Máfia do Velox e maracutaias da banda larga

Com planos de telefonia e internet banda larga, a GVT pode se tornar a primeira e única concorrente da Oi-Telemar na região Nordeste para internet ADSL. Isso depois de 11 anos da privatização da Telebrás, quando o objetivo declarado fora ampliar o leque de ofertas a partir da concorrência direta entre empresas e, assim, baixar o custo para consumidor.

O tempo passou, a concorrência nunca chegou e até hoje persiste a máfia com os serviços de banda larga no Brasil. Com acesso irrestrito ao sistema, funcionários ou pessoas muito bem relacionadas anunciam, por baixo dos panos, planos de conexão super rápidos para quem se arrisca a pagar ?unzinho por fora?.

E o mais interessante: em qualquer cidade e independente da tal ?viabilidade técnica? que as atendentes da Oi-Telemar repetidamente anunciam. Além de blogs e fóruns, há até mesmo domínios próprios (exemplos aqui e aqui) pelos quais a mutreta é oferecida, dando a entender que seja algo juridicamente legal e com respaldo da empresa.

Um dos exemplos ensina que o upgrade ocorre ?através de uma equipe monitorada e supervisionada dentro da Velox, aumentando sua velocidade da sua internet diretamente no sistema Velox? … e em outro exemplo, o mutreteiro deixa claro que ?o aumento da velocidade do Velox é possível porque trabalho dentro da “Oi Velox”, portanto o aumento é feito diretamente no sistema Velox, e tenho apoio de um supervisor para fazê-lo?. (sic)

As ofertas são das mais variadas e também estão em fóruns de discussão (alguns muito conhecidos), em blogs e sites caseiros.

No Nordeste, por exemplo, até hoje a Oi-Telemar só oferecia conexão de 1 MB, ao menos até o anúncio das novas velocidades agora em setembro. Com a maracutaia, você não depende da boa vontade da empresa, apenas paga uma taxa única para essas pessoas e elas, milagrosamente, aumentam sua velocidade para 4MB, 8MB ou até mais. Viabilidade técnica? Que nada.

A garantia do serviço é flexível. Alguns garantem um ano de validade, outros não garantem nada. Vimos de perto várias dessas conexões funcionando, no Rio e no Nordeste, algumas por até três anos seguidos e com velocidades bem superiores ao limite contratado do plano. Funciona que é uma beleza e é um negócio e tanto.

A maracutaia ocorre há anos, já foi denunciada inúmeras vezes. Nada mudou.

Enquanto isso, quem não quer entrar na máfia resolve ligar para o suporte da operadora. Como resposta, ouve que ?não há viabilidade técnica? para velocidades maiores. Embora o vizinho, ali ao lado, esteja com 8 MB depois de pagar uma parcela única de R$ 400 para um blogueiro que se anunciava como ?alguém com acesso ao sistema da Oi-Telemar?. Há três anos.

A exemplo dele, há centenas lá fora.

Até a chegada da GVT, a conexão mais rápida na maioria dos Estados do Nordeste (1 MB) custava R$ 100 pelo plano, só da internet, sem contar a assinatura mensal do serviço de voz e outros eventuais acréscimos.

Agora, a Oi-Telemar diz que os novos planos do seu ?Velox Ultra? serão entre 2 MB e 100 MB. Pelos mesmos R$ 104,90 você pode contratar o plano de 14 MB. Em tese.

Quem conhece a empresa, como consumidor, não acreditou muito nas notícias veiculadas pelos jornais sobre as novas velocidades de conexão. Então a gente foi lá conferir.

Ligamos para a central de atendimento. A primeira resposta risível é que usuários antigos do plano de 1 MB não podem simplesmente migrar para 14 MB pagando a mesma coisa, mesmo que haja a tal ?viabilidade técnica?, mas a atendende frisa que ?será preciso fazer uma verificação?.

Só relembrando, o valor de 14 MB anunciado é quase o mesmo do plano de 1 MB antigo. E nem podem contratar 2 MB pagando o novo valor anunciado de R$ 59,90, diz uma outra atendente, dias depois. Ao mesmo tempo, quem tem plano antigo de 300 kbps e 600 kbps (a maioria, segundo dados da própria Oi-Telemar) está feliz da vida porque, insistindo, a empresa muda para 2 MB pelo mesmo preço. Ou seja, você sai de 600 kbps para 2 MB e passa a pagar R$ 59,90 achando que fez um belo negócio.

As reclamações não param e, certamente, a postura da empresa pode mudar em relação aos clientes antigos. Mas não será agora. Só depois que muita gente comprar gato por lebre.Em 2006, mostramos como usuários no Nordeste pagavam o dobro pelo Velox de 1 Mb em relação ao Rio de Janeiro e a Belo Horizonte, também servidos pela Oi-Telemar. Operadora alegava realidade de mercado, o que comprovou-se outra firula em seguida.

Situação ainda pior estava na Região Norte. No Amazonas, onde a concorrência é ainda menor do que em outros Estados brasileiros, a conexão Telemar de 300 Kbps custava R$ 169. Para velocidade de 600 Kbps, os amazonenses pagavam o absurdo de R$ 329 ao mês.

Enquanto houver gente que pague porque não há alternativa, as operadoras vão continuar cobrando quanto quiserem. São as regras de mercado, dizem os especialistas.

Cardumes

As aventuras da Telefônica, em São Paulo, estão bem cobertas pela imprensa. A dor de cabeça com o Speedy é quase um quadro do CQC, beira o ridículo. E o Speedy continua sendo vendido a granel sem que a operadora tenha capacidade para suprir a demanda, mas a propaganda de uma “nova Telefônica” já está na televisão, rádio e jornal, claro.

Já houve até prisão de funcionários terceirizados da Telefônica que vendiam linhas para o Primeiro Comando da Capital (PCC) no presídio, segundo a polícia. (leia aqui)

Ainda hoje, ações que apuram supostas irregularidades no processo de privatização das telecomunicações brasileiras continuam estagnadas na Justiça.

Abaixo, um pequeno recorte de reportagem de Marcio Aith publicada pela Folha de S. Paulo em abril de 2009:

A Andrade Gutierrez está entre os maiores doadores eleitorais do PT. No ano passado, o braço de telefonia do grupo, a AG Telecom, foi beneficiado por um decreto presidencial que permitiu a fusão das empresas de telefonia Brasil Telecom e Oi/Telemar. [ … ] Da fusão surgiu a gigante de telefonia BrOi, da qual a construtora é uma das controladoras. [… ] Em 2005, a Telemar, sob o comando do mesmo grupo, associou-se à Gamecorp, produtora de jogos eletrônicos que tem como sócio Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula.

Com a fusão Brasil Telecom ? Oi (BrOi), o discurso é que os serviços vão melhorar.

Após a fusão, somente no Distrito Federal foram 1.467 demissões, mas o número nunca foi revelado pela Oi, e sim pelo Ministério do Trabalho depois de muita pressão. Muita. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do DF (Sinttel-DF), Brígido Ramos, calculou em agosto, em entrevista para os jornais do DF, que o número de demissões pode chegar ao dobro se forem somados os trabalhadores indiretos dispensados.

Nos demais Estados brasileiros, contudo, nem o governo tem informações precisas e nem a empresa divulga qualquer número que seja.

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