2006 verá o advento do WiMAX

Paulo Rebêlo
especial para o UOL Tecnologia (link original c/ fotos)
29 / dezembro / 2005

Internet banda larga, downloads mais rápidos, conexão limpa, alta velocidade… as promessas são as mais variadas, porém, a realidade é bem diferente das propagandas. Quando o usuário resolve, finalmente, abolir o telefone para contratar um serviço de banda larga, vem a frustração: não há cobertura da operadora para instalar a conexão rápida. Pior, às vezes não há sequer a presença de um bom provedor de serviços na sua área, como é o caso de quem mora em cidades menores.

Em 2006, tudo pode mudar. Operadoras telefônicas e provedores de acesso estão esperando o início do ano para, aos poucos, divulgarem novidades em planos de acesso mais baratos e mais rápidos. E nessa reviravolta, um dos grandes destaques é o WiMAX, uma tecnologia que permite conexões em alta velocidade sem o uso de fios e, conseqüentemente, sem aquela parafernália de cabos e ligações comuns à infra-estrutura das conexões DSL e a cabo.

Entenda como funciona a tecnologia do WiMAX

Em uma linguagem menos técnica, o WiMAX é a evolução do Wi-Fi, que por sua vez é o atual padrão de tecnologia para acesso sem o uso de fios. A sigla vem de Wireless Fidelity e é usada genericamente. Os pontos de acesso em Wi-Fi, também chamados de hotspots, são uma febre no exterior, mas aqui no Brasil ainda dá para contar nos dedos os lugares com disponibilidade de Wi-Fi. As empresas de telefonia também oferecem conexões sem fio, mas cobram caro pela comodidade.

Então, se a gente por aqui nem conhece direito – ou nunca usou – o Wi-Fi, como é que vamos querer usar WiMAX de uma hora para outra? Simples. Porque esse novo padrão corrige e aprimora, justamente, os principais pontos-fracos do Wi-Fi: preço, acessibilidade, raio de atuação e disponibilidade.

Brasil Telecom, Vivo, Telefônica e várias outras empresas já anunciaram, publicamente, planos de implementação do WiMAX no Brasil. Então, é bom ficar de olho e entender como funciona a tecnologia. Durante o ano de 2005, vários testes foram feitos em algumas cidades brasileiras e continuam até agora para, em 2006, finalmente, tornarem o padrão viável comercialmente ao usuário doméstico e corporativo.

Quem é “dono” do WiMAX?
O WiMAX é um padrão aberto de conexão sem fio, certificado pelo IEEE – Institute of Electrical and Electronics Engineers. Logo, não é uma tecnologia proprietária, não há donos. As diretrizes e discussões ficam à cargo do WiMAX Forum, uma organização sem fins lucrativos formada por dezenas de empresas que enxergam na tecnologia um futuro promissor. Evidentemente, elas tiram o lucro desenvolvendo chips e equipamentos certificados para WiMAX.

As empresas-líderes são Intel, Airspan Networks, Alvarion, AT&T, Aperto Networks, British Telecom, Fujitsu, KT Corp, Samsung, Sprint Nextel, Wi-LAN e ZTE Corporation. No Brasil, a maior divulgação (e empolgação) vem da Intel, em vários eventos e congressos sobre o tema.

Como funciona o WiMAX?
É bem fácil de entender como você vai poder acessar a Internet de casa, sem fios e sem se preocupar com hotspots. A transmissão do sinal WiMAX é bem parecida com a de um telefone celular. Um torre central envia o sinal para várias outras torres espalhadas e, estas, multiplicam o sinal para chegar aos receptores.

O usuário precisa de uma pequena antena receptora, da qual resulta na conexão que vai até o seu computador ou notebook, plugada via placa de rede. De acordo com o diretor de mobilidade digital e comunicação da Intel, Ronaldo Miranda, essa antena pode ficar no topo de um prédio (multiplicando a conexão para o condomínio, por exemplo) ou ao lado do gabinete do PC mesmo, como se fosse um equivalente ao modem externo usado por Velox ou Speedy.

Até aí, é meio parecido com o Wi-Fi, não é? A diferença é que os pontos de acesso do Wi-Fi são extremamente limitados. O sinal só alcança 100 metros, em média, a uma velocidade máxima de 11 Mbps. Acontece que o acesso e a velocidade dependem de uma série de fatores e, geralmente, não chegam a esse valor. Um roteador genérico de Wi-Fi permite a cobertura de 45 m em ambiente interno e cerca de 90 m externo. Para distâncias maiores, é preciso criar redes de múltiplos pontos, interligadas.

“No caso do WiMAX, em condições ideais o sinal alcança um raio de até 50 km e velocidade de 75 Mbps”, explica Miranda, acrescentando que também há dependências da geografia, como montanhas e prédios altos. Miranda lembra, ainda, que a velocidade é dividida com os usuários que estiverem utilizando o sinal enviado pela torre. “Mesmo assim, o sinal na chamada última-milha (o usuário final) tende a ser mais rápido e estável do que as conexões banda larga disponíveis hoje”, antecipa.

As três etapas do WiMAX
Com os testes realizados em cidades brasileiras, o Brasil começa a primeira e a segunda etapa da implantação do WiMAX. De acordo com a Intel, a Fase 1 é quando as pessoas podem ter acesso a partir de pontos fixos (as anteninhas de recepção no alto de uma estrutura física), permitindo acesso irrestrito em sítios, fazendas… enfim, em qualquer lugar.

A Fase 2 é a que mais interessa os usuários e às capitais: é quando a antena de recepção pode ficar dentro de casa, como se fosse o modem externo. Assim, em vez de contratar um Speedy da vida cuja conexão chega pelo telefone, você pode até abolir a linha e usar o WiMAX.

A Fase 3, a mais esperada pelas operadoras e provedores de serviço, é a total mobilidade do WiMAX. Você poderá ter acesso à Internet em movimento, sem perda de conexão ou instabilidade, como acontece hoje com o seu telefone celular. Você fala em qualquer lugar, certo? Pois é, na Fase 3, não haverá preocupação sobre recepção de sinal dentro da área de cobertura das torres de WiMAX.

O padrão para WiMAX móvel já foi, inclusive, homologado pela IEEE para ser adotado em grandes áreas urbanas. Consultor de novos negócios e tecnologia, especializado em redes sem fio, Eduardo Prado comemora a homologação: “acompanho o mercado mundial de WiMAX desde abril/2003 e estava ficando angustiado com o processo de aprovação pelo IEEE. Estamos presenciando uma época histórica para o futuro do acesso banda larga sem fio”, diz.

As aplicações comerciais do WiMAX
Quando as empresas começarem a oferecer WiMAX, de início, a tecnologia não chegará a concorrer com os atuais padrões de DSL e cabo para Internet rápida. “Porém, há lugares onde o cabo e o DSL não chegam, mesmo em cidades grandes e capitais. As operadoras podem querer preencher esse nicho de mercado, para usuários finais”, sonda Ronaldo Miranda, da Intel.

Não à toa, a Intel no Brasil tem tentado trabalhar com governos e prefeituras para que todos saibam como o WiMAX pode ajudar na inclusão digital de localidades remotas, já que dispensa tantos cabeamentos. Diferentemente do Wi-Fi convencional, o WiMAX pode usar freqüências licenciadas pela Anatel ou não. No caso das licenciadas, há segurança e diretrizes a seguir, como ocorre na freqüência dos telefones móveis.

Quanto vai custar?
Ninguém sabe. As operadoras guardam os estudos comerciais a sete chaves. O gerente de mobilidade da Intel, contudo, deixa claro que, para ser viável comercialmente, quem oferecer conexão WiMAX nas cidades terá que competir com os preços praticados hoje. “Se for muito mais caro, não dá certo. O custo tem que ser igual ou menor… ou, pelo menos, oferecer segurança ou serviços agregados que os concorrentes não tenham”, explica Miranda. Ele antecipa, porém, que o custo de instalação para as operadoras é bem menor no WiMAX do que para DSL.

No final das contas, o usuário sabe como a banda toca: a concorrência dita as regras e os preços caem. O caso mais emblemático no Brasil é a conexão DSL. Telefônica e Telemar oferecem o mesmo tipo de conexão em diferentes áreas de concessão. No entanto, como a área de cobertura da Telefônica tem outras empresas na concorrência de banda larga, a empresa oferece planos mais baratos e diversificados, enquanto do outro lado, pela Telemar, a concorrência é bem menor e o usuário fica com menos opções. Pagando mais, claro.

Se você ainda não acredita…
E se o WiMAX não der certo? E se nenhuma empresa oferecer a tão sonhada Internet rápida, prática, barata e sem fios? Para as operadoras que estão investindo pesado na tecnologia, a idéia chega a ser absurda. Agora em dezembro, as principais empresas de telefonia e serviços mostraram o balanço e os planos de investimentos para 2006. Adivinhem só quem estava lá? O WiMAX.

A Intel, que no Brasil tem a posição (extra-oficial) de líder na divulgação do WiMAX, já conseguiu até mesmo assinar contrato com o Governo Federal para implantar a tecnologia nos projetos de inclusão digital. Hoje, os núcleos Gesac (Programa de Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão) do governo trabalham com Internet por satélite para levar conexão a lugares remotos, uma tecnologia cara e problemática, na visão de muitos especialistas. A partir de 2006, boa parte dos Gesac pode usar WiMAX em vez de conexão via satélite.

Operadoras de telefonia prometem acesso para início do ano
Como o WiMAX leva uma conexão limpa e rápida, a tão sonhada convergência entre Internet, televisão e telefone (VoIP) pode partir das próprias telefônicas. Todas elas estão de olho. A Brasil Telecom anunciou, neste mês, investimentos de R$ 2,5 bilhões em 2006. Para banda larga, a meta é crescer entre 30% e 40%, e o WiMAX será oferecido no Paraná e no Rio Grande do Sul, ainda no primeiro trimestre do ano, de acordo com a vice-presidência de operações móvel e fixa da empresa.

Nesse mesmo período do ano, a Telefônica também deve adotar o WiMAX, segundo informações divulgadas pela própria companhia. Os testes com a tecnologia foram realizados em 2005, na região de Campinas, no interior de São Paulo. A Telefônica pretende oferecer WiMAX para usuários residenciais e corporativos, onde não há como levar o tradicional Speedy (DSL), dentro e fora da área de concessão. Em Curitiba, há planos concretos entre Telefônica e Embratel para oferecer WiMAX em um raio de 7 km, podendo chegar a 20 km no interior do Paraná, onde não há tantos obstáculos físicos, como prédios altos e montanhas.

No início de dezembro, o Ministro das Comunicações, Hélio Costa, e o gerente-geral da Intel no Brasil, Oscar Clarke, assinaram um acordo para viabilizar cobertura WiMAX em 50% do território de Belo Horizonte, para levar acesso rápido e sem fio a hospitais, órgãos públicos e escolas. De acordo com o ministro, na ocasião da assinatura do contrato durante o Intel Developer Forum, em São Paulo, “a expectativa é de levar conexão a 25 a 30 pontos até o final do ano”.

Ronaldo Miranda, da Intel, é enfático: “todas as operadoras estão testando WiMAX. Não podemos revelar nomes e planos, mas todos estão de olho”.

Os testes realizados no Brasil
Em parceria com universidades, instituições e governos, a Intel liderou testes de WiMAX no Brasil, desde 2004, nas cidades de Brasília (DF), Ouro Preto (MG), Mangaratiba (RJ) e, mais recentemente, Belo Horizonte (MG). Até o final deste ano, a empresa promete começar a testar em São Paulo.

Na primeira cidade, Brasília, o teste consistia em uma escola-laboratório móvel, com recepção de WiMAX para acesso rápido à Internet. No entanto o ponto de teste mais emblemático no Brasil é, sem dúvida, Ouro Preto. Quem conhece a cidade, deve imaginar o motivo: a região não é plana, é rodeada por montanhas e irregularidades geográficas. Foi a prova de fogo para a recepção do WiMAX.

A prova de fogo em Ouro Preto
O teste-piloto teve vários parceiros, destacando-se a prefeitura e a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). De acordo com o professor e pesquisador responsável pelo laboratório de testes da universidade, Carlos Frederico Cavalcanti, vários alunos foram envolvidos no projeto de redes sem fio, com qualidade de serviço (QoS), baseado em WiMAX.

E funcionou? Quem explica é o coordenador-executivo de todo o projeto, Américo Tristão Bernardes: “desenvolvemos algumas ações bem interessantes, como a implementação de antenas em pontos sem visada ou mesmo de difícil acesso. Usamos durante um período uma kombi com três computadores, como um laboratório móvel, o qual chamamos de kombi-digital. A idéia da kombi é poder ter um pequeno laboratório móvel que possa atender comunidades distantes ou escolas pequenas em pontos mais remotos. Foi um sucesso”.

Bernardes acredita em uma revolução na educação em Ouro Preto, já que agora há uma rede sem fio interligando as escolas do ensino fundamental e médio, incluindo laboratórios de informática. “Agora, sim, estamos falando de inclusão digital”, comemora. As aulas de capacitação começam em janeiro de 2006.

Para obter sucesso a partir de agora e em um futuro próximo, Bernardes aposta na cooperação entre poder público e iniciativa privada. “Criamos um modelo complementar, baseado em parceria público-privada-comunitária (PPPC). Grosso modo, o poder público cria a infra-estrutura e um agente privado garante sua operação e manutenção, explorando-o comercialmente (dentro de limites contratuais) e garantindo serviços e acesso às escolas. Acreditamos que isso possa dar um salto no processo de inclusão” explica.

Em 2006…
Quem acompanha o noticiário, deve estar sabendo: a partir de 2006, muita coisa vai mudar nas regras de telefonia. O impacto maior será, indevidamente, para o usuário final do telefone fixo e do acesso discado à Internet. Pode ser a hora certa para você migrar para um plano de acesso banda larga. Fique de olho nos preços, cobre reduções de valor à operadora e atenção às novidades. O WiMAX está chegando.