tem exatos 6200 pretinhos. Os pretinhos são aquelas mensagens negritadas que significam “não lidas”. Fora outros milhares da caixa de spam automático, mas estas prefiro nem olhar. Os falsos negativos que me perdoem. E eu adoro ler boletins, não sei como o Outlook foi chegar a esta conta incrivelmente absurda.

Todo dia, abro o Outlook, respiro fundo e fico a apenas um clique do botão LIMPAR TUDO. Mas tenho esperado. Talvez eu precise entrar mais vezes no Twitter, aprender mais. Até porque, se nem o Belchior encontrou uma solução para fugir das dívidas tão fácil, não sou eu que irei conseguir transformar 6200 emails em um tuíte de 140 caracteres.

Invista ou não insista

Calcinhas de janeiro

Trepadeiras natalinas

1 comments On O que eu aprendi com o twitter

  • muito bomo post eu acho o twitter uma boa ferramente, porem cheguei ate pensar que era inutil mas dando um tempo e pesquisando mais da pra se descubrir muita coisa legal

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