Dez anos de MP3

Paulo Rebêlo
Revista Backstage
agosto 2005

Em julho, o formato MP3 completou dez anos. É bastante tempo. A data é marcante, mas pegou todo mundo de surpresa. Ninguém viu um especial comemorativo, nem aqui no Brasil e nem na imprensa mundial, sobre os fatos que marcaram a trajetória de uma tecnologia que fez todo mundo rever conceitos e revolucionou o jeito de escutar e guardar música. O MP3 saiu do computador para chegar a todo lugar: sala, carro, sistemas de som, música ambiente, jogos de PC e videogame, apresentações multimídia e assim por diante.

Fato é que o aniversário do MP3 passou em branco, ao menos até o fechamento desta coluna, no dia 14 de julho. A imprensa dita especializada esqueceu; os jornais e cadernos de informática, idem. No Brasil, quem lembrou de véspera foi um veículo de comunicação que parecia estar menos interessado: a Agência Fapesp, dedicada à ciência, pesquisa e tecnologia, geralmente com matérias mais técnicas voltadas ao leitor ávido por novas descobertas científicas e pesquisas. Na ocasião, já não dava mais tempo de ninguém preparar um especial com linha do tempo, acontecimentos marcantes e polêmicas sobre o MP3. É até possível que hoje, ao ler isto aqui, já tenha várias reportagens sobre a década que passou na vida do MP3.

Em 14 de julho de 1995, nascia o embrião do MP3 na Alemanha, desenvolvido por pesquisadores do Instituto Fraunhofer. Tratava-se de uma nova tecnologia de codificação e compressão de áudio, extremamente avançada para a época, para compactar música e armazená-la em formato digital e sem perder qualidade. Como muitos sabem, MP3 é apenas a sigla de MPEG Audio Layer 3. Na verdade, é a sigla da sigla, porque MPEG já é uma abreviação para Moving Picture Experts Group, também um padrão de codificação/compressão, usado em áudio e vídeo. O “3” significa que existe uma terceira camada (layer) de compressão no áudio.

PARA ENTENDER MELHOR –

Arquivos MPEG (.mpg) de vídeo são comuns, possuem apenas uma camada de compressão, cuja qualidade não costuma ser das melhores. O primeiro MPEG foi lançado em 1992 e a qualidade é similar ao do VHS, apesar de ser perceptivelmente inferior hoje em dia com os vídeos que circulam na Internet nesse formato, de propósito, para economizar espaço. A resolução é limitada a 352 x 288 de vídeo e 48 kHz de áudio, mas em geral se encontra arquivos com resoluções inferiores.

Com o tempo, conseguiram criar uma segunda camada e daí surgiu o MPEG2 que é, justamente, o formato de vídeo usados em todos os DVDs comerciais. Ou seja, aquele filme com qualidade bem bacana está codificado em MPEG2. Apesar da boa qualidade, a compressão não é das melhores. Hoje, os vídeos em DivX, formato bem popular na Internet para filmes, usam a compressão MPEG4, com quatro camadas – o resultado é um vídeo tão limpo quanto o MPEG2, porém, com uma compressão bem maior, ocupando menos espaço.

O mesmo vale para áudio. Não é comum, mas quem procurar pode achar arquivos no formato MP4, que nada mais é do que o MP3 mais comprimido. A diferença não é grande coisa e, para escutar, é preciso de um player com suporte ao MP4. Devido à popularidade do MP3 em várias esferas e ambientes (sala, quarto etc.), o mercado viu que não valia a pena investir em um formato MP4. Mesmo assim, hoje em dia há uma série de padrões de áudio mais avançados do que o MP3, como é o caso do Windows Media Audio (WMA 8, 9 e 10) que conseguem ter uma qualidade de áudio superior em arquivos de tamanho menor. A questão é que o WMA é da Microsoft, formato proprietário, que só funciona em ambiente Windows e não tem metade da popularidade comercial do MP3.

Para criar o MP3, os engenheiros alemães levaram três anos, com uma equipe de 40 pessoas participando do projeto. Ano passado, somente na Alemanha, foram vendidos mais de três milhões de aparelhos domésticos para reproduzir som MP3 fora do computador. A estimativa para 2006? Nada menos que 80 milhões. Eis aí a prova de que dez anos é muito tempo, sim, mas são “apenas” dez anos na vida deste formato tão amado e odiado. Agora que está chegando na pré-adolescência.