Paulo Rebêlo
Revista Backstage
abril 2008
Para os cinéfilos, é uma realidade. Uma cara realidade, claro, mas realidade. A nova geração de DVDs pode ser encontrada nas principais lojas para compra e nas melhores locadoras para locação. Além dos cinéfilos, os entusiastas de áudio também têm muito a comemorar – sempre – com novas tecnologias que se popularizam. Por conta do preço e de uma série de questões logísticas, ainda vai demorar um pouco até essa nova geração realmente pegar. Até porque, para quem acompanha o assunto, há uma problemática comercial ainda presente: qual dos dois formatos, Blu-ray ou HD-DVD, será tido como padrão? Qualquer semelhança com a novela VHS-Betamax não é mera coincidência.
A grande questão é se vale a pena comprar um aparelho novo. Nomenclaturas técnicas à parte, quais são as diferenças práticas entre um formato e outro? O ganho de qualidade é mesmo superior ao atual DVD? Vamos tentar entender um pouco. Afinal, falamos de um investimento médio de R$ 2 mil, a preço de hoje. Um simples drive leitor de Blu-ray é mais caro do que um computador bem bacana para trabalhar.
De onde surgiu o nome de batismo desses dois formatos? Simples. O “HD” de HD-DVD significa apenas High Definition. E o Blu-ray (que no início era chamado de Blue-ray) é porque o feixe de laser para ler e gravar os dados tem coloração azul (blue). No DVD convencional, o laser é vermelho. A principal diferença entre os formatos é a capacidade de armazenamento, com vantagem para o Blu-ray, que armazena 25 GB em discos de uma camada (50 GB em duas camadas), contra 15 GB do HD-DVD de uma camada (30 GB em duas camadas). Uma nova geração do HD-DVD, ou seja, a nova da nova geração (!) permite gravar 50 Gb também. Mas é feito perna de cobra, ninguém viu.
Por conta do maior espaço disponível e de uma série de fatores técnicos, inclusive no quesito áudio, a aposta da maioria dos especialistas é que apenas o Blu-ray irá sobreviver. As capacidades diferentes ocorrem por conta da diferença no método de gravação dos dados. Mas as diferenças técnicas entre os dois formatos quase não existem. O HD-DVD tem como empresa líder a Toshiba, com suporte da Microsoft, Sanyo, NEC e estúdios de Hollywood como New Line e Universal. O Blu-ray, da Sony, tem parcerias com Apple, Panasonic, Philips, Samsung, Sharp e outros estúdios de cinema.
No final das contas, toda essa briga entre Blu-ray e HD-DVD só interessa às fabricantes, não ao consumidor. Ao adquirir um determinado produto, você poderá em breve se deparar com um aparelho obsoleto e sem suporte. É uma aposta. As fabricantes não se importam. Os primeiros notebooks com drives HD-DVD e Blu-ray já são vendidos em alto número nos países desenvolvidos.
DEFINIÇÃO – Quem hoje compra um player HD-DVD ou Blu-ray pode chegar em casa e se deparar com imagens praticamente idênticas ao DVD atual. O resultado é uma decepção generalizada. Em determinadas situações, a tal da alta definição pode até distorcer um pouco a imagem e fazer você ter a impressão de que está diante de um produto inferior. Não jogue o aparelho pela janela, não. A não ser que seja meu vizinho.
A explicação é simples. Blu-ray e HD-DVD são apenas meios físicos para armazenar o conteúdo em alta definição. Os aparelhos que reproduzem os discos são os responsáveis por decodificar a informação e mostrá-la. E onde as imagens são exibidas? Na televisão. Ou seja, uma imagem em alta definição exibida em uma televisão convencional, será sempre em baixa resolução para seus olhos. No caso, a “baixa” resolução significa a mesma qualidade que você estava acostumado antes.
O mesmo vale para o áudio. Não adianta esperar uma super definição de áudio se a sua saída consiste em duas caixinhas de som minúsculas do computador. Ou nas duas saídas laterais daquela sua TV de 29 polegadas. Para se ter uma idéia, basta lembrar que os DVDs atuais têm uma definição maior do que a maioria das pessoas pode ver na televisão de casa. E também vale para o áudio, já que apenas uma minoria dispõe de home theater (veja nossa coluna do mês passado!) ou sistemas mais avançados.
O DVD atual só exibe sua total e melhor definição, de forma perceptível, em televisores melhores, como plasma e LCD de boa qualidade. Só que o mesmo não vale para os filmes em Blu-ray ou HD-DVD. Por ter uma capacidade de definição ainda maior, os filmes em HD-DVD e Blu-ray exigem televisores ainda melhores. E a maioria dos aparelhos de plasma e LCD vendidos no mercado brasileiro não são preparados para alta definição, são apenas os chamados definição padrão (Standard), superiores aos modelos de tubo (CRT), mas longe da alta definição exigida pelos novos padrões de DVD. O problema é que, como sempre, as lojas quase nunca avisam ao consumidor que ele está torrando R$ 5.000 em um modelo de plasma que não é de alta definição. Aquelas imagens super coloridas e com super contraste que ficam à mostra iludem de verdade.
COMPRESSÃO – Blu-ray e HD-DVD armazenam filmes no formato MPEG-2 (o mesmo do atual DVD), VC-1 ou H.264. Estes dois últimos conseguem reproduzir imagens melhores com um nível de compressão maior e, na prática, são os fatores que tornam o formato superior para filmes. O VC-1 é a versão aprimorada de um código desenvolvido pela Microsoft no Windows Media e é o padrão original de armazenamento para Blu-ray e HD-DVD. Já o H.264 é bem conhecido dos entusiastas de vídeo digital, é um formato com taxa de compressão altíssima e que nasceu do MPEG-4, que foi a base do padrão DivX nos primórdios dos filmes piratas baixados pela Internet. De uma certa forma, podemos dizer que o H.264 nada mais é do que a evolução real do MPEG-4, que por sua vez já era uma evolução considerável frente ao MPEG-2 dos DVDs atuais.
No quesito áudio, a história é outra. Apesar de similares, o Blu-ray permite que o áudio digital no formato AC-3 (o mesmo dos DVDs atuais) use compressão de 640 kbps, que é maior do que o limite de 448 kbps do HD-DVD. O resultado é mais qualidade do som, mas que uma ínfima porcentagem das pessoas vai perceber. A diferença é percebida apenas em equipamentos (caixas de som) adequados e com o volume alto, mais precisos. Aí sim, a diferença é notável.
O uso de cabos adequados também é, geralmente, deixado de lado pelo consumidor. Há televisões que não possuem entrada para cabos digitais, porém, mesmo em aparelhos mais recentes nos quais há essa possibilidade, muita gente não sabe ou não é orientada pelo vendedor do produto.
NOVELA – Muita gente talvez não se lembre -talvez porque não era nascido na época-, mas essa briga de formatos já virou novela. Basta relembrar a clássica época em que as fitas VHS disputavam mercado com o Betamax, no final dos anos 70 e até meados dos anos 80. O curioso é que o Betamax foi desenvolvido pela Sony e chegou primeiro ao mercado, enquanto o VHS, criado pela JVC, chegou um ano depois, em 1976.
Há farta literatura na Internet sobre a briga entre VHS e Betamax, inclusive sobre as qualidades e defeitos de cada um, com teses de que o VHS sobreviveu por uma questão mercadológica, pois o Betamax era superior tecnicamente. Há controvérsias, mas o fato é que o Betamax era um formato proprietário da Sony, enquanto o VHS permitia que as fabricantes oferecessem produtos diferentes, o que acirrou a competição e ofereceu maior portabilidade.
Há diversas outras brigas de formatos na história da indústria de entretenimento. Em comum, apenas um fator: o consumidor sempre foi o mais prejudicado, pois em várias situações viu um alto investimento se perder. Nos anos 90, tivemos a introdução dos mini-discs (MD) da Sony contra o DCC (cassetes digitais) da Phillips. Hoje, ambos aposentados na prática -no Brasil, nem chegaram a se popularizar. Temos também o DVD-Audio contra o Super Audio-CD, além dos formatos diferentes para gravar DVD -o DVD+R e DVD-R, que hoje existem em “harmonia” e não chegaram a prejudicar tanto o bolso de quem investiu em gravadores.