Daniel Dantas, Opportunity e os investimentos em internet

Foram milhões de reais, boa parte a fundo perdido, em empresas novatas, incubadas ou estreantes no setor de tecnologia pelos últimos dez anos.
______________
UOL / Webinsider | 21.julho.2008
link original

Agora que jogaram o sorvete no ventilador, tem gente suando em bicas ao ler o nome de Daniel Dantas e o Opportunity nos jornais. Executivos, acionistas e conselheiros, de empresas das mais diversas, porém sempre bem conhecidas entre profissionais de tecnologia e informática, talvez até se posicionem a favor da moralidade e da continuidade nas investigações.
Não foi sempre assim. E a história recente da internet brasileira esta aí para mostrar, no Google e nos arquivos guardados em PDF. São milhões de reais em investimentos – boa parte a fundo perdido, é bom frisar – em empresas novatas, incubadas ou estreantes no setor de tecnologia pelos últimos dez anos.

Aqui, um parênteses. São em horas assim que a gente vê como as boas reportagens de tecnologia são exceções e fazem falta. A mídia dita especializada prefere a reportagem McDonald’s: limpa, rápida, barata e fácil de digerir. E não mata a fome. Fecha o parênteses.

Parte das agraciadas (em tecnologia) com os milhões do Opportunity naufragou. Outra parte se deu muito bem na mídia, mesmo com a conta fechando no vermelho todo ano e até os dias de hoje. Uma pequena parcela, transformou-se em referência, ícone, status.

Quem haverá de discordar delas? Em comum, há apenas um fato inegável: quem entra em uma operação cujo envolvimento é na ordem de milhões, não é amador e nem ingênuo.

O Opportunity está na berlinda nebulosa desde sempre e nunca foi segredo. Para ser mais preciso, desde o início, com a privatização da Telebrás em 1998.

Aquela velha história: se você está com fome e lhe oferecem um pedaço de pão, haverá você de negar diante de suspeitas claras de que a refeição será paga com dinheiro sujo? A resposta é discutível, social e filosoficamente, a depender de uma série de variáveis.

O que não se discute, contudo, é comer o pão e depois proliferar a idéia de que o bom samaritano (visionário, vanguardista, empreendedor, brilhante) possui “uma conduta ilibada, norteada pela ética” e que “até agora a Justiça sempre o inocentou”. São apenas duas expressões bastante empregadas na política brasileira.

Vai ter dono de empresa, conselheiro, acionista, até mesmo estagiário, a dizer que nunca imaginou como os tentáculos do Opportunity fossem tão extensos. Os registros factuais, contudo, mostram outra imaginação. As fotos de abraços calorosos, de apertos de mão entusiasmados, estão lá. Os discursos, idem. Já o livro-caixa…

De bolso vazio, qualquer pãozinho é um croissant. E de bolso cheio, todos somos inocentes até prova em contrário. Certo está o Alberto Cacciola, que ao aterrisar no Brasil, sorridente, disse confiar na Justiça brasileira.