MP3 Player: maravilhoso mundo portátil

Paulo Rebêlo
Revista Backstage – ed. outubro/2007
5.430 caracteres

Estamos cansados de ler sobre a tal ‘revolução’ causada por este formato de música digital tão fácil de manusear e arquivar no computador, o tal do MP3. E é engraçado como todo mês há uma nova revolução no pedaço. Seja blog, orkut, fotolog, internet sem fio, celular com filmadora e assim por diante. Mais engraçado ainda é notar como os deuses do capitalismo adoram o termo ‘revolução’ na hora de vender mais produtos, nem sempre devidamente testados e certificados. Freud não explica. Talvez o Lênin…

Revolução mesmo é o que a gente pode fazer de bom a partir de tecnologias atuais ou até mesmo antigas, mas que ainda não chegaram à massa da sociedade.

Diversos projetos colaborativos envolvendo MP3 e internet já foram relatados neste espaço, com destaque para o Re:Combo (agosto/2004), Eletronika (setembro/2004), Porto Musical (março/2005) e tantos outros aqui na coluna. Apesar da variedade de assuntos abordados, desde temas bem técnicos (agosto/2005, abril/2006, maio/2006, janeiro/fevereiro/2007) até crônicas de cotidiano (abril/2005), é preciso fazer um mea culpa e admitir uma grande e imperdoável falha: os MP3 Players, esses aparelhos portáteis, às vezes minúsculos, nos quais conseguimos carregar milhares de músicas no bolso da camisa.

Discografias inteiras a distância de um toque. É um tema até hoje ignorado por nós, por esquecimento ou falta de assuntos relacionados.

Esqueça o iPod. O portátil da Apple há muito deixou de ser um produto para se transformar em grife, em tendência, em status. A infinidade de opções disponíveis no mercado, além de oferecerem mais recursos do que o iPod, também podem ser mais bonitas, leves e menores. Infelizmente, nas lojas de informática é difícil achar o mar de modelos que existe lá fora, mas a internet é sempre uma excelente fonte de consulta – não apenas de preço, mas de peso e especificações técnicas – na hora de comprar o seu MP3 Player.

A pequena revolução (alô, Stálin) que é ter um micro-aparelho no bolso da camisa, aliada a também micro-fones de ouvido, muda o comportamento das pessoas de um jeito bem mais significativo do que indústria e comércio conseguem assimilar. É um prato cheio para psicólogos e outros ‘ólogos’ do etos dos jovens e adultos de hoje, tão plugados, tão conectados, cada vez mais anti-sociais e alheios ao mundo, um eufemismo educado para alienados.

Os MP3 Players são apenas a última e mais avançada milha para substituir os antigos walkmans. Porque hoje a gente pode escutar MP3 em qualquer lugar. Telefone celular toca MP3 como ringtone e até mesmo como walkman, palmtops/PDAs têm Windows Media Player embutido, o DVD antigo da sala já toca CD com MP3, agora o som da sala (microsystem) tem entrada USB para você plugar seu pen drive e escutar aquela discografia do Dire Straits que guardava com tanto carinho.

Um bom MP3 Player é como um canivete suíço de verdade. Não é a melhor opção para música de qualidade e nítida de um jeito específico, mas atende a uma série de necessidades de modo geral, sem fazer feio em nenhuma. Uma das maravilhas desses portáteis é servir como um pen drive convencional, para levar e transferir arquivos de qualquer formato (não apenas música!) e, de quebra, ainda deixar você escutar um jazz tradicional dentro do metrô, alheio à zoada.

Embora não seja seu forte, nenhum recurso é tão útil e interessante quanto a possibilidade de gravar voz no MP3 Player. Para jornalistas, psicólogos, estudantes, entre tantas outras profissões, não há coisa melhor. Ali naqueles 1Gb de espaço, você guarda suas discografias e ainda grava aulas, entrevistas, consultas e, até mesmo, diálogos engraçados no boteco da esquina para escrever depois. Melhor ainda, guarda idéias e rabiscos mentais enquanto está no trânsito infernal do centro da cidade ou enquanto espera na garagem por duas horas a esposa terminar de escolher o vestido para a festa.

E como vantagem pouca é bobagem, o que dizer do sintonizador FM? Quer dizer, além de um walkman microscópico e um gravador digno de James Bond, você aposenta seu radinho de pilha que mais parece um tijolo e se mantém atualizado sobre as maracutaias de Brasília pela CBN enquanto espera o ônibus. E pasme-se, consumindo menos bateria do que se estivesse ouvindo uma MP3… a qual teoricamente era o carro-chefe de sua compra, para começo de história. A rádio vai transmitir uma entrevista importante? Simples, use seu MP3 Player para gravar e, depois, transferir o arquivo para o computador.

Voltando aos deuses do consumo, é curioso notar como o recurso de sintonizar FM é simples e nem é novo, mas não existe no badalado iPod. Para usufruir de tamanha regalia, é preciso comprar (claro!) um acessório externo. Bem difícil de achar, aliás.

Como um iPod é só para quem pode, e eu não podo, tempos atrás aderi a um MP3 Player que parece uma versão reduzida do aparelho da Apple, uma espécie de iPod xingling idealizado em Taiwan, montado no Paraguai e vendido no Promocenter. Com o peso e espessura de um isqueiro, 1 Gb de espaço e minúsculos fones de ouvido, não levei muito tempo até perceber que MP3 é o que menos tinha na memória do meu iPobre.

Vasculhando no computador, encontrei entrevistas da CBN, idéias alucinadas, gravações para matérias e a bateria sendo consumida com muita, mas muita rádio FM. Ficou a dúvida: por que tenho um MP3 Player se não carrego MP3 no meio da rua? Bom, é porque ainda não acabaram com a Voz do Brasil. Naquela hora, o MP3 resolve.