A Falácia do Prejuízo

Paulo Rebêlo
Revista Backstage
junho 2005

Todo mês, às vezes em intervalos menores, nos chegam matérias e anunciados sobre o “relevante” prejuízo que a Internet e a venda dos CDs genéricos (nas barraquinhas de rua) vêm causando à indústria fonográfica. Evidentemente (para eles), se a indústria fonográfica fica no prejuízo, toda a economia brasileira também sofre e muita gente perde o emprego.

Levando em consideração que os engravatados da indústria já conseguem emplacar, na mídia impressa e televisiva, a ligação entre pirataria de CDs e o tráfico de drogas (!), não se assuste caso, daqui a pouco, comecem a nos dizer que o download de música pela Internet também é responsável pelo gritante número de criancinhas nas ruas e o excessivo contingente de delinqüentes juvenis nas cidades.

O que a indústria não gosta de revelar, contudo, é que enquanto a venda de CDs diminuiu nos últimos anos, a comercialização de DVDs de áudio cresceu em um ritmo tão espantoso que nem os engravatados acreditam. Se o DVD contém música, as benesses para a indústria fonográfica são as mesmas, só que com lucros maiores. Isso ninguém fala.

De acordo com dados do próprio mercado, enquanto a vendagem de CDs caiu em cerca de 45% nos últimos cinco anos, neste mesmo período a venda de DVDs musicais cresceu 1.340%. Não, você não leu errado, é mil trezentos e quarenta por cento. Falaremos mais sobre este assunto na próxima coluna.

O apocalipse das previsões: rir é o melhor remédio

Boa parte da mídia adora dar crédito às especulações fantásticas e futuristas de certos analistas da indústria (ou de releases) sobre tecnologias que vão despontar em 2010, 2015 e assim sucessivamente. Em uma época na qual a Internet tornou-se fonte primária de informações para vários setores da imprensa, nunca foi tão fácil fazer previsões – e escrever sobre elas – bradando aos quatro ventos várias super-mega-ultra-hiper novidades. Afinal, daqui a uma semana ninguém vai lembrar mais. Quiçá em 2010?

Enquanto parte dos analistas especulam sobre um apocalíptico “fim do CD” ou uma gloriosa “nova geração de DVD” e fazem análises de Nostradamus sobre novos formatos que só existem na prancheta dos engenheiros e nos laboratórios de testes, na vida real o mercado está rindo à toa com toda essas baboseiras, digo, previsões. O mercado editorial ri, porque os livros proféticos vendem bem e os jornais ajudam um bocado; e o fonográfico, então, nem consegue falar – de tanto rir.

Nos Estados Unidos, há meses que as lojas já começaram a vender o chamado DualDisc, um disco de camada dupla que reúne as funções de CD e DVD ao mesmo tempo. A abordagem da empreitada é semelhante às antigas fitas K7. De um lado, o consumidor escuta um CD de áudio convencional, em qualquer aparelho comum da sala, quarto, carro etc. E se virar o disco, vai poder assistir ao conteúdo em um DVD-Player ou pelo computador. O preço? O mesmo de um CD de música, acrescido de um ou dois dólares.

O processo é bem simples de entender. Quando você vai alugar um filme na locadora, é comum receber um DVD contendo dois lados contendo dados. De um lado, o filme está em formato original (widescreen, 16:9) e, do outro, o formato 4:3 usado pela televisão quadrada. Com o DualDisc, o processo é o mesmo. Só que em vez de a segunda camada armazenar dados de filmes em Mpeg2 (formato DVD), agora armazena áudio em CD.

A iniciativa tem sido vista com bons olhos pela indústria fonográfica, pois, eles acreditam, pode conter um pouco a pirataria musical. Afinal de contas, na prática o consumidor terá um motivo a mais para pagar o valor daquele CD que antes não queria pagar. Em vez de comprar pacotes promocionais com um disco em CD e outro em DVD, é mais barato levar tudo em apenas uma mídia. O custo de produção também é menor.

A popularização do DualDisc depende agora das gravadoras (escala produtiva), que logicamente irão se basear na receptividade dos consumidores. O disco solo de Rob Thomas, vocalista da banda Matchbox 20s, foi um dos primeiros a ser lançado no formato novo. No caso de Thomas, o lado “B” do disco inclui o mesmo álbum contido no lado “A”, porém, com as músicas mixadas em som surround, ideal para aparelhos de home theather ou computadores com ambientes 5.1 ou 7.1 de áudio. Os extras ainda incluem 20 minutos de vídeo (footage).

Selos e gravadoras já compraram a idéia, a começar pela Sony BMG Music. As especificações técnicas do DualDisc existem desde o ano passado, mas somente agora, em 2005, as gravadoras resolveram investir na produção, lançando oficialmente no mercado. Hoje, álbuns de artistas mais vendidos já estão à venda no formato DualDisc e, ao menos por enquanto, tem sido dito que não há controle proprietário sobre a tecnologia e o logotipo. É tudo licenciado pela Associação das Gravadoras Americanas (sim, ela mesmo, a RIAA). Outros álbuns recentes, disponíveis em DualDisc, são “O” de Omarion; e “Rebirth” de Jennifer Lopez, além do novo de Bruce Springsteen, “Devil & Dust”.

Não há previsão quando o CD+DVD chegará ao Brasil e não se assuste caso os representantes daqui não façam a menor idéia do que seja isso.

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