Guia prático-pocotó de home theater

Paulo Rebêlo
Revista Backstage
março 2008

Com internet e computador cada vez mais populares nos centros urbanos, nunca foi tão fácil se equipar para ouvir um som de qualidade. Mesmo no escritório improvisado de casa ou no quartinho dos fundos, é possível instalar um home theater caseiro para seus filmes e músicas. No quesito filmes, as informações disponíveis na internet são variadas. Poucos atentam ao detalhe das músicas. Não adianta ter um super equipamento de som no computador se você vai ouvir MP3.

O diferencial de um equipamento de som mais aprimorado no PC é, justamente, poder oferecer o que uma MP3 comum não oferece. Mais qualidade em áudio e mais canais de saída, além de outros detalhes técnicos que o povo mais viciado em áudio vai adorar lhe explicar nas lojas ou nos centros especializados. O ponto-chave, então, é você saber que não adianta ter um super equipamento de som para ouvir MP3 em casa.

É aí entram os home theaters: as caixinhas de som que dão muito mais vida ao áudio. A dúvida é recorrente: qual a diferença entre tantos sistemas de áudio? E qual deles é o ideal? Há pouco tempo, além do kit com duas caixas convencionais, você tinha apenas uma opção para comprar o equipamento, geralmente o kit com cinco caixas. E era caro, bem caro. Hoje, o custo caiu bastante e até um leigo-pocotó feito este missivista consegue instalar e colocar para funcionar, sem precisar vender a mãe para comprar ou fazer crediário para quitar o débito em 124 prestações.

CANAIS – O básico é saber o que significam os números que acompanham o nome dos equipamentos. Por exemplo: 5.1, 6.1, 7.1, subwoofer. O primeiro número corresponde ao número de caixas acústicas que o sistema de áudio tem.

Por exemplo, um kit 2.1 tem duas caixas. O próximo número se refere ao subwoofer, uma caixa maior, pesada, que deve ficar no chão, a sua frente. Ele é responsável por dar um efeito mais sonoro aos graves. Assim, um kit 2.1 nada mais é do que duas caixas de som e um subwoofer. É o padrão para PCs e que atendem perfeitamente bem para escutar MP3 caseiras.

Outro ponto interessante de se observar é a disposição das caixas. No sistema 5.1, por exemplo, temos cinco caixas acústicas: duas traseiras, duas frontais e uma central. E o subwoofer. Este é o sistema mais conhecido e vendido ainda hoje e que originou a febre dos home theaters. A diferença do 5.1 para o 6.1 é simples: a adição de uma nova caixa traseira, em mono (as outras são em estéreo), chamada de Surround Back. Quer dizer, você terá uma caixa central, atrás de você, mirando a caixa central dianteira.

A mesma caixa adicional do 6.1 pode ser usada, também, para um segundo subwoofer, desta vez traseiro. O que vai diferenciar do sistema 7.1 é que, neste caso, as caixas traseiras são divididas em duas: surround back esquerdo e surround back direito. A idéia de instalar duas caixas acústicas do tipo surround back, em vez de apenas uma, é para aumentar a dispersão do som na parte traseira do ambiente. Para os entusiastas, a diferença é perceptível se o ambiente for favorável, mas para a maioria é bem difícil de perceber. Eu não percebo absolutamente nenhuma diferença mas, reaço, faço parte do grupo dos leigos-pocotós e não-viciados em áudio.

Muita gente desliga o subwoofer porque não gosta dos graves. Também faço parte deste grupo, mesmo reconhecendo que não é uma estratégia adequeada, segundo os especialistas do setor. O problema é que as caixas menores não têm capacidade física para reproduzir sons graves com precisão, além de ser desaconselhável fisicamente. É aí onde entra o papel do subwoofer, ao separar os graves e amplificá-los. Mas, se o ouvido é meu, fazer o quê?

FIAÇÃO –Antes de pensar em migrar para um sistema de áudio melhorado, você deve analisar o espaço e tamanho do seu quarto/escritório para ver se vale a pena. Leve em consideração não apenas o espaço, mas também a flexibilidade do ambiente para passar fios. Em DVDs convencionais, não existe áudio 7.1. Ou seja, se o seu objetivo principal é assistir filmes de locadora com som de última geração no PC, não vale a pena investir agora em um kit desse porte.

O áudio 7.1 é encontrado apenas em poucos jogos (mais recentes) e na próxima geração de DVDs, seja Blu-ray ou HD-DVD. Mas se o 7.1 é muito, isso não significa que duas caixas dão conta do recado. Isso seria subutilizar o potencial de áudio incluído nos DVDs. O melhor, nesse caso, é um kit básico 5.1 que já irá fazer uma grande diferença se o posicionamento for ajustado.

Na hora de comprar seu kit, há duas distinções básicas das caixas acústicas: analógica e digital. Como é previsível, a qualidade das caixas digitais é superior, enquanto as analógicas são bem mais baratas e têm maior facilidade para apresentar aqueles ruídos chatos na hora de aumentar e diminuir o volume. Um bom kit analógico não deixa nada a desejar a um digital, até porque a maioria dos home theaters atuais, usados domesticamente, ainda trabalha com caixas analógicas. Cuidado com as lojas: muitos vendedores não sabem identificar quando o kit é digital. É sempre bom ler bem as especificações ou pesquisar na Internet antes de fazer a compra.

Opção mais prática para os cinéfilos é procurar kits chamados de “home theater in a box”. Trata-se de um kit único que contém todos os módulos, caixas, reprodutores e cabos necessários. Os mais avançados ainda oferecem calibradores, com um pequeno microfone, para fazer o ajuste da reprodução de áudio. E há kits de “home theater in a box” cuja qualidade é tão boa quanto caixas acústicas especializadas.

Configurando –A disposição do equipamento é muito importante. Quando falamos em caixas acústicas traseiras (nos modelos 5.1, 6.1., 7.1), é comum achar que elas devem ficar atrás de você. Errado. São traseiras porque ficam na parte de trás de um “círculo de áudio”, chamado de “sweet spot”, que é o espaço para onde o som vai reverberar, mas não ficam atrás de você. O chamado “sweet spot” é o ponto perfeito onde a pessoa deve se situar. Ou seja, é o lugar onde você vai sentar para assistir seus filmes ou jogar. A partir daí é que as caixas devem ser posicionadas. Saiba mais sobre o posicionamento ideal no manual do seu equipamento. Ninguém lê manual, a gente sabe, mas tem coisa que só o manual consegue explicar.

A instalação do home theater é simples. Os kits vendidos nas lojas já especificam quais são as caixas dianteiras, traseiras e a central. A ligação dos fios também é simples, porque são coloridos e cada cor é específica para um local. Há uma “central de fios”, onde se ajusta o volume e, a partir dela, os outros fios saem para se conectar às caixas. O excesso de fios é a maior dificuldade para quem trabalha em ambientes pequenos e quer instalar um home theater. Lembre-se, os fios vão passar pelo lado esquerdo e direito do ambiente até as caixas de som. Assim, ou você prega o fio na parede ou corre o risco de alguém abrir a porta sem avisar (se for um quarto pequeno) e acabar com toda a festa.

Para garantir um home theater com som impecável, os mais empolgados por áudio devem prestar atenção na devida calibração do equipamento, configurando o volume e o atraso (delay, do inglês) do som em cada uma das caixas caixa. Você também pode conferir isso no manual. Caso não encontre, o Google existe também para isso. Se o seu quarto/escritório do PC for pequeno, não adianta perder tempo com ajustes avançados de calibração e atraso, porque física é física. Preste mais atenção no congestionamento de fios e nos suportes das caixas traseiras, que irão fazer bem mais diferença.
Se der tudo errado, volte para o radinho de pilha. Não tem fios e até hoje ninguém nunca reclamou.

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