Festa mineira e MP3card

Paulo Rebêlo
Revista Backstage
setembro 2004

Diz o ditado que a necessidade faz o homem. Logo, não deve surpreender muito a descoberta de tantas iniciativas e projetos interessantes a envolver música, internet e novas tecnologias digitais. Porque não é preciso ir longe para perceber a aguda crise por qual passa a indústria fonográfica. E por mais que analistas, imprensa e profissionais falem sobre o assunto, há anos, são raríssimos os setores dessa indústria que abrem os olhos para novos projetos, para rever conceitos retrógrados e mudar um tipo de abordagem predatória que há tanto perdura.

E geralmente funciona assim mesmo. Tempos bicudos são excelentes para grandes novidades. Na coluna anterior, citamos alguns exemplos de destaque no Brasil – evidentemente que não todos. A fim de aproveitar uma pequena coincidência de linha do tempo, hoje vale a pena conhecer um pouco o Eletronika – Festival de Novas Tendências Musicais, realizado durante o mês de agosto em Belo Horizonte.

A primeira edição do festival ocorreu em dezembro de 1999, proporcionando uma ampla amostragem da música eletrônica contemporânea. De acordo com os organizadores, foram mais de 40 horas de evento e presença de 60 artistas de quatro países, com total de três mil pessoas.

A segunda edição ocorreu apenas em abril de 2001, com novo formato e conceito diferenciado, buscando entender inter-relações entre elementos da música popular brasileira (ritmo, melodia e harmonia) e da música eletrônica internacional. Em 2002 foi a vez do terceiro festival, agora com debates, workshops, mostra de vídeoclipes, arte multimídia etc. Ano passado foi a quarta edição e, agora em agosto, a quinta. Não pudemos participar do Eletronika, mas quem estiver interessado já pode conferir a comunidade do festival no Orkut, esta nova febre do momento.

Pelas discussões apresentadas na comunidade, o Eletronika foi acometido por um revés bem comuns a projetos independentes ou alternativos: a falta de divulgação ou marketing precária. Os mineiros não conseguiram encontrar muitas propagandas ou informes no rádio ou televisão, por exemplo. De qualquer forma, parece que o público marcou presença e já deixaram muitas sugestões e dicas para um próximo evento.

O leitor Daniel Werneck (Danelectro), integrante do projeto colaborativo Re:combo (abordado na coluna anterior!) esteve presente e nos fala um pouco sobre as impressões. Ele ficou meio de pé atrás porque achou a organização do festival fazendo tudo às pressas. Motivo o qual, talvez, explique a redução do público este ano. Dividiram a programação em dois locais diferentes, a Casa do Conde e o Marista Hall. Danelectro achou que isso poderia deixar um certo clima de “aqui fica o pessoal das doideiras e ali o pessoal legal que toca as músicas que o povo gosta. Só que não aconteceu, a Casa do Conde lotou e o pessoal curtiu”.

Danelectro continua: “como há males que vêm para o bem, o fato de o festival não trazer muitas atrações de fora permitiu que muitas bandas e projetos brasileiros pudessem mostrar seu trabalho e se encontrar no festival, o que foi muito bom para todo mundo. Sobre o show do Re:Combo, é quando posso falar com alguma propriedade.

Apesar do nervosismo da estréia da equipe recômbica que fez o show, parece que o público gostou. Não foi exatamente um Rolling Stones, mas todo mundo ficou prestando atenção até o fim. Nosso medo era provocar estranhamento que afastasse o público para o outro galpão ou para fora do local e, assim, atrapalhasse o show do Mombojó – mas ocorreu o contrário, a lotação do galpão dobrou. Ficamos todos no cantinho atrás do PA, deixando o palco vazio. Em três telões os VJs projetavam as imagens e o público ficou prestando mais atenção nos vídeos do que nas pessoas do palco. A rádio Re:Combo virou TV Re:Combo. Fora os problemas técnicos de sempre, o grupo conseguiu sobreviver, tocou umas três músicas de autoria nova, breve disponíveis no site www.recombo.art.br.

MP3 CARD – Ninguém sabe ao certo como vai funcionar, mas o jornalista e empresário musical Eduardo Sona começa a divulgar um aparato para controlar os downloads de músicas, vídeos e outros serviços pela internet, autorizados legalmente. De acordo com ele, seria a um preço razoável e o artista também ganha.

Em nota distribuída à imprensa, o empresário garante que em julho de 2000 patenteou no INPI um modelo de sistema de acesso, baseado em cartão pré-pago, que estará à venda em vários estabelecimentos comerciais do país – casas lotéricas, correios, bancas de jornal. A idéia é dar direito ao usuário de internet baixar músicas por um custo final razoável, menor que o de um CD vendido nas lojas, no qual o artista terá o seu ganho em valor maior do que o que recebe normalmente das gravadoras. “Me preocupo com essa história de baixar músicas indiscriminadamente porque cada composição é a maneira de vários artistas sobreviverem e vejo que essa preocupação não é só minha, já que há vários selos e artistas estão interessados na idéia”, explica Sona.

Uma das possíveis vantagens do MP3Card para os artistas que se associarem pode estar no acesso ao controle de venda, efetuada sobre o número de músicas que foi baixada. “Cada artista participante terá uma senha exclusiva e acesso ao volume de downloads realizados em suas músicas”, comenta Eduardo.

O valor de cada cartão será definido junto com o artista que aderir, assim como a quantidade de músicas disponíveis para download. Segundo Sona, cada cartão deverá custar de R$ 4 a R$ 10 e dará direito a um número variado de canções, dependendo do artista. Outra novidade prometida é um sistema de fidelidade e bonificação. “O consumidor compra músicas de uma banda e entra como convidado especial (VIP) nos shows, por exemplo”, revela. “É um sistema para valorizar os artistas”. Segundo o empresário, o sistema de compras por cartão de crédito ainda está em estudo e deve ser implementado em uma segunda etapa.

O Mp3card deve ser lançado em meados de setembro na cidade de São Paulo e no interior do Estado. Agora resta aguardar para ver como será o serviço, se funcionará, se os artistas vão gostar e, principalmente, se cairá no gosto dos usuários e consumidores de música pela internet.

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