Paulo Rebêlo
Jornalistasdaweb.com.br
Ultimamente tem sido comum ouvir falar em “Digital Divide”. Entretanto, poucos ainda conhecem o real significado da expressão e sequer imaginam a importância do conceito e as repercussões iminentes.
Em linguagem rasteira, o Digital Divide representa a fossa entre os países com acesso e os sem acesso à tecnologia de informação. Uma espécie de exclusão digital. Em História e Geografia, muito se estuda sobre as divisões sociais existentes em uma mesma nação e as diferenças econômicas entre países. O Digital Divide nada mais é do que o mesmo conceito aplicado em uma vertente voltada à tecnologia e, essencialmente, à informação.
Durante anos procurou-se formular teorias e pesquisar acontecimentos relacionados à divisão entre países desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Expressões como industrialização, centro-periferia e dívida externa tornaram-se comuns.
Com o crescimento de abrangência tecnológica, veio o termo “nova economia” e, a partir dele, uma nova série de conceitos e modelos que dividem sociedades a partir de uma visão socio-econômica. A questão deixa de ser apresentada na ótica de países mais ou menos industrializados, mas sim em nações “conectadas”, “não conectadas” e “em vias de conexão”.
Diferentemente das teorias sociais de outrora, o Digital Divide não é uma exclusividade dos países pobres ou subdesenvolvidos; está presente em todas as nações, porém, em escalas proporcionalmente distintas. Afinal de contas, nenhum Estado possui 100% da sociedade com acesso à informação por meios digitais. Os Estados Unidos também estão preocupados com a questão.
Empregar o termo Digital Divide no Brasil, por enquanto, ainda pode ser utópico. Por outro lado, nos Estados Unidos o termo ganha cada vez mais força e as iniciativasnão param de crescer.
Admite-se, contudo, que por mais investimentos existentes a fim de amenizar o Digital Divide, é impossível reverter o quadro precário quando as fossas sociais e econômicas são gritantes, como é o caso de países como Butão, Fiji, Timor Leste, Honduras etc. Além do Brasil, mesmo que em menores proporções.
Não obstante os disparates socio-econômicos, certos países são beneficiados com iniciativas da ONU e da Unesco.
Em Honduras, por exemplo, existem estações alimentadas por energia solar para permitir que vilarejos se conectem à internet via satélite. Diversos empecilhos ocorrem, mas a esperança é de que em pouco tempo a iniciativa se torne auto-sustentável. Agricultores e artesãos começam a vender seus trabalhos para fora do país, via internet. Moradores lecionam espanhol online para alunos estrangeiros.
Outro exemplo é a Índia. Atualmente, os indianos representam exímios especialistas em tecnologia e exportadores de software. A mão-de-obra indiana também é exportada para todo o mundo, a começar pelos Estados Unidos, Europa e, inclusive, Brasil. Mesmo assim, apenas 0,4% do país está conectado à Web. É uma diferença clamorosa.
A própria infra-estrutura de telecomunicações não facilita. São 2,2 linhas telefônicas para cada cem habitantes, em média. A maior parte das linhas em uso não apresenta boa qualidade para tráfego de dados – situação semelhante ao Brasil de até pouco tempo atrás, quando as linhas “digitais” (que na verdade são apenas multifreqüenciais) não existiam. Para piorar a situação na Índia, a operadora nacional de telecomunicações detém o monopólio no país.
O disparate reside exatamente nas pessoas que possuem acesso à Web ou trabalham no setor. O nível de qualificação dessas pessoas na Índia é elevadíssimo e os equipamentos, de última geração. Motivo pelo qual muitos são contratados para trabalhar no exterior. Mas a Índia não está sozinha; junto com ela, países como Tailândia, Taiwan, Malásia, Indonésia, Cingapura, China e Brasil encontram-se em situação similar. Poucos com acesso à informação, apesar de haver uma mão-de-obraqualificada o suficiente para disputar vagas em qualquer parte do mundo.
Exemplos engraçados: vírus de computador. Vírus recentes que levaram empresas à falência e outras a prejuízos de bilhões de dólares, foram criados por asiáticos. O BubbleBoy, IloveYou e tantos outros. A chave secreta do conhecimento em alta tecnologia há muito deixou de ser um privilégio dos países ricos e desenvolvidos.
A Costa Rica, um país tipicamente agrário, passou a exportar um número maior de circuitos integrados do que produtos agrícolas. Apelidada de A República do Silício, hospeda uma fábrica da Intel montada em 1998. Em 99, a companhia já era responsável por metade dos 8,4% de crescimento no PIB e por 37% das exportações do país.
Nas Filipinas, o Digital Divide é amenizado por uma solução inusitada, oriunda da Igreja Católica. Por ser o único país asiático com predominância católica, a Igreja detém o maior provedor de acesso, chamado de CBCPNet – Catholic Bishops Conference of the Phillippines.
Na China, a invasão da internet e a disseminação da mão-de-obra chinesa ao mercado de tecnologia levarão o país a uma reformulação de conceitos nunca vista na História. Os investimentos não param de chegar.
Na África do Sul, uma ONG chamada de Bridges.org já deu início a um trabalho vigoroso cujo objetivo é reduzir o Digital Divide naquele país. Os trabalhos são realizados com as comunidades locais em áreas como educação, saúde e economia.
Sem dúvida, a indústria de tecnologia de informação está mudando o cenário de muitos países. No Brasil, não é diferente. Um primeiro importante passo foi dado no início deste ano, quando o governo e o CG anunciaram o projeto do PC Popular que supostamente terá um custo de produção em torno de R$ 400,00. A iniciativa foi notícia em todo o mundo, em reportagens no New York Times, Wired e outras publicações de peso.